Não pretendo ser candidato a presidente, diz Joaquim Barbosa

Luís Adorno*

Do UOL, em São Paulo

  • Pedro Ladeira/Folhapress

    "Decisão estritamente pessoal", escreveu Barbosa ao anunciar desistência

    "Decisão estritamente pessoal", escreveu Barbosa ao anunciar desistência

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, filiado ao PSB, informou, por meio de sua conta pessoal no Twitter, na manhã desta terça-feira (8), que não será candidato à Presidência da República.

Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente da República. Decisão estritamente pessoal

Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF

O ex-ministro nunca disputou uma eleição, mas ganhou notoriedade após o julgamento do mensalão no STF, em 2012. Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 15 de abril, Barbosa oscilava entre 9% e 10% das intenções de voto nos cenários em que era citado, variando entre a terceira e a quarta posição.

Com Lula candidato, Barbosa tinha 8% do total das intenções. Sem o petista, que está preso na sede da PF (Polícia Federal), em Curitiba (PR), o ex-ministro alcançava 10% do total das intenções em um dos cenários testados.

O anúncio feito por Barbosa acontece menos de um mês após a primeira reunião pública do ex-ministro do STF com lideranças no PSB. Na ocasião, ele comemorou o resultado das pesquisas, mas disse que ainda não estava convencido se deveria concorrer. Ele se filiou ao PSB no dia 7 de abril.

O que disse Barbosa após encontro com líderes do PSB em abril

Mesmo com a indefinição, o PSB começou a montar uma estrutura de campanha e a procurar partidos para compor a chapa presidencial.

Carlos Siqueira, presidente do partido, afirmou que a desistência não ocorreu por resistências encontradas dentro do próprio partido. "Infelizmente ele desistiu, mas posso assegurar que não foi por resistências. Desistiu do ponto de vista dele próprio", disse entrevista à Rádio Bandeirantes.

"[Barbosa] tem sua família, seus afazeres, sua profissão que voltou a fazer como advogado. Precisamos tanto de uma figura como ele ou alguém parecido a ele", disse o Siqueira.

Leia também

Segundo o presidente da sigla, o PSB não tem ainda um plano B. "Não queremos uma solução a mais dentro do convencional. O processo está muito pobre de candidaturas que representem o novo. Fizemos nosso esforço, o máximo que podemos. Agora, vamos ver os candidatos que estão [no cenário] ou num candidato próprio", disse.

Em nota, o PSB informou que Barbosa avisou Siqueira na manhã desta terça-feira. "Cabe destacar que a definição do ministro ocorre nos termos da pactuação realizada em sua filiação, no último dia 6 de abril, que possibilitava ao PSB não conceder legenda a Barbosa, e que este, por sua vez, não assumia a obrigação de se candidatar", diz o texto.

"A reflexão de foro íntimo realizada pelo ministro fez com que a candidatura não seguisse à frente, decisão que o PSB compreende, especialmente, por que é personalíssima."

O PT afirmou que não vai comentar a decisão de Joaquim Barbosa.

Pré-candidatos comentam desistência de Barbosa

Repercussão entre os candidatos

O pré-candidato à Presidência do PSDB, Geraldo Alckmin, classificou a decisão de Barbosa como "uma perda". "Nós precisamos de novas lideranças, de maior participação. [Barbosa] É um homem preparado, com serviço prestado ao Brasil. Mas é uma decisão dele, nem sei se é definitiva. Mas, se não for desta forma, prestará serviço ao Brasil de outra maneira. Tenho total respeito", declarou o tucano em evento com prefeitos em Niterói (RJ).

No mesmo encontro, a pré-candidata Marina Silva (Rede) também lamentou a decisão do ex-ministro. "Sempre tive respeito pelo processo de discernimento e pelo debate interno que o PSB está fazendo. Essa é a democracia. As pessoas escolhem, e essa é a melhor forma de contribuir" afirmou.

Ciro Gomes (PDT), afirmou que a presença de Barbosa seria boa para o Brasil. "Representa um valor que o povo está procurando, que é a decência. Uma figura importante. Passou um ano e meio no horário nobre, combatendo a corrupção", disse. 

O presidente da Câmara e pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia, disse que anúncio de Barbosa "era o esperado". Ele comentou que "alguns ficaram ansiosos" com a possível candidatura do ex-ministro. Na opinião dele, as intenções de voto atribuídas ao jurista não têm destinatário certo. "Acho que uma parte não vai para ninguém e outra, pulveriza", disse.

