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Transgênicos não são risco para consumidor ou para meio ambiente

Especial para o UOL

06/05/2015 06h00

Desde que o mundo é mundo é natural que uma nova tecnologia seja vista com receio pela sociedade e combatida pelos céticos ou mal informados.

Em 1904, por exemplo, aconteceu no Rio de Janeiro a Revolta da Vacina. A manifestação popular teve como causa principal a obrigatoriedade da vacinação associada ao uso de métodos violentos para a realização de tal procedimento, gerando medo e incredulidade na população quanto às propriedades científicas da vacina contra a terrível varíola.

Naquele mesmo ano, o jornal carioca A Gazeta de Notícias noticiou “Tiros, brigas, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatória proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz”

Outra celeuma significativa se deu em função do surgimento da fertilização in vitro na década de 1970. O procedimento foi referenciado na época como uma transgressão às leis naturais. Entretanto, após algumas décadas, essa tecnologia permitiu o nascimento de cerca de cinco milhões de bebês, segundo informações da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.

Embora levado à mesa de milhões de pessoas há mais de vinte anos, o alimento produzido a partir de grãos transgênicos ainda é visto por alguns consumidores como algo inapropriado, que pode causar malefícios à saúde e uma ameaça ao meio ambiente. Aqui vale ressaltar que a domesticação (melhoramento) das plantas começou na pré-história e não parou mais.

Em outras palavras, nossa dieta é composta por plantas que foram selecionadas e geneticamente melhoradas num longo e contínuo processo. Nesse sentido, a moderna engenharia genética e a técnica da transgenia são ferramentas desse processo.

Como consumidores devemos muito ao domínio e evolução da agricultura que possibilitou o melhoramento ininterrupto das plantas, adequando-as às demandas. Do contrário não teríamos chances de sobrevivência. 

Já faz muito tempo que não comemos mais as plantas do jardim do éden. Então qual a diferença entre a agricultura na pré-história e a agricultura moderna? Hoje, a engenharia genética permite que as plantas sejam melhoradas. No jargão científico significa transformada pelo uso de métodos precisos que conseguem, por exemplo, inserir um ou mais genes na espécie agrícola de interesse.

A agricultura moderna tem um desafio colossal. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) até 2050 será necessário aumentar em 60% a produção de alimentos. A engenharia genética e a biotecnologia vegetal colocam-se entre as principais ferramentas tecnológicas que ajudarão os agricultores nessa jornada.

Um exemplo evidente é o das plantas resistentes a temperaturas mais elevadas ou à seca, que já estão nos laboratórios e irão contribuir de maneira significativa para minimizar os possíveis impactos gerados pelas mudanças climáticas.

Há de se levar em consideração que as principais academias de ciências do mundo e instituições como a FAO e a OMS (Organização Mundial da Saúde) se preocupam com a segurança alimentar do que é produzidos a partir de plantas transgênicas e fazem análises constantes de dados científicos. As conclusões são unânimes: as plantas transgênicas aprovadas são equivalentes às convencionais. Portanto, não representam risco para o consumidor ou para o meio ambiente.

Muitos ignoram o fato de que os OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) são regulados por legislações específicas e que a análise de risco é feita caso a caso, ou seja, cada produto é examinado separadamente.

No Brasil a regulação é de responsabilidade da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), composta por especialistas de diversas áreas do conhecimento científico, que avaliam estudos sobre a segurança dos OGMs e recomenda ou não sua aprovação comercial. Nosso marco regulatório, reconhecido mundialmente, segue os princípios de equivalência nutricional e é relativamente funcional. Contudo, há uma sobrecarga de procedimentos burocráticos.

O Brasil deveria ser um dos protagonistas nas discussões internacionais sobre os processos de aprovação de transgênicos, já que estamos entre os maiores produtores de alimentos. Com isso, teríamos mais chances de evitar os entraves internacionais que dificultam ou impedem as exportações dos grãos produzidos em terras brasileiras.

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