Crítica a presidente do PSB e elogios a Lula e Getúlio: Barbosa no Twitter

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

  • Renato Costa - 19.abr.2018/Framephoto/Estadão Conteúdo

    Barbosa participa de reunião do Partido Socialista Brasileiro, em Brasília

    Barbosa participa de reunião do Partido Socialista Brasileiro, em Brasília

O Brasil acabara de vencer a Colômbia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014 quando Joaquim Barbosa fez sua estreia no Twitter como @joaquimboficial. "Alívio, finalmente!", escreveu o então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 4 de julho daquele ano. No fim do mês, ele se aposentaria após mais de 11 anos como ministro da mais alta Corte do país.

Avesso a entrevistas, passou a se manifestar quase exclusivamente através da rede social, onde angariou mais de 574 mil seguidores ao longo dos últimos quatro anos. Foi pelo Twitter, por exemplo, que ele expôs sua opinião sobre o que chamou de "impeachment tabajara" da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e cobrou a renúncia do sucessor e então vice, Michel Temer (MDB).

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O mais recente dos 505 tuítes que publicou até agora foi escrito no último dia 6, quando ele se filiou ao PSB (Partido Socialista Brasileiro). "Publiquei comunicado em minha página no Facebook (Joaquim Barbosa Gomes)", anunciou o ex-ministro.

Acontece que seu perfil é restrito aos seus 345 amigos na rede social, o que frustrou parte das centenas de milhares de seguidores do seu Twitter. Na mensagem que tentou divulgar, o ex-ministro admitiu pela primeira vez em público a possibilidade de concorrer à Presidência da República, hipótese que ganhou força após a divulgação da pesquisa Datafolha na qual ele aparece com 8% a 10% das intenções de voto, no último dia 15.

"No ano passado, fui estimulado por amigos a manter conversas com líderes de partidos políticos com vistas a uma possível filiação e candidatura a cargo eletivo. Essas conversas mostraram-se mais construtivas e consequentes com o PSB, presidido pelo Doutor Carlos Siqueira", comunicou Barbosa.

Em 14 de julho 2015, o mesmo Siqueira foi citado de forma menos elogiosa pelo ex-ministro. O advogado comentava o que apontou como um "final de presidência fulgurante" do então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apesar da derrota de seu partido [Democrata] nas eleições legislativas do ano anterior.

Ao questionar retoricamente como o líder norte-americano obtinha êxito, o ex-ministro afirmou que "o sistema presidencial de governo tem virtualidades que poucos homens de Estado são capazes de captar".

"Querem exemplos? [Abraham] Lincoln, F.D. Roosevelt, Getúlio [Vargas] apesar do caráter não democrático do regime, [John] Kennedy, *Lula*, [François] Mitterrand (semipresidencialismo), [Bill] Clinton, etc", escreveu, mencionando quatro ex-presidentes dos Estados Unidos, um da França e dois do Brasil, entre eles o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje preso, cumprindo condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, foi Lula quem nomeou Barbosa para o STF, em 2003. Vargas, por sua vez, governou o Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, quando cometeu suicídio. No primeiro período, deu um golpe e inaugurou um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser conhecido como Estado Novo. Ao mesmo tempo, ficou popularmente conhecido como o "pai dos pobres".

O ex-presidente do Supremo aproveitou então para tecer críticas ao parlamentarismo, que na época vinha sendo defendido publicamente pelo então presidente da Câmara e hoje deputado federal cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ) --preso desde 2016.

"Esqueçam isso! Se vocês souberem como funciona, vão ficar horrorizados", alertou. Em seguida, passou a dar "explicações técnicas e práticas" sobre o sistema de governo "em que as decisões políticas supremas são tomadas por um colegiado chamado Gabinete".

O ex-ministro explicou a seus seguidores que líderes e representantes de partidos que formam uma 'maioria' no Parlamento seriam os membros do tal gabinete, e que o governo "sairia" dessa maioria.

"Agora vem a pergunta crucial: você sabe a quem caberiam as decisões políticas supremas no Brasil se vivêssemos sob o regime parlamentarista?", indagou.

