Exército planeja chamar presidenciáveis para discutir segurança

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

  • Reprodução/Twitter

    Deputado Onyx Lorenzoni posa para foto com Villas Bôas e Bolsonaro, nesta terça (5)

    Deputado Onyx Lorenzoni posa para foto com Villas Bôas e Bolsonaro, nesta terça (5)

O comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, pretende convidar os candidatos à Presidência da República para discutir assuntos relacionados à defesa e à segurança do país, em particular os referentes aos interesses da Força Armada.

As propostas vão constar de um documento que está sendo elaborado pelo comando do Exército para ser apresentado aos presidenciáveis das eleições deste ano.

A iniciativa foi revelada pelo Centro de Comunicação Social do Exército após questionamento da reportagem do UOL sobre a visita do deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ) a Villas Bôas.

O encontro ocorreu na terça-feira (5), mas não constava da agenda oficial do comandante até a noite desta quarta (6). Capitão reformado do Exército, Bolsonaro aparece ao lado do general em uma foto publicada no Twitter do seu aliado e coordenador de seu plano de governo, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Não fosse o tuíte de Lorenzoni, portanto, a visita poderia se manter apenas entre os três. "Ótima conversa sobre o presente e o futuro do Brasil com o General Villas Bôas", relatou o escudeiro de Bolsonaro.

Questionada sobre o motivo de o encontro não estar na agenda, a assessoria do Exército informou que visualizou a visita de Lorenzoni no sistema interno, mas que verificaria por que ela não estava disponível na versão pública nesta quinta (7).

O Exército informou que o comandante "recebeu o deputado federal Onyx Lorenzoni nas instalações do Quartel General do Exército para uma visita de cortesia". "O mesmo estava acompanhado do deputado federal Jair Bolsonaro", completou.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com os parlamentares nesta quarta, enviou questionamentos aos dois, mas não obteve respostas até a publicação deste conteúdo.

Ainda de acordo com o Centro de Comunicação Social do Exército, Villas Bôas tem recebido diversas autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, "para tratar de assuntos de interesse da Força Terrestre".

A assessoria citou dentre as personalidades que visitaram o comandante outros dois pré-candidatos à Presidência da República: o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), no dia 23 de maio, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seis dias depois. Ambos constam da agenda oficial de Villas Bôas.

Segundo o Exército, as futuras reuniões com os presidenciáveis vão depender da definição dos candidatos e das respectivas agendas. "É importante que a sociedade discuta os temas defesa e segurança para que, no futuro, sejam tomadas as melhores decisões", diz a nota enviada ao UOL.

Reprodução
Agenda do general Villas Boas nos dias 4 e 5 de junho de 2018

Em outra frente, o também pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou um general para sua equipe de campanha.

Declarações polêmicas

Há pouco mais de dois meses, Villas Bôas se envolveu em uma polêmica ao declarar em sua conta no Twitter que o Exército estava "atento às suas missões institucionais" e que repudia "a impunidade". Era a véspera do julgamento do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no STF (Supremo Tribunal Federal), que seria preso dias depois.

"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", escreveu o general, na primeira das duas postagens.

Villas Bôas complementou dizendo assegurar à nação "que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais".

As declarações foram repudiadas por entidades da sociedade civil. A ONG Anistia Internacional, por exemplo, emitiu nota classificando a manifestação do general como "grave afronta à independência dos Poderes, ao devido processo legal e uma ameaça ao estado democrático de direito", que "sinaliza um desvio do papel das Forças Armadas".

A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) também criticou a fala do comandante do Exército. "Em uma democracia e em um estado de direito não cabe às organizações militares ou a seus integrantes – salvo como cidadãos na sua liberdade de expressão – tentar interferir na agenda política do país ou nas pautas do Poder Judiciário. Ou mesmo parecer que buscam interferir", apontou a entidade.

No meio militar, a manifestação foi recebida com entusiasmo até mesmo por generais da ativa do Exército. Na ocasião, Bolsonaro demonstrou apoio a Villas Bôas no Twitter. "O partido do Exército é o Brasil. Homens e mulheres, de verde, servem à pátria. Seu comandante é um soldado a serviço da democracia e da liberdade. Assim foi no passado e sempre será. Com orgulho: 'Estamos juntos General Villas Bôas'", escreveu o presidenciável.

General desde 2011, Villas Bôas tem 66 anos e assumiu o comando do Exército em 2015. Ele enfrenta uma doença degenerativa grave, com perda de mobilidade, e se locomove em cadeira de rodas, além de enfrentar problemas respiratórios.

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