Sob pressão de aliados, Renan encara concorrência inédita pelo Senado

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

    O senador Renan Calheiros (MDB-AL)

    O senador Renan Calheiros (MDB-AL)

O caminho de Renan Calheiros (MDB) para tentar a reeleição ao Senado, em outubro, deve ser o mais difícil da carreira do homem forte da política alagoana. Em meio a fins de alianças e silêncio sobre as negociações, o ex-presidente do Senado (em três ocasiões) deve enfrentar a concorrência de quatro nomes relevantes na corrida --um feito inédito. Neste ano, cada estado elege duas cadeiras no Senado.

A cientista política Luciana Santana, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), vê um cenário duro: "Pela primeira vez, ele está tendo de enfrentar candidatos competitivos que podem, sim, tirá-lo da disputa por uma dessas duas vagas".

Já Ranulfo Paranhos, também professor da Ufal, afirma que "o maior concorrente do senador é o próprio nome Calheiros, que é muito ruim nacionalmente e tem rejeição aqui". 

Santana também destaca o fator antipatia do eleitor. "Conta muito nessa disputa a rejeição que esses candidatos têm, e ela vai indicar a capacidade de atração do eleitor para uma das vagas. Renan tem uma base muito consistente, mas que não é capaz sozinha de fazer com que ele seja reeleito. Existe um conjunto da população que tem rejeição altíssima a ele. O que ele vai ter de fazer para reverter esse quadro? Tentar dialogar com esse público."

"Além disso, o grande oponente nesta eleição é a Operação Lava Jato. Se um dos processos em que ele é acusado tiver um trâmite mais veloz, isso pode impactar na campanha. Ou mesmo um áudio vazado ou um esquema que seja denunciado na televisão", completa Paranhos.

Para ajudar na empreitada, Renan conta com apoio do PT no estado e, mesmo tendo votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, conseguiu se reaproximar do ex-presidente Lula e o recebeu durante a passagem por Alagoas da caravana do petista, em agosto do ano passado.

Beto Macário/UOL
Renan Calheiros (MDB) recepciona Lula (PT) em Penedo (AL), em agosto

Senador desde 1995 responde a 14 inquéritos

Nascido em setembro de 1955, Renan Calheiros é senador por Alagoas desde 1995. Pai do governador do estado, Renan Filho (MDB), vê uma disputa tranquila para seu herdeiro no Executivo, sem adversário de relevância.

Para ele, a bagagem é mais pesada. Não apenas pela concorrências, mas por responder no STF (Supremo Tribunal Federal) a 14 inquéritos ligados a investigações das Operações Lava Jato e Zelotes. Também virou é réu em uma ação penal em que é acusado de desvio de verbas de sua cota parlamentar para pagar pensão alimentícia de uma filha fora do casamento.

Renan afirma que é inocente e que vai provar que a denúncia "tem falhas". Sobre as acusações da Lava Jato e Zelotes, ele sempre repete não ser culpado e cita o arquivamento de três inquéritos como prova de inocência. "Irei provar e derrubar inquérito, um por um", diz.

Renan foi eleito com folga todas as eleições que disputou para o Senado - em 1994 e 2000, ao lado do tucano Teotonio Vilela Filho. Na primeira disputa foi o segundo colocado, mas mesmo assim teve quase o dobro de votos do terceiro , Antônio Holanda Costa (então PSC). Em 2000, foi o primeiro colocado, com sete vezes mais votos do que o candidato que ficou em terceiro lugar, Eduardo Bonfim (então PCdoB).

Em 2010, voltou a ser o segundo mais votado em Alagoas, com 840 mil votos, mesmo assim mais que o dobro de Heloísa Helena (então no PSOL), terceira colocada e que teve 407 mil votos. Benedito de Lira (PP) foi o mais votado à época, com 900 mil votos.

Em busca de um companheiro de chapa

Por enquanto, vislumbra-se uma competição entre Renan e outros quatro concorrentes: Maurício Quintella e Marx Beltrão, ex-ministros de Michel Temer e atualmente deputados federais, além do senador Benedito de Lira (PP) e do deputado estadual mais votado em 2014, Rodrigo Cunha (PSDB).

O emedebista articula para ter ao seu lado Maurício Quintella (PR), ex-ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil.

Elza Fiuza/Agência Brasil
Renan articula chapa composta pelo ex-ministro Maurício Quintella (PR)

Mas o ex-ministro do Turismo Marx Beltrão (PSD) também quer o posto de companheiro de chapa. No MDB até abril, Beltrão aproveitou a janela partidária para migrar para o PSD em busca de mais protagonismo. Apesar de negar, Beltrão teria temido não ter autorização do ex-partido para a disputa ao Senado. De uma família tradicional na política alagoana, ele detém votos importantes se a disputa ficar mais acirrada.

Renan sabe disso, mas sempre foi especialista em "limpar o caminho" para garantir sua eleição. Em 2010, por exemplo, foi o principal articulador da desistência do hoje deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) para a disputa ao Senado. Lessa --que em 2006 perdeu a corrida ao Senado para Fernando Collor de Mello (hoje no PTC)-- anunciara que concorreria a uma das duas vagas na eleição seguinte. Acabou convencido a disputar o governo, mas foi derrotado.

