Após polêmicas, Ciro lança candidatura no Dia da Mulher e usa tom feminista

Daniela Garcia

Do UOL, em Brasília

  • Reprodução/Twitter

    No Dia da Mulher, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) postou em seu Twitter foto acompanhado de várias mulheres

    No Dia da Mulher, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) postou em seu Twitter foto acompanhado de várias mulheres

O ex-ministro Ciro Gomes foi aclamado oficialmente pelo PDT nesta quinta-feira (8), por unanimidade, como pré-candidato do partido à Presidência da República. A escolha do Dia da Mulher para o lançamento da campanha, dizem aliados de Ciro, não foi em vão.

Na última disputa ao Palácio do Planalto, em 2002, o pedetista declarou que a atriz Patrícia Pillar, à época sua mulher, tinha o papel crucial de "dormir com ele".

A resposta de Ciro teve má repercussão, assim como sua a declaração sobre a ex-senadora Marina Silva (Rede), também pré-candidata ao Planalto. No ano passado, o pedetista falou que faltava "testosterona" à ambientalista.

O evento desta quinta quis justamente minimizar os prejuízos das falas, frente à força dos movimentos feministas atuais.

Em entrevista coletiva nesta tarde, o pré-candidato disse que é "feminista", mas que fez piada de mau gosto no episódio com Patrícia Pillar. "E eu que sou assim, feminista, fiz uma piada de extremo mau gosto com a mulher da minha vida, o amor da minha vida, e uma pessoa que tenho respeito intelectual, além do amor extremo e, por isso, pedi desculpas imediatamente."

"Dessa vez, evidentemente, eu vou tomar muito mais cuidado", acrescentou. "Porque a gente não é machista, mas a gente reproduz cultura. 100% dos brasileiros nós contamos piada. Apesar de ser feminista, eu reproduzia piadas na sauna para o pessoal rir. Hoje eu não faço mais", defendeu-se.

Em seguida, durante o ato oficial de lançamento de pré-candidatura, Ciro reiterou o discurso feminista, que tomou grande parte de sua fala aos militantes do evento realizado na sede do partido em Brasília. Ele defendeu o "empoderamento" das mulheres e citou o nome de cada uma das aliadas no palco, inclusive, da namorada Giselle Bezerra.

Questionado se "morreu pela boca" nas últimas campanhas, o pré-candidato negou. "Eu não creio que morri pela boca, francamente. Embora não possa me desculpar das bobagens que a gente faz."

Aliadas defendem Ciro

"Ele não teve intenção de menosprezar as mulheres ou a Marina [Silva]. Quis dizer que haverá muita tensão nas eleições deste ano", justificou a deputada federal Flávia Morais (PDT-GO), a única representante mulher da bancada na Câmara Federal.

Para o deputado Félix Júnior (PDT-BA), a data em homenagem às mulheres é "uma boa coincidência". "Os adversários tentam estigmatizá-lo. Mas ele não é [machista]. Como prefeito e governador [do Ceará], ele nomeou muitas secretárias e valorizou o trabalho delas", afirmou.

Regina Bessa, militante e uma das fundadoras do PDT, disse ter presenciado a declaração de Ciro no caso Patrícia Pillar e o defende também do comentário sobre Marina. "Não são deslizes nem gafes. São brincadeiras", afirma. Regina diz que o estilo "realista e de pulso" do político o fazem ser tachado de machista. "Ele não tem esse perfil. Não podem ir tirando essa conclusão por causa da personalidade firme", defendeu.

A deputada Flávia afirmou que a realização do evento nesta data aumenta a responsabilidade de Ciro com as mulheres. "É uma afirmação da pauta feminista, mostrando a sua importância para sua campanha", avaliou.

Félix Júnior disse que é um "cortejo" direcionado as eleitoras. "É só paquera, não é assédio", completou.

Apoio de Lula e aceno a Haddad

Ex-ministro dos governos Lula e FHC, Ciro está na corrida pelo Planalto pela terceira vez aos 60 anos. Sem chegar ao segundo turno nas disputas passadas, alcançou 11% dos votos em 1998 e 12%, em 2002.

Na entrevista coletiva desta quinta-feira, ele disse que não irá mais "alimentar o centro de intriga" entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Eu nunca critiquei o Lula, mas talvez alguma análise sobre o PT pode ser chamada de crítica", afirmou.

O ex-ministro disse ainda que o PT tem o direito de lançar candidato próprio. Reafirmou ter cortejado a união com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a que chamou de "dream team". "Mas agora seria uma certa falta de respeito na medida que o PT afirma que vai lançar candidato próprio", ponderou.

Perguntado se queria o apoio da sigla petista, adotou o tom de pré-candidato: "Quero o apoio de todos os brasileiros". "Porque sendo pobres, têm direito a uma mudança. Ou não sendo pobre, têm com os pobres uma solidariedade genuína, porque não trocaram o coração por um pedaço de pedra."

Aclamado como pré-candidato por unanimidade, Ciro disse que "não poderia faltar ao Brasil nessa hora tão difícil". "Quem duvidar que o Brasil precisa mudar, pode olhar para qualquer ângulo. Estamos sem ter compromisso sério do governo para dizer de onde vem o dinheiro para ser gasto na agenda do povo." 

O pré-candidato afirmou que as contas do governo federal acumulam dívidas de mais de R$ 140 bilhões. "Só tem dinheiro para roubalheira e para manter os privilégios dos que se encastelaram no poder, descomprometidos com o nosso povo."

Ciro afirmou também que a disputa presidencial vai afunilar para cinco candidatos, sendo Lula e ele no campo progressista e de centro-esquerda, a ex-ministra Marina Silva num campo isolado e o da direita, numa "confusão engraçada", com o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). "O Bolsonaro está tamponando o Alckmin e o Lula tamponando a minha posição."

O pré-candidato do PDT apontou que sua prioridade é superar a desigualdade e a miséria. Sem detalhar, disse que vai apresentar uma proposta de reforma fiscal e um plano de industrialização, ressaltando que é possível resolver os problemas de infraestrutura do país.

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