A pré-candidata Manuela D'Ávila (PCdoB) afirmou que o ex-ministro tinha "opiniões boas", mas respeita a decisão. "Ele [Barbosa] tinha apresentado algumas pautas interessantes. Manifestou a sua contrariedade em relação à reforma da Previdência e ao processo de impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff]. Ele tinha opiniões já apresentadas e boas. Mas respeito a decisão dele."

Alvaro Dias (Podemos) afirmou ter "grande admiração" por Barbosa. "Sempre o valorizei, é alguém muito importante na defesa da justiça. A ausência dele empobrece o debate, em especial tendo em vista seu histórico recente conduzindo o STF na ação do mensalão", afirmou.

Ele afirmou que espera ganhar votos que seriam destinados a Barbosa, mas não descarta uma chapa com o ex-ministro.

"Não cheguei a vê-lo entrar [na corrida presidencial], mas empobrece a disputa. É uma pessoa importante nesse processo", afirmou Guilherme Afif Domingos (PSD).

Aldo Rebelo, do Solidariedade, também lamentou a decisão. "É uma pessoa que iria enriquecer o debate sobre o Brasil. A ausência dele não pode ser nem celebrada nem festejada."

Guilherme Boulos (PSOL) evitou opinar. "Desistência do Joaquim Barbosa é uma questão de foro pessoal deles, não nos cabe comentar."

Paulo Rabello (PSC) afirmou que participava de entrevista em uma rádio carioca na manhã desta terça quando foi questionado se votaria no ex-ministro Joaquim Barbosa. "Eu disse que até consideraria, sim, porque ele é um nome que seria de renovação", declarou. "Só que eu faço um prognóstico: ele não vai ser candidato. Uma hora depois eu saí da rádio e fiz a leitura que o Barbosa tinha desistido da disputa."

Para Henrique Meirelles (MDB), a saída do ex-ministro do jogo beneficia o centro. "Em função disso teremos uma grande possibilidade de crescimento. Grande parte das pessoas que declaram intenção de voto em Barbosa o fazem por sua atuação no mensalão, combate à corrupção. Esses eleitores estarão dispostos a votar em alguém que tem um passado de improbidade… Acho que é um movimento natural que os candidatos do centro possam crescer com a retirada da candidatura de Barbosa", disse o ex-ministro da Fazenda.

Repercussão no PSB

O governador de São Paulo, Márcio França sempre preferiu que o PSB apoiasse Alckmin à disputa em vez de lançar um candidato próprio, como Barbosa. Após o anúncio da desistência do ex-ministro, França reafirmou que Barbosa "não iria suportar essa pressão, esse liquidificador da vida pública".

Segundo França, "seria um excelente vice-presidente da República. Teria o nome dele, que daria um upgrade em qualquer nome. Se ele topasse, poderia ajudar muito o Brasil a acertar", afirmou.

O líder do PSB na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG), disse não ter se sentido traído pela decisão de Barbosa, mas "chateado pelo Brasil".

"A gente que tem vida pública a família nem quer que a gente participe muito pela situação política do país. Imagina então quem está para entrar nessa agora, quem sempre teve uma vida, carreira mais privada. Entendo isso. Ele sabe o que ia passar, como o preconceito sofrido. Ficou para o Brasil mais do mesmo. Ele era alguém que poderia modificar essa situação", falou.

"Vamos ter de nos reerguer com o patrimônio que o Barbosa que ele nos deu. Ele emprestou o nome com enorme fidalguia", disse.

Ministro de Temer diz não ser possível afirmar qual será o ganho eleitoral

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB), disse que a saída de Joaquim Barbosa deve ser respeitada como uma decisão pessoal. Na avaliação dele, "obstante as qualidades do Barbosa, o eleitorado dele não estava completamente definido, então o barco continua muito confuso".

Marun afirmou também não ser possível afirmar qual será o ganho eleitoral para o candidato de centro e os próprios pré-candidatos do MDB, o presidente da República, Michel Temer, e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

"Não vejo ainda uma sinalização de votos [de Barbosa para Temer e demais candidatos de centro]. Temos de esperar mais um pouco. É muito prematuro", disse.

* Colaboração de Gustavo Maia, Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi, em Niterói (RJ), e de Luciana Amaral, em Brasília

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos