Reino Unido é mais forte fazendo parte da União Europeia
Em algumas semanas, a população do meu país tomará uma decisão histórica, e que afetará a vida de muitas gerações. No dia 23 de junho, um referendo apresentará a seguinte pergunta aos britânicos: o Reino Unido deve seguir como membro da União Europeia ou deve deixar a UE? A posição do governo britânico é clara: devemos permanecer na União Europeia. É a decisão correta para o nosso futuro e para as relações britânicas com o mundo, incluindo o Brasil.
Conheço bem a União Europeia. Anteriormente ao meu posto aqui, trabalhei em cargos relativos à UE por vinte anos, incluindo o gabinete do então presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a quem acompanhei em uma visita inesquecível ao Brasil, em 2006. Vi de perto marcos importantes, como o estabelecimento do euro e as negociações para a expansão da União Europeia, em 2004. Portanto, sei o que a União Europeia tem de bom e de não tão bom. Como se diz, quem gosta de leis e salsichas nunca deve ver como elas são feitas. Mas há fortes argumentos para o Reino Unido continuar exercendo seu papel de liderança dentro da comunidade europeia.
Primeiramente, pelo lado econômico: os países da União Europeia compram 44% de tudo o que o Reino Unido exporta. São mais de 500 milhões de consumidores bem ao nosso lado, mais que o dobro da população brasileira. Cerca de três milhões de empregos na Grã-Bretanha estão relacionados às exportações europeias, mais de 10% da nossa população economicamente ativa.
Ao permanecer no bloco, a economia britânica mantém o acesso direto ao mercado comum europeu, sem precisar enfrentar toda uma nova série de negociações. Antes da UE, o comércio com o restante da Europa era truncado e custoso, com taxas de importação que chegavam a 14% para automóveis e 32% para o sal. O mercado comum eliminou essas alíquotas e simplificou a burocracia.
No caso de uma saída do Reino Unido, não seria nada simples a renegociação de acordos comerciais com a própria União Europeia e com os mais de 50 países que mantém acordos com o bloco. Perderíamos a oportunidade, inclusive, de fazer parte da parceria entre a União Europeia e o Mercosul, cujas negociações, recentemente, avançaram pela primeira vez desde 2004. Como disse o presidente Obama, em visita a Londres, saindo da UE nós iríamos para o fim da fila dos acordos comerciais. E este é um lugar que não queremos ocupar.
Há também questões de segurança. O Reino Unido é um dos líderes do bloco europeu. Permanecer na União Europeia dará continuidade ao trabalho em parceira com nossos aliados para a segurança global. Conflitos e instabilidade política na Síria e em outros países resultaram no maior êxodo recente de imigrantes para a Europa. Uma solução durável deve ser alcançada dentro da UE e com a UE. Nossa própria segurança interna se beneficia da cooperação com nossos aliados –e nenhum deles quer que deixemos o bloco.
E não posso deixar de citar as diversas facilidades que a União Europeia traz para os britânicos. Desde sua criação, os preços das passagens aéreas caíram 40% para destinos europeus. Cidadãos do Reino Unido podem viver, estudar e trabalhar em qualquer uma das demais 27 nações, com direito a diversas garantias. E, a partir do ano que vem, não será necessário pagar roaming para usar seu telefone celular em toda a União Europeia.
Como afirmou recentemente o primeiro-ministro David Cameron, o isolacionismo nunca serviu bem ao Reino Unido. Há muitos benefícios em permanecermos na União Europeia, e que posso resumir da seguinte forma: seremos mais fortes economicamente, teremos mais segurança e ofereceremos facilidades crescentes para os britânicos. É o melhor para o Reino Unido e o melhor para a União Europeia.
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