A estratégia em 2018 é parecida. O grupo calheirista pressiona Beltrão a abrir mão da candidatura e sair como candidato à reeleição como deputado federal. Em troca, teria apoio para a campanha e mais espaço no governo do estado.

Ex-ministro diz não ter medo de enfrentar a missão

À reportagem, Marx Beltrão afirma que não vai desistir da candidatura ao Senado, mesmo que os Calheiros não o apoiem. "Eu sou pré-candidato ao Senado e não há nenhuma conversa no sentido oposto disso. Sempre acreditei nas pessoas, sempre fiz política acreditando nas pessoas. E acredito que não tenha problemas lá na frente", afirma, em referência à espera pelo apoio do MDB à sua candidatura.

Antonio Augusto/Câmara dos Deputados
Marx Beltrão (PSD) pode azedar os planos de Renan Calheiros nas eleições

Beltrão controla cinco prefeituras na região sul do estado --historicamente apoiadoras dos Calheiros. Caso se lance sem fazer a dobradinha com Beltrão, Renan pode encontrar dificuldade em angariar votos nessa região.

Mesmo reconhecendo que as articulações hoje apontam para uma dobradinha entre Quintella e Renan, Beltrão ainda declara fidelidade a Renan pai e à reeleição do filho, na esperança de receber apoio recíproco. Mas não abre mão de concorrer ao cargo. "Se tem uma condição que não tenho, é medo de enfrentar uma missão. Sou pré-candidato, vou disputar a eleição e é o povo quem vai escolher", diz.

Procurada pelo UOL, a assessoria de Renan Calheiros disse que o senador não iria falar de eleições antes do lançamento de sua candidatura. Maurício Quintella também foi contatado, mas não respondeu ao pedido de entrevista.

Segundo pessoas próximas aos dois políticos ouvidas sob a condição de anonimato, o acerto da dobradinha Renan-Quintella está praticamente fechado e deve ser anunciado em breve.

"Nessa hora todos estão se estudando, porque o cenário é ainda incerto, mas a tendência é essa", disse um aliado calheirista. "Quintella vai ser candidato ao Senado com apoio de Renan, nós já sabemos. A pressão agora é que Marx desista da disputa. Esse fato seria muito bom para todos", afirmou um político ligado ao ex-ministro do PR.

Força da oposição x aliados de Renan

Além dos ex-ministros e do senador Benedito de Lira (PP), o fato novo da eleição é a entrada do jovem Rodrigo Cunha, 37 --filho da ex-deputada Ceci Cunha, assassinada em 1998.

Popular nas redes sociais e com grande entrada entre os eleitores mais jovens, Cunha foi o deputado mais votado e teve mandato destacado na Assembleia Legislativa. Com discurso anticalheirista de enfrentar "o que há de mais atrasado na política", ele anunciou pelas suas redes sociais a entrada na disputa pelo Senado no último dia 10.

Por outro lado, favorecendo a candidatura de Renan, houve a desistência do ex-governador e ex-senador Teotonio Vilela Filho (PSDB), que abriu mão da disputa poucos dias após um pedido de prisão feito pela PF (Polícia Federal) --que, com o MPF (Ministério Público Federal), o acusa de ter chefiado uma "organização criminosa" à frente do governo do estado.

Enquanto isso, Renan Filho segue a largos passos para reeleição. A alta popularidade, impulsionada especialmente pela redução da violência e pelo bom desempenho fiscal, fez com que os principais nomes especulados pelos partidos desistissem de concorrer contra ele. O governador também mantém controle absoluto da Assembleia e é apoiado pela maioria dos prefeitos e vereadores.

O prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), que seria seu principal concorrente, permaneceu no cargo municipal por "questões pessoais", em vez de se lançar ao governo.

Outro nome forte que poderia entrar na disputa ao governo, mas já anunciou que preferiu concorrer a reeleição, foi o deputado federal João Henrique Caldas (PSB).

Presidência, dinheiro e polêmicas

Renan Calheiros já foi presidente do Senado por três mandatos: entre 2005 e 2007 (um mandato) e 2013 e 2017 (dois mandatos). Nas duas ocasiões ele sucedeu no comando da Casa o atualmente aposentado José Sarney (MDB).

Na primeira vez, acabou renunciando, após denúncias de que um lobista pagaria despesas de uma filha que tem fora do casamento e de ter usado "laranjas" para comprar veículos de comunicação no seu estado.

Renan deixou a presidência no dia 4 de dezembro de 2007, dois meses após se licenciar do cargo, mas conseguiu evitar a cassação do mandato em sessão secreta do Senado.

O alagoano voltou seis anos depois ao Parlamento e foi o presidente da Casa durante o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2015. Em junho de 2017, após várias críticas ao presidente Michel Temer em entrevistas, renunciou à liderança do MDB no Senado, afirmando não ser "marionete".

Renan foi ligado à política desde a época da universidade em Alagoas. Quando foi candidato --e eleito deputado estadual--, em 1978, declarou como patrimônio apenas um Fusca. Em 2010, esse patrimônio já era bem maior, de R$ 2.182.870,98 (ou R$ 3,5 milhões, em valores corrigidos pela inflação).

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