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Sem colegas, aluno se desmotiva e abandona curso a distância

Especial para o UOL

27/09/2015 06h00

A educação em salas de aula, com professores dirigindo-se a muitos alunos, tem cerca de 800 anos. Um modelo cuja aplicação só se ampliou, sendo responsável pela maior parte da educação que hoje recebemos.

A mais recente modificação nessa forma de educar ocorreu no século 20, quando a tecnologia permitiu que alunos muito afastados do ponto em que está o professor pudessem, graças ao satélite e à internet, receber as aulas de forma não presencial. Com séculos de aplicação e grandes resultados, é natural a comparação entre as formas clássica e a distância.

Há algumas diferenças óbvias. Com a educação de longe, o custo tende a ser muito menor, já que se trabalha com uma escala de milhares na sala virtual, contra dezenas na presencial. Essa é uma de suas grandes vantagens. A outra, também inegável, é dar acesso ao melhor ensino sem as limitações impostas pela geografia. Mas nem tudo são vantagens no ensino a distância. Há vários obstáculos a superar e é preciso ver se eles são intransponíveis ou não.

A própria tecnologia necessária para a educação de longe é um primeiro e importante entrave. Boas aulas a distância podem ser prejudicadas –e mesmo inviabilizadas– no processo de captação, edição e transmissão. Elas exigem o mesmo que boas aulas presenciais, e mais qualidade da imagem e do som transmitidos. Além de cuidados na produção, como o enquadramento na tela, os cortes, o ritmo. Fatores como falhas na internet e mesmo condições meteorológicas desfavoráveis podem inviabilizar a recepção remota de aulas.

Suponhamos superadas tais barreiras tecnológicas. Ainda temos outros aspectos a considerar. Por exemplo, a interação entre professor e aluno. Na educação a distância, mesmo com a utilização de vários processos para contornar a dificuldade, não há como fazer uma equivalência plena com o modelo clássico. Na verdade, só professores altamente experientes podem antecipar dúvidas e fazer a distância aulas de grande qualidade e interesse que minimizam muito a falta de interação.

Talvez a barreira mais importante nem seja a falta de interação com o professor. O que pode fazer muita falta são colegas de classe. É na sala de aula clássica, junto a outros alunos, que partilhamos muito de nossa vida. Colegas de classe são nossos confidentes. Trocamos conselhos e dicas sobre coisas da escola e sobre coisas muito pessoais. Perguntamos sobre a melhor opção a seguir e também opinamos. Até sobre a aula trocamos explicações. Não é à toa que os mais permanentes laços –fora da família– são formados entre colegas de classe.

De certo modo, são os colegas que selam nosso compromisso com o estudo. Afinal, quem é o primeiro a perceber nossa falta na sala? Quem é o primeiro a nos cobrar o motivo? Não precisamos de pais ou autoridades para nos colocar na linha, os colegas fazem isso. Espontaneamente e com plena aceitação nossa.

A falta de colegas explica um dos maiores problemas identificado  na educação a distância: o abandono dos cursos em taxas elevadíssimas. É bem mais difícil para o estudante acompanhar a rotina de um curso solitário, frente a uma tela. Sem colegas para cobrar presença, para compartilhar a aprendizagem, para dividir os transtornos e alegrias da vida, o estudante acaba perdendo o foco. E abandona os estudos. 

É um grande problema, mas com solução. Podemos manter colegas por perto, mesmo com o professor a distância. Esse caso ocorre quando as aulas são transmitidas para uma sala de aula e o aluno irá assisti-las junto a outros estudantes. Aulas com presença controlada e horários definidos. Obrigações iguais às de aulas comuns, que geram maior fidelidade do aluno, contam com a atenção dos estudantes e são muito produtivas.

Mesmo com esse modelo, os cursos que geram maior adesão são os de menor duração –como os de preparação para provas e vestibulares. O grande interesse pelas aulas e a possibilidade de resultados mais imediatos são fatores que freiam a desistência e oferecem algo mais próximo daquilo que proporciona a educação presencial.

No ponto final da comparação, mais uma consideração. Presencial ou a distância, ambas as formas podem ser boas ou ruins. Uma e outra dependem da empolgação e do brilho no trabalho dos professores.

Não há educação presencial ou de longe que resista a aulas sem graça, sem entusiasmo. Se a aula é arrastada, apagada, o aluno sempre tende a dormir. A diferença é isso ser ou não notado. Na educação a distância, o sono ocorre discreto, quietinho –longe dos olhos do mau professor.

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