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Otimismo é uma arma contra a crise, não só uma postura

Especial para o UOL

23/08/2015 06h00

O presidente Kennedy adorava repetir que a palavra crise em chinês é formada pelos ideogramas de perigo e oportunidade. Por esse raciocínio, pode até ser que quem enfrente uma grande crise esteja enfrentando um grande perigo – mas também está podendo aproveitar uma grande oportunidade. Em português, a palavra crise traz embutida uma sugestão preciosa: crie. Algumas palavras são como lições.

Steve Jobs foi um mestre em lições de crise: ao invés de se sentir derrotado quando foi demitido da Apple em 1985, fundou uma nova empresa chamada NeXT, que acabaria comprada pela própria Apple em 1997 (o mesmo ano em que Jobs reassumiria o controle da companhia) por 400 milhões de dólares. A crise foi muito boa para Steve Jobs.

Talvez sejam episódios como esse que tenham levado Andy Grove, o CEO da Intel que Jobs idolatrava, a acreditar com tanta convicção que más empresas são destruídas por crises, boas empresas sobrevivem a crises e grandes empresas melhoram muito com elas.

Acontece exatamente o mesmo com pessoas e com profissionais. É por isso que, como CEO de um complexo que abrange cinco empreendimentos, sinto-me à vontade para sugerir algumas pequenas mudanças que podem gerar resultados surpreendentes na gestão.

O primeiro passo é, sem dúvida, estreitar o relacionamento com seu público interno. Todos sabem que um colaborador motivado e envolvido resulta em melhor produtividade. Mas colaborador motivado e envolvido em tempos de crise é um grande trunfo para se produzir mais e com excelência.

O segundo passo consiste em potencializar parcerias, que são sempre grandes protagonistas nas relações em que todo mundo ganha. Em vez de pressionar o seu fornecedor por preços melhores, pense em otimizar o trabalho e, com isso, a despesa. Pense além: e se você apresentar seu fornecedor para outros contatos do seu relacionamento? E se, por exemplo, uma única empresa de limpeza ficasse responsável pela manutenção das salas do seu prédio, ou das fachadas da sua rua?

Alinhar serviços com seus vizinhos otimiza os gastos com fornecedores e melhora a condição de negociação e custos. É exatamente o mesmo que acontece com condomínios: quando um número maior de empresas contrata o mesmo fornecedor, ele é capaz de atender a todas com preços muito menores, justamente por ter escala. A união não faz só a força: faz o preço.

O terceiro passo é abrir novos mercados e novas frentes de atuação. Lembre-se da estratégia do oceano azul e pense em maneiras de criar espaços frente à concorrência. Se a saúde financeira da sua empresa permitir, viaje e conheça economias que se fortaleceram frente à crise, e procure grupos de executivos que buscam no exterior a inspiração e a inovação necessária para reviver, manter estável ou em crescimento seu próprio negócio.

O quarto passo é simples: estude. Estude o mercado, estude a concorrência, avalie o que deu certo e o que não deu. E não apenas em empresas do mesmo segmento que o seu, mas no mercado em geral. Conhecimento, bons cases e boas ideias nunca são demais.

O quinto passo é participar de associações: só assim você vai ser capaz de acompanhar como seus parceiros e concorrentes estão operando e de realizar brainstormings com setores diferentes do seu. Sair da crise em conjunto é sempre mais fácil.

Por tudo isso, fica claro que a agenda positiva é uma atitude essencial para os negócios. Se não é possível enxergar o ponto de vista positivo, discuta, debata com seus colegas e descubra qualquer outra alternativa. Às vezes, a conversa informal e a troca de ideias e sugestões dispara o brainstorm e se torna muito mais produtiva do que horas a fio de reuniões buscando soluções em cima de números e ideias já utilizados. O discurso negativo não é péssimo só para o país – é péssimo também para os negócios.

Talvez por isso Shafqat Islam, CEO de uma respeitada plataforma de marketing, tenha declarado numa entrevista para o New York Times que todo empreendedor no fundo precisa exercer uma forma quase irracional de otimismo em relação a todo tipo de barreira. Esse otimismo não é só uma postura contra a crise: é uma arma.

Matthew Della Porta, psicólogo e consultor empresarial, costuma afirmar que para a maioria de nós todo tipo de feedback negativo costuma se incorporar como um hábito com muito mais facilidade que qualquer encorajamento positivo. Por isso, exercitar nossa capacidade para o que é positivo é sempre essencial.

Em tempos de crise, fortalecer parcerias e buscar novas oportunidades é fundamental para se criar uma nova realidade. Afinal, nunca se esqueça que os responsáveis por uma nova realidade somos nós mesmos. Não qualquer crise.

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