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Medidas drásticas de Haddad não vão transformar SP em Nova York

Especial para o UOL

21/08/2015 06h00

Violência, insegurança, mobilidade urbana falha, ruas esburacadas, calçadas quebradas, poluição, albergues a céu aberto, falta de iluminação. Se fosse para elencar cada desafio a ser enfrentado pela prefeitura de São Paulo, o espaço de um único artigo não seria suficiente.

Diante de tudo isso, a administração municipal se preocupa em fazer alterações drásticas na cidade, com medidas que afetam as atividades econômicas e a vida da população. Os exemplos mais gritantes são a implantação das ciclovias e a redução da velocidade nas marginais, somando-se à intenção, já anunciada, de ampliar para toda a cidade as novas velocidades.

Tudo isso sem qualquer debate ou estudos que embasem as iniciativas. Tais estudos, se existirem, deveriam ser divulgados antes da adoção das medidas, para serem discutidos, contestados e, se for o caso, aprimorados.

É preciso considerar a questão do trânsito nas áreas e regiões afetadas, bem como o impacto das medidas no que se refere à poluição, que aumenta com engarrafamento, à segurança e às atividades econômicas.

E quando falamos em empresas, estamos falando não só dos empresários, mas de toda uma rede envolvendo trabalhadores, fornecedores, consumidores, prestadores de serviços e até o setor público, que responde por significativa parcela dos recursos tributários que sustentam os governos.

O ritmo de implantação de faixas de ônibus e ciclovias ignorou uma discussão técnica e se apoiou num voluntarismo que indica mais uma preocupação quantitativa em atingir metas de quilômetros realizados do que em alcançar resultados efetivos.

Quem circula pela cidade pode observar faixas de ônibus ociosas e ciclovias com múltiplos usos, mas rara utilização por ciclistas. Na Rua Boa Vista, onde fica a Associação Comercial de São Paulo, a ciclovia tem servido para pedestres se desviarem de obstáculos da calçada e para carrinhos que entregam mercadorias nas empresas. Com a pressa da instalação, sem debate ou aviso prévio, não houve preocupação com buracos na via: mais importante é pintar a rua.

Outra medida polêmica que pode ter sérias repercussões e foi adotada sem debates: a redução dos limites de velocidade nas marginais, que, segundo se anuncia, será estendida para outras vias, com o argumento de diminuir o número e a letalidade dos acidentes. Ninguém viu, contudo, uma análise das razões para as mudanças, dos horários e locais de maior incidência e outras informações relevantes.

Por natureza, as marginais permitem maior velocidade, desde que as pistas estejam em boas condições, bem sinalizadas, fiscalizadas. E desde que os pedestres respeitem os lugares para atravessá-las. Atribuir apenas aos limites de velocidade o aumento do número de acidentes, sem considerar esses fatores e o aumento da frota de veículos, não justifica mudança tão drástica.

A capital paulista não pode parar; pelo contrário: precisa fluir. Se as vias que levam às marginais ficarem mais congestionadas, vai ser um caos ainda maior para o comércio e para o cidadão.

Apresentar exemplos de outras cidades com diferentes características também não acresce racionalidade à medida. Não é possível, do dia para a noite, com medidas unilaterais, transformar São Paulo numa Londres ou numa Nova York.

O que se espera da administração municipal? Que, antes de implementar mudanças bruscas na vida da cidade, haja estudos técnicos. Que a população seja ouvida. Que seja feita consulta. Que exista postura democrática. Tudo isso para alcançar o objetivo maior do administrador: a melhoria do bem-estar da população.

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