Após saída de Parente, presidenciáveis pedem mudanças na política de preço

Mirthyani Bezerra e Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

    Pedro Parente deixou a presidência da Petrobras após dois anos

    Pedro Parente deixou a presidência da Petrobras após dois anos

Após o anúncio do pedido de demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, presidenciáveis defenderam nesta sexta-feira (1º) mudanças na política de preços de combustíveis da estatal. A posição do antigo gestor de fazer aumentos periódicos no preço dos combustíveis foi alvo de críticas por parte de setores da sociedade.

A maioria dos pré-candidatos fez elogios à gestão de Parente, mas pediu por ajustes na política de preços. Representantes da esquerda e centro-esquerda, contudo, repreenderam com ênfase o executivo e celebraram sua saída. 

Parente assumiu a Petrobras em 2016 e foi responsável pela redução e reestruturação da dívida da empresa. Ele também mudou a política de preços. Diferentemente do que acontecia durante o governo de Dilma Rousseff (PT), quando os preços dos combustíveis eram controlados, Parente adotou a prática de ajustes periódicos seguindo as flutuações do mercado -- que a partir do ano passado passaram a ser praticamente diários.

Críticos da política de preços

Ciro Gomes afirmou, por meio das redes sociais, que "não basta demitir" o executivo. "É preciso exigir que a política de preços que ele impôs seja trocada. (...) Essa é política do PSDB que quer valorizar o financismo, a especulação financeira, em detrimento seja quela for o interesse", opinou.

A posição defendida pelo PSDB é que a política de preços preserve a Petrobras e ao mesmo tempo proteja o consumidor.

Segundo Ciro Gomes, o lucro excedente da Petrobras não deverá ser repassado para acionistas minoritários, mas deveria ser utilizado para controlar a especulação do custo do barril de petróleo.

Para Boulos, a política de preços adotada pela estatal seria uma privatização disfarçada. "Pedro Parente já vai tarde. A desastrosa política de preços da Petrobras e a privatização branca causaram um estrago que o povo brasileiro está sentindo no bolso. Parente já foi, agora falta o [Michel] Temer!", afirmou também em sua conta no Twitter.

A pré-candidata do PCdoB, Manuela D'Ávila, disse que teria sido a pressão popular que "botou Parente para fora. "Agora é mudar este governo para Petrobras voltar a estar a serviço do povo", afirmou, também por meio do Twitter. A deputada estadual do Rio Grande do Sul citou ainda uma entrevista dada pelo ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) dizendo que "Pedro Parente não podia ser afastado da Petrobras porque fazia parte da equipe dos sonhos de Temer". "Sonho do mercado, pesadelo de milhões. Já foi tarde."

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse ao jornal Folha de S.Paulo que Pedro Parente tinha "credibilidade" e que a saída dele do comando da Petrobras não deve trazer mudanças na política de preços da empresa.

"Não deve haver mudança e sim o governo usar os impostos regulatórios para compensar aumento no preço do petróleo", afirmou. Para ele, Parente "tem muita credibilidade e estava fazendo um ótimo trabalho".

Maia, no entanto, já havia defendido no início da paralisação de caminhoneiros que a política de preços de combustíveis da Petrobras precisava passar por ajustes para evitar aumentos diários e sucessivos em períodos de alta acentuada do petróleo.

A pré-candidata pela Rede, Marina Silva, afirmou que faltou "sensibilidade" ao ex-gestor da estatal. Segundo ela, a postura da Petrobras não pode ser "contra e nem pró-mercado". "O ex-presidente da Petrobras pediu demissão, apesar de ter feito uma gestão bem avaliada pelo mercado, mas faltou sensibilidade ao repassar o aumento do preço do combustível direto ao consumidor, neste momento difícil da vida dos brasileiros", afirmou.

Crítica do governo Temer, Marina também responsabilizou o emedebista por uma suposta reação demorada à "gravidade da situação". "Tudo é feito de afogadilho, ao sabor de circunstâncias, sem planejamento, sem reflexão e principalmente sem legitimidade", disse.

Temer afirmou na última terça-feira (29) que sua gestão é baseada no diálogo, mas que, quando ele é rejeitado, é preciso "exercer a autoridade para preservar a ordem". "Alguns confundem a vocação para o diálogo com eventual leniência política, ou fraqueza política. Na verdade, é justamente o oposto. Dialogo é da própria essência da política e da democracia", disse o presidente.

Defesa de Parente

Defensor da permanência de Parente à frente do cargo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, disse que o importante nesse momento é focar na recuperação da Petrobras e definir uma política de preços dos combustíveis. A declaração foi dada na conta que o tucano tem no Twitter.

"Com a saída de Pedro Parente, o importante nesse momento é não desperdiçar o trabalho de recuperação da Petrobras. Precisamos definir uma política de preços de combustíveis que, preservando a empresa, proteja os consumidores", afirmou.

Ex-ministro da Fazenda, Meirelles afirmou que Parente "deu uma importante contribuição ao país, ao resgatar a Petrobras da situação de quase destruição provocada pelo governo anterior".

O pré-candidato defendeu a criação de um fundo de amortecimento. "É preciso criar um fundo de estabilização que amorteça eventuais oscilações no preço do petróleo e seja fiscalmente neutro no longo prazo."

Ao considerar Parente um "bom gestor", o senador Alvaro Dias (PR) defendeu uma mudança na política de preços da estatal com "gestão técnica doméstica", ou seja, sem intervenção do governo.

Ele defende, contudo, que o preço do combustível tenha como parâmetro o custo da produção doméstica e não obedeça à variação do barril internacional vinculado à flutuação do dólar.

Favoráveis a atual política de preço

Já João Amoêdo (Novo) lamentou o pedido de demissão de Parente afirmando que a "política afasta os bons profissionais". "Esse é o ambiente que temos hoje: a velha política afasta os bons profissionais. Reverter esse quadro é um dos nossos objetivos", disse em suas redes sociais.

A principal mudança de preço que precisamos implementar é o fim do monopólio estatal para estimularmos a concorrência", sugeriu o empresário.

Flávio Rocha, pré-candidato do PRB, disse que a "revolta dos caminhoneiros" se deu porque Parente repassou "o alto custo da ineficiência" das gestões anteriores da Petrobras. "[Sérgio] Gabrielli e Graça Foster [ex-presidentes da estatal] usaram a Petrobras para conter a inflação e quase quebraram a empresa. Sem falar na corrupção. Parente repassou o alto custo da ineficiência e gerou a revolta dos caminhoneiros. O problema não é a política de preços. É o monopólio", postou no Twitter.

Procurado pelo UOL, o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) não se manifestou sobre o tema. 

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