Sistema financeiro é peça-chave para economia mais sustentável
Reduzir desigualdades e melhorar o padrão de vida, ao mesmo tempo em que se respeita os limites ecológicos, é a abordagem de desenvolvimento que ganha cada vez mais espaço e demanda uma agenda ampla e complexa, que trata de desafios econômicos, sociais e ambientais.
Apesar de nem sempre lembrado no debate, o sistema financeiro é peça-chave, pois a transição para uma economia mais sustentável vai mobilizar volume considerável de recursos e gestão de riscos. E isso significa oportunidades para empreendedores e financiadores.
Mas é preciso observar também que o setor financeiro é fundamental para a estabilidade monetária e carrega o potencial de gerar crises sistêmicas. Portanto, a mobilização de fundos para o desenvolvimento sustentável precisa conviver com os conceitos de prudência e resiliência que orientam a tomada de decisão dos agentes do setor e de seus reguladores.
Para quem acha que existe aí um conflito de escolha, é bom saber que bancos centrais de diversos países como Inglaterra, China e Bangladesh, para citar alguns, têm indicado uma convergência entre alocação de investimento e sustentabilidade e vêm considerando aspectos socioambientais como fontes de risco a serem reguladas.
O BC (Banco Central) faz eco a esse movimento e vem regulando a atuação das organizações do SFN (Sistema Financeiro Nacional) quanto ao tema. De 2008 a meados de 2011 estiveram em foco orientações para aspectos socioambientais voltadas a atividades de crédito.
De 2010 a 2014, o BC passou a regular as atividades bancárias do ponto de vista socioambiental incluindo a avaliação e o cálculo de reservas de capital e a implantação da política de responsabilidade socioambiental pelas instituições do SFN.
E essa não é uma iniciativa unilateral. Existe um movimento semelhante no campo da autorregulação e um bom exemplo disso é a agenda do Sistema Financeiro Nacional em sustentabilidade. Em 2014, essa agenda resultou no lançamento do programa de autorregulação da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para o desenvolvimento e a implementação de política de responsabilidade socioambiental dos associados à entidade.
No panorama internacional também proliferam iniciativas, como o esforço do Unep (da sigla em inglês, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) para definir as “regras do jogo” do sistema financeiro: normas, políticas, regulações, incentivos e padrões, e como estas podem contribuir na ampliação de recursos financeiros para o desenvolvimento sustentável.
E qual a contribuição do Brasil para essa iniciativa? Um mapeamento do cenário brasileiro feito pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP revela que instituições responsáveis por 80% do volume de crédito concedido pelo SFN alocaram R$ 116,6 bilhões na chamada economia verde, em 2013. Montante dividido entre produtos temáticos para empréstimos e financiamentos ligados a setores da economia verde. Já os ativos sob gestão (assets under management) de fundos de investimentos temáticos ligados à economia verde, somaram R$ 1,5 bilhão.
Esse levantamento será submetido pela Febraban à Unep, junto com uma proposta de metodologia, recomendações para o avanço desse tema no Brasil e nas discussões internacionais ligadas ao setor financeiro, e ainda um quadro institucional e regulatório do país envolvendo sistema financeiro e sustentabilidade.
Mas essas contribuições devem ser analisadas junto a dilemas do desenvolvimento do país. Por exemplo, como alguns desafios brasileiros do agronegócio, das energias renováveis, da biodiversidade e das cidades podem levar a maior ou menor interesse por parte do setor financeiro em canalizar recursos para o avanço de uma agenda sustentável?
Portanto, analisar profundamente a conexão entre o setor financeiro e o desenvolvimento sustentável, no contexto de uma iniciativa internacional, é mais do que um esforço pioneiro, representa um passo importante do Brasil para lidar com um desafio do século 21.
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