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ONU faz 70 anos aparentando ter muito mais idade

Especial para o UOL

28/09/2015 06h00

A 70ª Assembleia Geral da ONU, a ser realizada entre hoje e 6 de outubro de 2015, enfrenta o desafio do peso de uma data tão imponente. Será que a septuagenária instituição, ao celebrar seu aniversário, aparenta ter mais ou menos idade?

A julgar pelas movimentações em torno da questão ambiental, das questões de gênero e da desigualdade social, a ONU está rejuvenescida. Levando em conta a estrutura arcaica, o privilégio dado às grandes potências e à ordem por elas engendrada, as Nações Unidas estão defasadas.

No dia 26 de junho, aniversário da Carta fundadora da Organização, o secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, publicou um artigo bastante esperançoso. Nele, saúda o passado da instituição, mas defende que no futuro devemos fazer mais para enfrentar os desafios do mundo atual.

Ano que vem termina o mandato de Ki-moon, e ficará sob a responsabilidade do próximo secretário (possivelmente uma secretária, a primeira mulher no comando da instituição) fazer valer os objetivos expressos na “Agenda 2030” –relatório elaborado pelos 193 países membros da organização e que traz propostas generalistas para acabar com a pobreza e proteger o planeta.

O Brasil, como é tradicional, irá abrir os discursos dos chefes de Estado. O que terá preparado a presidente Dilma Rousseff para essa ocasião? Em 2014, falou sobre os desafios à paz que se impõe no mundo, abordou a crise internacional e seus efeitos no Brasil, fez alguma propaganda sobre os feitos de seu governo, especialmente no combate à fome, e tratou da necessidade de reforma da instituição. Como falar agora da reforma da ONU sem que se pense em todas as reformas necessárias a serem feitas no Brasil?

Nem por isso essa questão perde importância. Pelo contrário, essa muito provavelmente seja a questão mais importante que envolve as Nações Unidades: a ONU precisa repensar sua estrutura. Pouco foi modificado do que se imaginou para abrigar inicialmente 51 países. O número de países quase quadruplicou, o orçamento aumentou cerca de 40 vezes e as relações internacionais estão muito mais complexas.    

O Conselho de Segurança das Nações Unidas é o ponto nevrálgico dessa necessidade de reforma. O mundo nunca aceitou que apenas as cinco potências nucleares à época de sua criação –EUA, Inglaterra, França, China e União Soviética (posto herdado pela Rússia) –, pudessem decidir sobre as questões de guerra e paz.

A 70ª Assembleia Geral da ONU virá impávida como sói ser ao idoso que nada mais tem a perder. Nunca antes tantos antagonistas sentaram no mesmo fórum de discussões. O novo e o velho mundo estarão medindo forças, cabendo à maior organização mundial saber conservar o que ainda é válido e abrir passagem para o novo.

A ONU faz 70 anos aparentando muito mais idade. Parece padecer do mesmo cansaço que assola todos aqueles que chegam ao poder. O mundo mudou mais rapidamente que sua estrutura soube e pôde acompanhar. E se é inegável que sua existência serve para algo, fica patente também sua distorção. Que mude seu estilo de vida enquanto é tempo, fazendo as modificações necessárias para que seja mais profícua e mais longeva.

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