Topo

Visão elitista de Haddad restringe lazer ao centro

Especial para o UOL

02/07/2015 06h00

O fechamento da Avenida Paulista para carros neste domingo, dia de inauguração da ciclovia de 2,5 km, foi uma experiência interessante, mas com várias restrições que precisam ser bem analisadas antes de a medida se tornar definitiva, como pretende o atual prefeito.

São Paulo precisa de mais espaços para lazer e atividade física. A avenida Paulista, por ser uma via plana, bem servida de transporte público e com alternativas viárias, pode ser uma opção interessante, assim como são outros locais próximos como os parques Buenos Aires e o Ibirapuera.

Na última década, a avenida já se tornou um ponto de prática de esporte aos finais de semana, graças a duas iniciativas: a reforma das calçadas e a criação da ciclofaixa de lazer. Ambas as medidas foram tomadas nas gestões de José Serra e Gilberto Kassab. A revitalização da avenida Paulista, que ficou totalmente acessível, foi um dos grandes projetos de que cuidei quando estive à frente da secretaria municipal das Subprefeituras.

O fechamento de parte da Paulista aos domingos, se os estudos comprovarem sua viabilidade, pode ser uma possibilidade. Mais importante, porém, é a periferia da cidade, onde há gigantesca carência de áreas de esporte e lazer. A demanda aumenta em uma sociedade cada vez mais preocupada com os males do sedentarismo e os benefícios da atividade física.

No caso da Paulista, também há uma questão séria a ser levada em conta: é a principal via de acesso para uma dezena de hospitais e centros de saúde localizados na região. Como fica um paciente que precisa sair do Paraíso para chegar ao Hospital das Clínicas com a Paulista interditada e suas vias paralelas congestionadas, como foi visto no último domingo?

O lazer é importante, mas não pode falar mais alto do que o acesso a hospitais. A prefeitura deve prever isso em seus estudos e manter uma alternativa para o tráfego de ambulâncias e carros com pacientes.

Em outras grandes cidades, vias importantes já são reservadas a práticas esportivas nos finais de semana, como a orla do Rio de Janeiro e o Eixão de Brasília. Mas não integralmente. Nos dois casos, há parte das vias aberta para emergências.

Claro que, sendo o primeiro dia de funcionamento com o fechamento para carros, houve algumas questões que atrapalharam um pouco, como a falta de divisão entre os pedestres e os que estavam em veículos de rodas como bicicleta, patins ou skate. Mas com o tempo e a ocupação saudável, os próprios usuários irão naturalmente contribuir para a organização a avenida.

Também é necessário regular o comércio ambulante na avenida. Se às noites da semana os camelôs ilegais já ocupam as calçadas, ontem eles tomaram as ruas, vendendo bebidas e outros produtos sem nenhuma fiscalização.     

Estas discussões são uma boa oportunidade para definir um plano de recuperação de nossas calçadas. As da Paulista ainda estão conservadas, graças à reforma já citada. Mas outras vias da cidade estão um caos.

Essa saudável onda de prática esportiva evidencia que a prefeitura precisa cuidar dos parques e praças da cidade, que estão abandonados na atual administração, sobretudo os que estão fora do centro expandido.

Acredito que, da mesma forma e com a mesma insistência que se fala na Paulista e até no Minhocão, é preciso pensar no uso e na melhoria de espaços públicos nas diversas subprefeituras da cidade, principalmente na periferia, onde não há nenhuma opção de lazer ou esporte para crianças, jovens, adultos ou idosos.

Tenho uma visão mais ampla e menos elitista sobre a cidade do que o atual prefeito de São Paulo, que restringe poucas ações à região central. O centro expandido já é razoavelmente suprido de infraestrutura. É preciso estender ações para as prioridades da periferia que, em termos de infraestrutura e lazer, está na estaca zero.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br