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Desafio da 'internet das coisas' é impedir quebra de privacidade

Especial para o UOL

18/07/2015 06h00

Todos nós sabemos que cada ação realizada no mundo digital gera um log (um registro) que será coletado, analisado e usado para construir o perfil de cada usuário.

Na era do fim da privacidade, faz parte do jogo reconhecer que cada acesso a um portal web, cada transação no internet banking, cada e-mail ou mensagem trocada no whatsapp será mapeado, interpretado e empregado para que um governo, uma corporação ou um hacker tenha poder sobre uma determinada pessoa, empresa ou país.

O que não está tão claro é o quanto a chegada da Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês) está ampliando essa vulnerabilidade. Agora, não se trata mais de rastrear ações virtuais e explorar isso da forma mais vantajosa. Com o IoT, torna-se possível fazer a leitura dos gestos mais íntimos, mais privados de uma pessoa.

Sensores integrados ao carro, ao portão da casa, à geladeira, ao fogão, aos equipamentos de iluminação fazem com que dispositivos antes “burros” passem a se conectar entre si e a serem acionados de forma automática ou remota.

O dono dessa casa poderá atuar sobre a programação IoT acionando aplicativos que rodam no smartphone ou na nuvem. Como garantir, porém, que somente o dono da casa tenha acesso aos dados desse ambiente totalmente monitorado? No momento atual, isso é um desafio. O resultado disso é a quebra da privacidade.

Sensores de luzes domésticas que forem lidos por hackers podem informar dados íntimos da vida das pessoas que vivem naquela casa. Informações como com que frequência um quarto é ocupado, os horários em que há gente em casa e quando casa está vazia.

Sensores de temperatura podem criar um idêntico mapeamento da vida pessoal ao informar o horário em que uma pessoa costuma tomar banho. Equipamentos de entretenimento como home theater podem ser ligados remotamente para gravar, em vídeo ou em voz, cenas vividas dentro de casa.

Claro que o IoT chegou para ficar e irá atingir seu potencial. Um relatório da empresa de consultoria Gartner indica que, até 2020, haverá cerca de 26 bilhões de dispositivos IoT em ação no mundo.

Isso produzirá uma riqueza na ordem de 300 bilhões de dólares e mais que isso: o IoT pode tornar a vida das pessoas mais racional, mais confortável e melhor. A questão que falta ser equacionada é projetar, construir e implementar dispositivos IoT sem portas abertas ao inimigo.

A própria natureza desses dispositivos os torna vulneráveis. Os dispositivos IoT não contam com os recursos de segurança dos equipamentos tradicionais de TI (servidores, roteadores etc.). O DNA dos atuais dispositivos IoT está ligado a dois fatores críticos: é essencial garantir um custo competitivo e baixo para produtos que são, afinal, para o mercado de massa. Não há como ganhar escala e atingir mercados globais sem isso.

O segundo fator está ligado ao primeiro: no mercado de massa o ritmo de desenvolvimento e lançamento de novos produtos é muito acelerado. Então, vê-se hoje um incremento no lançamento de novos dispositivos IoT sem que esses produtos possam apresentar as necessárias credenciais de segurança e privacidade, as credenciais que irão garantir que o IoT cumprirá sua missão de melhorar a vida das pessoas, e não tornar essas vidas mais vulneráveis.

Testes realizados pela HP encontraram, em média, 25 vulnerabilidades em cada dispositivo IoT examinado. O experimento indicou que os dispositivos IoT examinados apresentaram ameaças como o heartbleed (vazamento de dados do usuário), vulnerabilidade a ataques e grandes falhas nos processos de autorização de acesso, encriptação e construção de interfaces.

Apesar disso, vejo grandes oportunidades com o IoT. Casas conectadas irão ajudar pessoas e países a economizar energia e água. Pessoas idosas poderão viver mais tempo em suas próprias casas, e não internadas em instituições hospitalares ou abrigos, graças às avançadas soluções de telemedicina. Carros conectados saberão se o motorista está dirigindo de forma cuidadosa ou não e poderão reagir a isso, em modo de segurança.

Nesse momento fornecedores de produtos IoT reunidos em fóruns ou atuando de forma individual estão lutando para aumentar a segurança e a privacidade desses dispositivos. Legisladores de vários países estão debruçados sobre a questão, estudando leis que possam proteger a vida íntima do indivíduo.

Fornecedores de soluções de segurança e privacidade estão se preparando para lançar luzes sobre essa questão, colaborando para criar um caminho seguro para a adoção do IoT. O importante é compreender que, onde há uma nova tecnologia, há novas vulnerabilidades. E ficar atento a como resolver esta questão. 

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