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Com remédios à disposição, jovens não temem Aids

Especial para o UOL

10/07/2015 06h00

Em meados de 2014, nós do Gapa (Grupo de Apoio à Prevenção da Aids) fizemos uma consulta pela noite paulistana após verificarmos o surgimento de novos casos de jovens infectados com o vírus HIV.

Passamos pelo Largo do Arouche, pela Praça da República, pelas ruas Vieira de Carvalho e Bento Freitas, e outras adjacências do centro de são Paulo, para sabermos a quantas andava o conhecimento dos jovens (de 15 a 39 anos) em relação à Aids.

Ao final da conversa, constatamos que praticamente todos os jovens entrevistados não têm a menor preocupação com o vírus e tampouco buscam maneiras de se prevenir. Eles alegam que o governo fornece remédios (coquetel de antirretrovirais) de forma gratuita.

Durante a "consulta", falamos sobre os efeitos danosos de uma infecção pelo vírus HIV, enfatizando que, até o presente momento, não há cura nem vacina para Aids. Mas com o coquetel à disposição, não faz sentido para esses jovens “chupar bala com papel”, ou seja, fazer sexo com camisinha.

As estatísticas de pessoas entre 20 e 23 anos que manifestam a doença só aumentam a cada dia. Com uma conta básica é possível concluirmos que essas pessoas foram expostas ao vírus há pelo menos cinco anos, o que agrava ainda mais o cenário.

Quem trabalha diariamente com a doença sente falta de uma política mais contundente, que contenha informação sobre os meios e formas de infecção do vírus HIV para a população jovem, que nunca viu a “cara de alguém com Aids”, como acontecia nas décadas de 1980 e 1990.

Hoje, a falta de preocupação dos jovens com relação ao HIV se dá pela publicidade de que o governo distribui gratuitamente medicamentos para quem é portador. A política pública do governo é verdadeira, mas não justifica a falta de cuidado.

Não falamos para os jovens como é conviver com a Aids, uma doença que te deixa vulnerável a várias outras doenças oportunistas como febre, diarreia, candidíase, pneumonia etc.

Independente de remédios, Aids não tem cura e, portanto, é sempre primordial evitá-la fazendo uso de preservativos, praticando sexo seguro e não se expondo a situações de risco.

Segundo relatório da Unaids (programa das Nações Unidas sobre Aids), 1,6 milhão de pessoas vive com HIV na América Latina. Os dados esclarecem ainda que a maioria dos casos (75%) se concentra em cinco países: Argentina, Brasil, Colômbia, México e Venezuela.

A América Latina registrou queda de 3% em novas infecções entre 2005 e 2013, mas os índices variam de país para país. O México, por exemplo, registrou queda de 39% e o Peru, de 26%.

O cálculo é que, na região, dez novas infecções por HIV são registradas a cada hora. Os grupos particularmente vulneráveis a novas infecções e que representam uma parcela significativa de soropositivos incluem transgêneros, homens gays, homens que fazem sexo com homens, homens e mulheres que atuam como profissionais do sexo e seus clientes e usuários de drogas.

O relatório da Unaids informa que a maior cobertura encontra-se na América do Sul, onde vários medicamentos são dados de forma gratuita aos portadores do vírus HIV, de acordo com prescrição médica.

A cada dia surgem novos medicamentos. Agora, fala-se muito em PEP (Profilaxia Pós-Exposição), um meio de prevenção da infecção do vírus HIV que usa remédios que fazem parte do coquetel utilizado para tratar as pessoas com Aids.

Esses medicamentos precisam ser tomados durante 28 dias, sem interrupção e com orientação médica, para impedir a infecção pelo vírus HIV e seguem o mesmo padrão de uma "pílula do dia seguinte".

Podemos dizer que essa fórmula é usada com sucesso em casos específicos, como acidente do trabalho, objetos cortante contaminados, violência sexual, mas não deve ser usado sem critério.

Apesar dos efeitos positivos da PEP, pouco se sabe ainda sobre seus efeitos colaterais. É importante também destacar que essa profilaxia também não protege contra outras doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis e a gonorreia.

Ainda devemos observar que o uso indiscriminado da PEP pode levar à seleção de vírus mais resistentes, dificultando tratamento futuro e nos colocando mais distantes de uma possível cura.

Sendo assim, o uso da profilaxia pós-exposição deve ser precedido de uma campanha nacional que não só explique os prós e contras do PEP e a necessidade de seu uso responsável, mas que também alerte e conscientize os jovens sobre os riscos da Aids, suas formas de transmissão e de prevenção.

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