É impossível conter diabetes sem controlar epidemia de obesidade
O dia mundial do diabetes é 14 de novembro. É um dia de alerta e conscientização da gravidade de uma verdadeira epidemia que atinge a todos -mesmo aqueles que não são portadores de diabetes.
Há vários tipos de diabetes, mas o mais frequente (90% dos casos) é o diabetes tipo 2. Este atinge pessoas com uma predisposição genética expressa por uma capacidade limitada de produzir a insulina, hormônio produzido no pâncreas e responsável pelo controle dos níveis sanguíneos de açúcar (glicose). Apesar da predisposição, esses indivíduos podem passar a vida inteira sem desenvolver a doença, se tiverem um estilo de vida que mantenha seus organismos sensíveis aos efeitos da insulina, permitindo que o açúcar permaneça normal apesar de sua capacidade de secretar o hormônio relativamente baixa. Mas, se essas mesmas pessoas adquirirem condições que aumentam a necessidade (resistência) de insulina -como o excesso de peso ou o sedentarismo-, a doença pode se manifestar.
Essa é a raiz do problema. A humanidade vem sendo vitimada por uma epidemia de obesidade, que deixa no seu rastro uma epidemia de diabetes do tipo 2. É impossível conter esta, sem controlar a outra. Para o aumento da obesidade certamente contribuem o estilo de vida sedentário atrelado ao estilo de vida moderno, principalmente nos grandes centros urbanos, e o aumento das calorias da dieta. Mas não é só a quantidade de alimento que importa.
A produção de alimentos em grande escala e sua necessária conservação para o transporte e a distribuição nos grandes centros de consumo tornaram necessária a adição de um sem número de conservantes e aditivos. Em 1925, um frango levava 112 dias para chegar ao mercado, com um peso de 900 gramas; em 2005, um frango chegava ao mercado em apenas 42 dias, com o dobro do peso. Evidentemente não é o mesmo frango.
Pesquisas feitas na universidade de Boston revelam que o uso continuado de aditivos e conservantes alimentares pode aumentar a demanda de insulina. Além disso, aditivos como antibióticos podem modificar a flora intestinal, cuja composição e bom funcionamento é importante no controle do metabolismo em geral, incluindo o da glicose.
Portanto, está armada uma grande bomba cuja sequência de detonação é: alimentação industrializada e excessiva, modificação da flora intestinal, desenvolvimento de sobrepeso, resistência à insulina e diabetes.
Em razão das causas subjacentes, a epidemia de diabetes é um problema global, embora mais agudo nos países que lograram aumentar o acesso à alimentação nas ultimas décadas. A Sociedade Brasileira de Diabetes estima em aproximadamente 12 milhões o número de portadores de diabetes tipo 2 existentes hoje. Em 2035, este número deverá aumentar para 19,2 milhões.
Um agravante é que os sintomas clássicos da doença (sede excessiva, aumento do volume urinário etc.) aparecem apenas quando os níveis de açúcar estão muito altos (acima de 250 mg%), os quais podem levar vários anos para serem atingidos. Assim, o diabetes tipo 2 é basicamente uma doença de evolução silenciosa, o que explica o fato de apenas 50% dos pacientes existentes estarem diagnosticados. Além disso, dos diagnosticados, apenas 60% estão sendo tratados e, dos que estão em tratamento, apenas 30% estão bem controlados.
O risco de desenvolver as complicações do diabetes está ligado ao tempo que o açúcar permanece elevado e não ao fato de sintomas estarem presentes. No Brasil, cerca de 20% dos pacientes já tem algum grau de complicação no momento do diagnóstico.
Já nos países desenvolvidos, o diabetes é a principal causa de cegueira, a principal causa de amputação não traumática de membros inferiores e a principal causa de necessidade de diálise ou transplante renal. Os Estados Unidos, que têm hoje 24,5 milhões de portadores de diabetes, gastaram, em 2014, quase US$ 200 bilhões apenas no tratamento do diabetes e de suas complicações.
Estima-se que, em 2035, o número de pacientes com diabetes no mundo necessitando diálise atingirá 177,6 milhões de pessoas, o que supera a população da Inglaterra, França e Espanha somadas. Isso representaria um gasto impossível de ser pago pelos sistemas de saúde, de tal modo que, atualmente, a única maneira viável de enfrentar essa epidemia é tentar diminuir o ritmo de crescimento do número de pessoas afetadas. Isso é feito através de campanhas educacionais que estimulam a atividade física e a alimentação saudável.
Assim, o diabetes não é um problema apenas dos portadores e de suas famílias. Em virtude do tamanho da população atingida pela epidemia, do número de complicações a serem tratadas, com um enorme custo em sofrimento humano e econômico, o diabetes é um problema de todos nós.
O dia mundial do diabetes existe para que você saiba disso.
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