Parece eleição de síndico em prédio desabando, diz "guru" de Eduardo Campos

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

  • Arquivo pessoal

    O sociólogo argentino Diego Brandy

    O sociólogo argentino Diego Brandy

Aos 55 anos de idade, o sociólogo argentino Diego Brandy dedicou boa parte das últimas três décadas a campanhas eleitorais. Em 1989, estreou no ramo trabalhando para eleger o ex-presidente Carlos Menen (1989-1999). Desde então, segundo suas contas, atuou em mais de 80. A última delas foi a reeleição do prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), em 2016.

Brandy migrou para o Brasil em 2000, "importado" pelo marqueteiro João Santana, com quem trabalhou na campanha Eduardo Duhalde, no ano anterior. Por aqui, destacou-se como consultor político a partir de 2006, quando iniciou a exitosa parceria com Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco morto quatro anos atrás em plena campanha presidencial. No estado, ficou conhecido como o "guru" de Eduardo. Estabeleceu-se então uma relação de confiança mútua com o PSB.

O argentino é fundador e sócio do Cipec (Centro Integrado de Pesquisa e Comunicação), sediado no Recife, onde mora. Especializou-se em levantamentos eleitorais qualitativos, usados para nortear as estratégias das campanhas que participa. Sobre o cenário eleitoral de 2018, no entanto, a projeção do consultor é turvada pela "crise de legitimidade" que se instalou no país.

"A situação política do Brasil parece uma eleição de síndico em um prédio que está desabando", declarou Brandy ao UOL, por telefone. Para ele, será necessária "muita criatividade" para fazer campanha de uma forma que nunca se fez no Brasil.

Até o momento, o portenho ainda não bateu o martelo sobre quem será seu cliente este ano, mas a reportagem apurou que ele é cotado para atuar na eventual candidatura do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa à Presidência da República, que se se filiou ao PSB no início do mês.

ANDREA DO REGO BARROS/ESTADÃO CONTEÚDO
Diego Brandy (de óculos) canta frevo em karaokê sob o olhar de Eduardo Campos (esq.) em 2013

Desde o início do ano, ele já se encontrou algumas vezes com o possível presidenciável.

O consultor vê o número de pré-candidatos anunciados até o momento (18) como um "sintoma a mais" da crise política brasileira. A fragmentação revela, para ele, a pressão da dificuldade de fazer alianças e constituir frentes.

Das pesquisas já divulgadas, Brandy lê que o eleitorado ainda não está entusiasmado com as alternativas disponíveis, o que é "totalmente lógico diante da crise séria de legitimidade de todo o sistema político".

Adicione-se ainda as novas regras de financiamento da campanha deste ano, a primeira presidencial desde a proibição de doações de empresas. Menos dinheiro, para o argentino, não é necessariamente uma coisa ruim. "Considero que houve uma deformação criada pela necessidade de criar grandes equipes de propaganda", comenta.

Inevitavelmente, aponta o sociólogo, surgirá uma adaptação. "Possivelmente apareça mais pesquisas feitas por telefone", exemplifica. Ele avalia que algumas lideranças políticas já estão conscientes da necessidade de mudança, mas a grande maioria demonstra uma certa inércia. "Há quem atue como se não tivesse acontecido nada."

Brandy se diz surpreso com a falta de discussão sobre o futuro do Brasil. "O debate político por enquanto está muito centrado no passado, nas culpabilidades, nas responsabilidades do que aconteceu, e pouco se está falando nos objetivos do país", afirma.

No momento, ele diz que não consegue enxergar o que aconteceria no dia seguinte à eleição de qualquer um dos atuais postulantes ao Palácio do Planalto. "Me surpreende que ninguém tenha colocado a discussão da saída da crise via um processo de pactuação, de acordo, amplo consenso", comenta o portenho.

O fator anticorrupção

Ao ser indagado sobre que fatores devem ser preponderantes para guiar a eleição deste ano, Brandy aponta que a luta contra a corrupção "talvez antigamente não representava um valor 'definitório' no processo eleitoral e hoje talvez tenha uma importância diferente".

Não é "casualidade", para ele, que nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) esteja liderando. "Bolsonaro representa isso através no discurso", analisa.

Ou ainda que, sem sequer anunciar nenhuma candidatura, esteja bem posicionado nas pesquisas. "Barbosa personifica a luta contra a corrupção. Não precisa incorporar no discurso. As pessoas já visualizam isso nele."

Outro atributo do ex-ministro que, segundo Brandy, é uma matéria-prima interessante para a campanha é a autoridade que ele representa. "Diante dessa crise, eu pessoalmente não acho ruim. Uma das características da crise de legitimidade é a falta de autoridade dos políticos", aponta.

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