Dilma precisa entender que a ONU não é um fórum de defesa do governo
Durante anos, todo o trabalho da diplomacia brasileira tem sido marcado pela orientação política de posicionar o país para obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) como um objetivo prioritário. Podemos discordar de aspectos e posicionamentos da política externa do país, mas esse objetivo é legítimo, pois significa o reconhecimento da importância estratégica do Brasil nas questões fundamentais para a humanidade no decorrer deste século.
A intenção da presidente da República, Dilma Rousseff, de levar à tribuna da ONU a crise política nacional nesta sexta-feira, além de outras implicações que trazem prejuízos aos interesses do país, coloca sob ameaça todo esse trabalho diplomático de pelo menos duas décadas. Qualificando o processo de impeachment como um golpe de Estado, a presidente estará dizendo que em seu país a democracia é frágil e que as instituições não funcionam. Se o parlamento e a Corte Suprema patrocinam um golpe contra o governo e o país não garante sua própria segurança interna, como pode reivindicar um lugar entre os que cuidam da segurança global?
A presidente Dilma deve pensar duas vezes sobre o que vai dizer na ONU. O apego ao poder deve ter limites. Já tivemos um impeachment no Brasil e nem por isso a democracia ou a segurança do país foi afetada. Desde então, as instituições vêm se aperfeiçoando e as investigações de corrupção que alimentam a indignação da sociedade contra o governo são uma mostra disso. Se o governo tivesse credibilidade e legitimidade, superaria a crise política. Como não tem, não adianta apelar aos governos de outros países ou à opinião pública internacional, para lhe emprestarem aquilo que deveria conquistar dentro de casa.
Dilma precisa compreender que a ONU pode ser um fórum de defesa da nação, não do governo. Sua palavra deve sempre refletir a posição e os legítimos interesses do povo, não de uma facção. E a posição do povo brasileiro é clara, em favor da paz, da justiça e da liberdade. E contra a corrupção.
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