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Universidades devem dar aulas de revisão a alunos cotistas

Especial para o UOL

03/08/2016 06h00

Estou encaminhando proposta no âmbito do CNE (Conselho Nacional de Educação) para que as instituições públicas de ensino superior que adotam o sistema de cotas ministrem um semestre, em todos os cursos, destinado ao resgate de conhecimentos básicos mal assimilados no ensino médio.

A ideia é de que a medida tenha caráter de sugestão para as universidades federais, que têm autonomia garantida pela Constituição, e força de norma para as que não são autônomas. Objetivo é possibilitar que os alunos admitidos pelo sistema de cotas, advindos de escolas públicas da educação básica, tenham melhor condição de aprendizado. Ou seja, trata-se de avanço importante para, de fato, democratizar oportunidades.

A pertinência da medida é atestada pelo último Enem, no qual 53 mil alunos zeraram na redação, observando-se, ainda, queda da nota em 3 das 4 áreas do conhecimento. As universidades herdam o problema da má qualidade da escola pública, em contraste com o melhor nível das particulares, nos ciclos da educação básica, gerando uma distorção. Majoritariamente, os que podem pagar colégios privados ingressam nas instituições públicas de ensino superior; os remanescentes das redes públicas vão para as particulares, normalmente tendo de trabalhar de dia para custear as anuidades, estudando à noite. Nas instituições federais, as cotas estão corrigindo a distorção, mas não eliminam a defasagem no aprendizado, que será mitigada com a proposta que estou defendendo.   

A medida é comprovadamente eficaz, pois já foi devidamente testada e aprovada. Minha experiência e de outros educadores de instituições particulares foram de forte êxito nesses casos. Juntamente com outras inovações, para fazer frente às diferenças de oportunidade, a ideia é ministrar ensino superior de qualidade, com foco preciso na formação de profissionais e pessoas capazes de desempenhar múltiplas ocupações no mercado de trabalho.

Ou seja, ter faculdade realmente transformadora das vidas dos estudantes, inclusive ministrando conteúdo, no período inicial, que contribui para o resgate do conhecimento básico perdido ou mal assimilado no ensino médio. Isso funcionou muito bem em instituições que dirigi, que tinham, ainda, o diferencial de cobrarem anuidades menores. A rigor, é o mesmo raciocínio das cotas, mas elevado a uma dimensão imensa, jamais alcançada anteriormente no Brasil e em países com perfil socioeconômico semelhante ao nosso.

Trata-se de oferecer aos alunos das escolas públicas da educação básica a oportunidade de acesso a ensino superior de excelência, capaz de promover sua ascensão econômica e a melhoria do padrão da vida de suas famílias.

Universidade privada boa com preço acessível é cada vez mais pertinente e necessária no Brasil. Agora, transpondo isso para as federais, queremos universidade pública boa, oferecendo aos alunos remanescentes das escolas públicas as mesmas oportunidades de conhecimento dos que advêm das particulares.

Esse modelo é parte da resposta óbvia a um problema muito sério, antigo e até então insolúvel da educação brasileira: o acesso de grande contingente de alunos, antes com poucas oportunidades, a um nível de ensino superior capaz de mudar seu futuro. É importante que todas as instituições universitárias, particulares ou públicas, façam uma profunda reflexão sobre o tema. 

Cabe, finalmente, um alerta: não basta que as universidades dediquem-se a resgatar o conhecimento perdido nas etapas anteriores. É decisivo e urgente que tenhamos educação básica de qualidade nas escolas públicas. Essa é uma responsabilidade que não pode mais ser postergada, exigindo, além da União, a mobilização dos governos estaduais e municipais, constitucionalmente responsáveis pela educação infantil, o ensino fundamental e o médio.

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