Juíza nega entrevista de Lula na prisão; veja que outros presos já falaram

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

  • Ernesto Rodrigues/Folhapress

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poderá dar entrevistas de dentro da sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde está preso desde 7 de abril. Dentre os argumentos usados pela juíza Carolina Moura Lebbos, responsável pela execução da pena do ex-presidente, para justificar a decisão tornada pública nesta quarta-feira está o de que é inviável aos sistemas de segurança deixar que presos sejam entrevistados, e que a realização de entrevistas e sabatinas, "sequer previstas em legislação", alteraria a estabilidade do ambiente carcerário em que se encontra Lula.

Entrevistar presos de dentro de unidades prisionais não é algo raro no jornalismo brasileiro. Presos que ficaram conhecidos por casos de repercussão nacional e líderes de facções criminosas já responderam a perguntas de jornalistas de dentro de presídios e penitenciárias.

Por duas horas, o traficante Marcinho VP conversou com jornalistas do UOL em outubro do ano passado dentro das instalações do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN). A entrevista foi comentada inclusive pelo então ministro da Defesa Raul Jungmann no contexto da intervenção militar no Rio de Janeiro.

O caso de Marcinho VP foi citado pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, durante evento na noite da quarta-feira (11), no Recife, para criticar a decisão de Lebbos. "Marcinho VP é um criminoso e deu entrevista. Não sei mais quem também condenado por tráfico de drogas deu entrevista. O presidente Lula, que é a maior liderança popular desse país, está com os seus direitos políticos preservados, e não pode dar entrevista?", questionou.

Além dele, outros também deram entrevistas de dentro da prisão, como o ex-médico Roger Abdelmassih, Suzane Von Richtofe, o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, o ex-senador Luiz Estevão e Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha.

Condenado a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula é o pré-candidato do PT à Presidência da República, lidera as pesquisas de intenção de voto e nega ter praticado qualquer ato ilícito.

Ao todo, Lebbos recebeu quatro pedidos de veículos e profissionais de comunicação interessados em entrevistar ou sabatinar Lula – um deles feito pelos advogados do UOL, Folha de S. Paulo e SBT --, mas os negou afirmando que entrevistas e sabatinas não estão previstas em legislação e que, no caso do petista, elas não teriam utilidade já que, segundo a Lei da Ficha Limpa, ele estaria "inelegível".

Relembre algumas das entrevistas já concedidas por presos de dentro da prisão a profissionais de comunicação.

Roger Abdelmassih

Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo
Em 2015, Roger Abdelmassih deu entrevista à "Piauí" no presídio de Tremembé
Condenado a 181 anos de prisão por estuprar pacientes, o ex-médico Roger Abdelmassih, 74, recebeu a equipe da revista "Piauí" no presídio de Tremembé. A reportagem foi publicada em agosto de 2015. Ele teve a prisão decretada em 2011, ficou foragido por três anos, mas foi preso pela Polícia Federal. O ex-médico está agora em prisão domiciliar, em São Paulo, após idas e vindas judiciais.

O texto começa com a repórter descrevendo o preenchimento da autorização de visita feito pela agente penitenciária. "Ah, entrevista? Então hoje ele não vai ser só o Roger. Hoje ele vai ser o doutor Roger Abdelmassih. Quero só ver", teria dito a mulher à jornalista que assina o texto.

Especialista em reprodução humana, Roger Abdelmassih chegou a ser condenado em 2010 a 278 anos de reclusão por 48 crimes de estupro contra 37 pacientes, entre 1995 e 2008.

Suzane Von Richthofen

Reprodução/Record
Entrevista com Suzane Von Richthofen feita no presídio de Tremembé foi a principal atração de estreia de programa
O apresentador Gugu Liberato estreou o seu programa na TV Record em fevereiro de 2015 com a entrevista de Suzane Von Richtofen, condenada a 39 anos de prisão em 2006 por matar os pais com a ajuda do então namorado e do irmão dele. Gugu sentou-se frente a frente com Suzane no presídio feminino de Tremembé, em São Paulo, e fez perguntas sobre vida dela na cadeia, a relação com o irmão Andreas von Richthofen, a herança da família, e sobre as ameaças que sofreu em outras prisões. O programa foi recorde de audiência.

Paulo Maluf

22.dez.2017 - Wagner Pires/Futura Press/Estadão Conteúdo
Paulo Maluf conversou com colunista da Folha de S. Paulo dentro da Papuda
Condenado a sete anos, nove meses e dez dias de prisão em regime fechado por crimes de lavagem de dinheiro em maio do ano passado pela Primeira Turma do STF, o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, 86, começou a cumprir pena em dezembro de 2017, primeiro na sede da Polícia Federal, em São Paulo, passando pelo Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, e hoje em prisão domiciliar, em São Paulo.

Quando esteve preso em Brasília, Maluf conversou a colunista Mônica Bergamo em dia de visita semanal de familiares e amigos aos detentos da Papuda, em março deste ano. "'Minha querida', disparou no velho estilo, abrindo os braços para um abraço. 'Vim fazer a recepção a você'", diz o texto. Bergamo foi convidada a entrar na cela de Maluf e descreve o ambiente com detalhes. Na conversa, eles falaram sobre a saúde do ex-prefeito, sobre os hábitos dele dentro da prisão e sobre sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo.

A colunista conta inclusive que chegou a ver ex-ministro Geddel Vieira Lima, em pátio ao lado, e que ele teria acenado para ela ao reconhece-la, além do senador Luiz Estevão, em um dos corredores.

Luiz Estevão

Danilo Verpa/Folhapress
Cabrini entrevistou o ex-senador Luiz Estevão também dentro da Papuda
Condenado a 28 anos de prisão pelo desvio de verbas públicas destinadas à construção do Fórum Trabalhista localizado em São Paulo e sonegação fiscal, Luiz Estevão concedeu entrevista em maio do ano passado ano ao jornalista Roberto Cabrini para o Conexão Repórter, do SBT, do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, quase um ano antes das palavras trocadas com Mônica Bergamo.

A conversa durou quase uma hora e falou da trajetória de vida do empresário e ex-senador, dos supostos recebidos por ele dentro da prisão, da acusação de que recebia de privilégios mesmo atrás das grades, entre outros temas.

Luiz Estevão cumpre pena desde 2016 na Papuda, no Distrito Federal. As investigações contra o político apontaram desvio de verbas nas obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, realizadas em 1990. 

Nem da Rocinha

Marcelo Sayo/EFE
Nem da Rocinha foi entrevistado pelo jornal "El País" na penitenciária federal de Porto Velho
Antônio Bonfim Lopes, 41, conhecido como Nem da Rocinha foi entrevistado pelo jornal "El País" na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, onde cumpre pena de 96 anos por tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A entrevista foi publicada em março deste ano. No texto publicado, Nem falou ao jornalista que o tráfico de drogas só acabará quando as drogas forem legalizadas, comentou sobre intervenção militar no Rio de Janeiro, a atuação das milícias, entre outros temas.

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