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Exagero do biquíni mínimo deu independência à moda brasileira

Especial para o UOL

03/11/2015 06h00

O que é que o biquíni brasileiro tem que os outros não têm? A peça tem a mulher brasileira, o que os outros não têm! São dois pequenos pedaços de tecido que conseguem sintetizar, de um modo luxuoso e particular, a identidade da moda brasileira e que se tornaram o símbolo desta para o mundo.

Resumir a moda brasileira é, sem dúvida, traduzir a síntese única da mistura racial, social, cultural e religiosa que se deu no país.

A busca por uma identidade nacional teve início ainda no período colonial, continuou incessante no período imperial e também no republicano. Ela não foi construída ou mesmo inventada, mas, encontrada em nossa mulher. Uma mulher: sensual e feminina, loira ou morena, branca ou negra. Não importa. Nossa mulher caminha e se movimenta de um modo peculiar e único. É na praia, e de biquíni, que podemos ter sua melhor tradução.

Os biquínis brasileiros vestem e revestem um corpo que tem um dos maiores índices de body conscious do mundo. A expressão em inglês traduz de modo único a tal consciência corporal que vemos pelas praias do Brasil. Magras, gordas ou, muitas vezes, nem tanto, vestem o biquíni de um modo e de um jeito todo próprio. Não se envergonham de seu corpo e, com frequência, ao serem acusadas de ridículas pelos especialistas em vestir, sacodem a areia e parecem não se incomodarem com os deselogios.

São essa confiança própria e essa segurança no vestir que estimulam o estilista a criar e recriar peças para essa mulher. Isso é sempre um desafio, pois o seu lifestyle acaba por ser o sinônimo de muitas mulheres, aqui resumidas em uma única.

O biquíni brasileiro ­­–chamado pelos estrangeiros de skinny– ganhou o mundo, sendo aceito primeiro nos Estados Unidos, para então tomar a Europa e, acreditem, só depois a América do Sul.

A divisão cronológica de uma moda praia mais autoral e brasileira se deu nos anos 1990. Se olharmos imagens de praia no Brasil das décadas de 1950 e 1960, ainda vemos peças grandes feitas de tecido, quase que como pequenos vestidos, de imagens importadas da Europa e reproduzidas por costureiras locais.

No final dos anos 1970 e nos 1980, o biquíni ganhou, por aqui, uma forma mínima que, se hoje vista em mãos, lembraria até uma peça infantil. Mas, graças a Rose di Primo, Luiza Brunet e Monique Evans, conseguimos, na moda, dar um grito de independência e afirmar para o mundo que o biquíni era sim brasileiro.

Foi a libertação com exageros. Naquele momento, a mulher estava reduzida apenas a seu bumbum, mas esse fato foi extremamente importante para distanciar a influência enraizada do internacional nos nossos trabalhos e permitir uma nova cultura de criação de peças de banho nos anos seguintes, com novas proporções e se comunicando com uma mulher que passou a ser vista e a se sentir como um todo. Uma mulher completa, inteira.

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