No tuíte, Barbosa incluiu "no mesmo naipe" os presidentes do Solidariedade, Paulinho da Força; do PT, Rui Falcão; do PPS, Roberto Freire; do PDT, Carlos Lupi; e o do PSB, Carlos Siqueira. E completou com um questionamento retórico.

Ao UOL, Siqueira disse entender que Barbosa expressou sua posição favorável ao sistema de governo presidencialista, que ele também prefere. "Eu sou presidencialista convicto", declarou.

"Confere exatamente com o que eu penso, porque imagine só o parlamentarismo no Brasil: a bancada que tem o maior número de deputados é encarregada pelo presidente, que é o chefe de governo, apenas a formar o governo. E nós tivemos nesses últimos 30 anos o PMDB como sendo a maior bancada. Nós precisamos ver a nossa realidade", comentou o presidente do PSB.

Questionado pela reportagem se se considera do mesmo naipe dos outros citados por Barbosa. "Eles são meus colegas, presidentes de partidos, são todos pessoas por quem eu tenho o maior apreço. Não tenho nada contra o fato de ele ter me colocado no mesmo... Somos pessoas que pensamos e temos visões diferentes dos problemas brasileiros --alguns até do ponto de vista ideológico", declarou.

"Para mim não é demérito nenhum que ele tenha me citado entre essas pessoas"

Carlos Siqueira, presidente do PSB

Na semana passada, o ex-ministro se reuniu com o dirigente socialista para discutir os planos eleitorais com outras lideranças do partido.

"Sistema de governo parlamentarista é algo que não combina com nossa índole, nos é estranho. Seria um salto no escuro, uma aventura. Parlamentarismo: é um sistema que, se for mal desenhado, mal concebido, pode provocar enorme instabilidade política", arrematou Barbosa no Twitter.

Tuiteiro de ocasião

O tuíte em que tentou anunciar sua filiação ao PSB quebrou um silêncio de oito meses e meio na rede social. O comportamento virtual errático fez de Barbosa um tuiteiro de ocasião, cuja atividade se intensifica diante de grandes fatos sociais e políticos do Brasil e do mundo.

Nas horas que se seguiram à confirmação do impeachment de Dilma pelo Senado, por exemplo, ele apertou o botão "tweetar" 49 vezes, escrevendo mensagens em português, inglês e francês.

Já a eleição do presidente da França, país em que fez mestrado e doutorado, rendeu 13 tuítes do ex-ministro, em maio do ano passado.

"Calado há meses, assistindo à degradação moral, social, política e econômica do nosso belo país, hoje resolvi falar. Sobre a França...", iniciou Barbosa, que exaltou Emannuel Macron como um "jovem", "avesso aos velhos e carcomidos partidos políticos" e "ousado".

Propostas eleitorais foram raridade, mas aconteceram. Em 24 de setembro de 2014, durante a campanha daquele ano, ele fez uma "sugestão concreta" aos candidatos à Presidência: "prometer aos brasileiros a redução drástica das tarifas de telefone".

No mesmo ano, conclamou as autoridades a "reduzir drasticamente essa excrescência chamada propaganda eleitoral". Um dia antes do primeiro turno do pleito de 2014, Barbosa escreveu que a "reeleição é o elemento propulsor, o fator multiplicador de práticas de corrupção no nosso país".

Em 2015, saiu em defesa dos próprios tuítes dizendo-se um "cidadão livre", "livre das amarras do cargo público" e, portanto, "pronto para opinar sobre as questões da 'Pólis' [cidade-Estado]".

Em seu primeiro dia no Twitter, o ainda ministro fez às vezes de conselheiro do técnico da Seleção na última Copa, Luiz Felipe Scolari.

"Sugestão para terça do meio pra frente: L[uiz] Gustavo, Fernandinho, Paulinho, Ramires ou William; Hulk, Fred. Bernard como arma para o segundo tempo", escreveu Barbosa, quatro dias antes da semifinal contra a Alemanha. Os oito jogadores participaram do 1 x 7.

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