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Crescimento de curto prazo não determina competitividade de um país

Marcos Santos/USP Imagens
Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Especial para o UOL

05/11/2016 06h00

Imagine que você pudesse abrir um negócio em qualquer parte do mundo. Qual seria a sua escolha? Antes de decidir, considere esses fatos: Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não atingiram seus potenciais –apenas o mercado de ações de Xangai, por exemplo, perdeu 30% de seu valor desde junho de 2015. A maioria das 36 economias mais avançadas do mundo cresceu menos no ano passado do que em 2007, sendo as únicas exceções Estados Unidos, México e Emirados Árabes Unidos.

Atualmente, cerca de 25% dos títulos públicos em circulação no mundo têm taxas negativas. E, ao mesmo tempo, bancos centrais de toda parte estão manipulando mercados de câmbio, o que é insustentável no longo prazo.

Então, onde um empreendedor sábio deve abrir um negócio? A resposta está em economias competitivas.

A competitividade de um país não é determinada pelo crescimento de curto prazo, pela sua própria avaliação de prosperidade ou mesmo pela competição. Ao contrário, se trata da habilidade em gerar valor de longo prazo sustentável. Do ponto de vista de um empreendedor, um país que melhora sua competitividade verá uma subsequente melhora no PIB e crescimento no mercado de ações. Isso indica que a competitividade é um fator econômico importante, de um jeito que o simples crescimento não é. O crescimento passado da economia não leva automaticamente a retornos no mercado de ações.

Fatores gerenciais, não indicadores

A competitividade de um país está relacionada ao gerenciamento de recursos e competências –os vetores de valor– para criar um ambiente no qual as empresas possam manter a criação sustentável de valor. Fazer isso exige que um país aumente sua competitividade, melhorando seus sistemas de educação e saúde, e reduzindo seu setor público. A reforma educacional massiva no Chile, com o objetivo de garantir que todos tenham acesso a educação, significa que o país tem poucos recursos para desenvolver sua infraestrutura, mas educação é uma ferramenta importante para reduzir a desigualdade de renda, sendo assim um fator de competitividade.

Um bom governo cria o ambiente certo

O modelo de competitividade do Centro de Competitividade Mundial começa com o governo. Bons governos garantem boa regulação, transparência (sem corrupção), e um foco nas pessoas. Embora empregos sejam criados pelo setor privado, governos precisam desenvolver um ambiente favorável para que as companhias possam gerar empregos. Cingapura e os Emirados Árabes Unidos são bons exemplos de modelos de governo que incentivaram esses ambientes.

Países que falham nessa empreitada têm menos chances de atrair investimentos. Muitos países em desenvolvimento, incluindo a maioria dos Brics, têm infraestrutura precária (entre outras coisas), o que impede muitas organizações de operar seus negócios. Boa regulação e infraestrutura são elementos essenciais para a criação de negócios.

A competitividade de um país também exige o desenvolvimento do setor privado para impulsionar os negócios e a criação de empregos. Neste contexto, uma boa regulação, como a vista na Suíça, é essencial para promover o empreendedorismo e permitir que empresas atraiam capitais.

Líderes políticos com visão

Outra característica importante para a competitividade de um país é a liderança. Um exemplo promissor pode ser visto na Mongólia, que recentemente descobriu a maior reserva de cobre do mundo, um achado incrível para um país tão pobre. Quando a notícia foi revelada, o presidente do país, Tsakhiagiin Elbegdorj, disse ser extremamente importante garantir que as receitas geradas ajudassem a população a melhorar suas vidas. Ele é um líder com uma visão.

Estratégia para o curto e para o longo prazo

Uma estratégia clara também é um aspecto importante para a competitividade de um país. Pense sobre as estratégias que países vêm adotando para sair da crise na Europa. A Espanha está encontrando sua saída da crise, mas qual exatamente é a sua estratégia?

Frequentemente é difícil explicar a política econômica de um país, mas um exemplo de nação com uma estratégia clara é o México. Seu presidente, Enrique Peña Nieto disse: “O México precisa urgentemente de uma série de reformas estruturais que irão gerar mais bem-estar público”.

A estratégia não deve apenas dar soluções a problemas de curto prazo, mas também focar naqueles de longo prazo, já que um dos principais vetores de competitividade é a orientação de longo prazo. Porém, a dificuldade aqui está no fato de que a maioria dos sistemas políticos impede a visão de longo prazo porque os líderes tendem a focar em ganhos rápidos em um esforço para ganhar a próxima eleição.

Não copie seus vizinhos

Cada país deve desenvolver uma estrutura e estratégia que seja relevante para o seu próprio contexto. Aprender com boas práticas é uma coisa, mas copiar o modelo de competitividade de outro país não é uma boa ideia, pois dois países não têm o mesmo contexto.

Como disse Stéphane Garelli, ex-diretora do Centro de Competitividade Mundial do IMD: “Não importa para qual país você vá, a salada será diferente. Não significa que ela será melhor, simplesmente será diferente”.

Finalmente, países que devem focar em reformas institucionais em vez de crescimento econômico, já que instituições –isto é, uma organização de pessoas que compartilham um objetivo claro– são vetores importantes de competitividade.

Então, de volta a nossa pergunta original: onde você deve iniciar um novo negócio? Nossa pesquisa sugere que você deve escolher um país determinado a ser competitivo. Busque por um com liderança, visão de longo prazo, uma estratégia clara, focada e única, e desenvolvimento que apoie tanto empresas privadas quanto instituições.

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