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Além de agente econômico, Meirelles conhece e respeita a política

Especial para o UOL

12/05/2016 14h58

Henrique Meirelles já foi, por mais de uma vez, o nome mais desejado pelo mercado para assumir o Ministério da Fazenda. Numa destas vezes, estávamos iniciando os dias mais agudos da atual crise econômica. O ex-presidente Lula era seu maior fiador, mas algo não foi levado adiante. Levy foi o escolhido, mas a configuração da equipe associada ao mundo econômico não o beneficiou: Fazenda, Planejamento e Banco Central precisam de um alinhamento mínimo. Não foi o que vimos, e Levy deixou o governo num nítido desconforto.

Diante das novas mudanças que se avizinham, a equipe ministerial de Temer não precisa ser estelar, mas minimamente hábil, e entre tais habilidades está a política. O governo que sai de cena, ao menos temporariamente, abusou do desprezo pela política. O preço, nesses casos, costuma ser alto demais. Essa aptidão o novo governo parece ter, por mais delicados que sejam o instante e a legitimidade sob a qual assume para parcelas expressivas da sociedade.

Para o mercado, Meirelles pode ser um excelente nome. Primeiro, porque reúne as prerrogativas essenciais atreladas ao mundo político –a mesma política sem a qual o mercado começa a perceber fortemente que um governo não se sustenta. Líder estudantil na juventude, dedicou anos de sua vida à carreira de banqueiro no cenário internacional.

Mesmo distante do país, em sua volta filiou-se ao PSDB e foi o deputado federal mais votado de Goiás, em 2002. A larga tradição familiar na política e o gosto pelo tema contribuem muito para fazer dele um agente que, minimamente, conhece e respeita a política. Ao longo das conversas que teve com Michel Temer, há quem diga que ele condicionou o aceite à participação na indicação de postos estratégicos –como o Banco Central e o Planejamento, que tanto custaram a Levy.

Em 2003, lembremos, Meirelles abriu mão de tomar posse do cargo para o qual fora eleito em Goiás para passar oito anos como o único presidente do Banco Central de Lula. Participou do plano de estabilização econômica pós-eleitoral e em 2010 foi agente absolutamente central nas eleições goianas para governador. Ao menos três políticos daquele pleito aguardaram sua definição para se posicionarem. Dois deles são figuras gigantes localmente: o atual governador reeleito Marconi Perillo (PSDB) e o ex-governador Íris Rezende (PMDB). Há quem afirme que no Estado Meirelles trafega acima do patamar dessas figuras.

Em 2011 deixou o PMDB e rumou para o nascente PSD, de Gilberto Kassab. O politicamente hábil ex-prefeito da capital colocou ao seu lado agente dos mais fortes, que ainda no PMDB havia sido cotado para ser o vice na chapa de Dilma, em 2010. Já em 2014, foi sondado para disputar o Senado por São Paulo, na chapa de Paulo Skaf, mas o lugar foi ocupado pelo derrotado Kassab. Ao longo dos últimos anos tem se dedicado fortemente ao conselho da holding que tem na JBS sua mais conhecida empresa, e que foi, disparada, a maior doadora de campanhas do último pleito nacional.

Com um currículo político desses, e reservadamente cotado para disputar até mesmo a Presidência da República, em 2018, vale lembrar que Meirelles é também engenheiro formado pela Poli, pós-graduado em administração pela UFRJ, e por quase 30 anos trabalhou no Bank of Boston, onde atingiu a presidência global e foi conselheiro de Bill Clinton.

No período que esteve à frente do Banco Central, Meirelles montou uma equipe de excelente qualidade e fez com que a inflação recuasse e convergisse para o centro da meta. Depois de uma inflação de 12,5% em 2002, ocasionada em grande medida pela desvalorização cambial associada aos riscos representados pela eleição de Lula, tivemos uma inflação cadente durante quatro anos, fechando 2006 em 3,1%, significativamente abaixo da meta de 4,5%. No segundo mandato, a inflação se aproximou do centro em 2007 e 2009, e fechou perto de 6% em 2008 e 2010.

Vale lembrar que, entre 2003 e o início de 2006, enquanto Meirelles comandava o Banco Central, Antonio Palocci comandava a política fiscal no Ministério da Fazenda, numa combinação de política econômica bastante alinhada. Em 2006, Guido Mantega assumiu a Fazenda, e não foram poucos os momentos de conflito entre os dois, com políticas monetária e fiscal completamente desconexas. Conflitos estes que muitas vezes foram arbitrados e resolvidos pelo então presidente Lula.

Meirelles na Fazenda quer evitar estes problemas. É por isso que sugere indicar o presidente do Banco Central e acompanhar a escolha para o Planejamento. Para o Banco Central, entre suas indicações mais prováveis está Ilan Goldfajn, que trabalhou com Meirelles como diretor de política econômica no primeiro semestre de 2003, vindo da gestão anterior de Armínio Fraga, ficando quase 3 anos na instituição.

Outros nomes cotados são Mário Mesquita, que trabalhou com Meirelles por quase 4 anos, entre 2006 e 2010, e Afonso Bevilaqua, que também trabalhou com Meirelles por quase 4 anos, entre 2003 e 2007.

Em resumo, Meirelles é um excelente nome para comandar a equipe econômica do governo Temer. É tecnicamente qualificado para a função e deve formar uma ótima equipe. Mais importante do que isso é sua capacidade política, necessária para avançar junto com o governo na articulação para aprovação de importantes pautas que coloquem o Brasil de volta a uma trajetória de desenvolvimento sustentável.

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