Em resposta à ofensiva de Renan, Jucá defende candidatura própria do MDB

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

Presidente nacional do MDB, o senador Romero Jucá (RR) divulgou nesta segunda-feira (16) um vídeo defendendo que o partido decida lançar candidatura própria à Presidência da República na convenção agendada para o próximo dia 2 de agosto.

"É a hora de ter posições claras e firmes. O maior partido do Brasil não pode se esconder ou se omitir. Não participar dessa eleição seria um ato de covardia, e o MDB, com sua história e suas conquistas, não pode e não deve fugir ao debate", diz Jucá na mensagem.

A manifestação pública ocorre dois dias depois de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) deflagrar uma campanha contra a candidatura do ex-ministro Henrique Meirelles, único presidenciável do partido. O alagoano batizou a iniciativa de "MDB livre".

Divulgada nas redes sociais do partido, a mensagem de Jucá foi endereçada às "amigas e amigos do MDB" e não cita nominalmente nem Renan nem Meirelles, que aparece com 1% de intenção de voto nas últimas pesquisas eleitorais. O desempenho foi classificado como "ridículo" por Calheiros, em entrevista nesta segunda.

A estratégia adotada por Renan, que começou a enviar um vídeo aos participantes da convenção do MDB no último sábado (14), foi defender "o MDB livre de candidatura presidencial que nos encolha, que nos rebaixe".

"Não podemos fazer da nossa legenda, cuja história se confunde com a do Brasil, uma legenda de aluguel, movida pelos interesses do sistema financeiro, com uma pauta política que nos afronta e nos envergonha", diz o senador na gravação obtida pelo UOL.

A resposta de Jucá usa o mesmo verbo escolhido pelo senador de Alagoas. "Não podemos fazer de conta que nada está acontecendo e ficarmos inertes. Isso, sim, seria diminuir ou encolher o nosso tamanho e a nossa importância", declarou.

Depois de dizer que o Brasil viveu há dois anos "a maior crise econômica e política da sua história, com graves consequências para a nossa população", o presidente do MDB afirmou que tem ouvido na "grande maioria dos estados" o desejo de candidatura própria a presidente.

"O MDB precisa cada vez mais ser afirmativo e conduzir o seu próprio caminho. Não podemos abdicar da nossa posição e seguir outras ideologias populistas que já nos fizeram tanto mal", aponta Jucá, em referência velada aos governos dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –dos quais foi líder no Senado.

Calheiros tem defendido Lula, com quem deve se encontrar essa semana em visita à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista está preso desde o dia 7 de abril.

Jucá afirmou ainda que "os partidos políticos foram colocados em xeque, e a sociedade espera uma nova postura como evolução dessa grande crise". E encerrou o vídeo pedindo que os emedebistas se vão unidos para convenção do próximo dia 2.

"Vamos reafirmar o nosso compromisso com o Brasil. Um abraço a todos", despediu-se o senador.

Renan pede apoio de filiados do MDB contra Meirelles

Nome de Meirelles não é unanimidade no MDB

Meirelles foi oficializado como pré-candidato do MDB no último dia 22 de maio, quando o presidente Michel Temer confirmou que não disputaria as eleições de outubro deste ano. O presidenciável foi ministro da Fazenda da atual gestão e lançou sua pré-candidatura com a filiação ao MDB no início de abril. Antes, ele era filiado ao PSD.

Apesar de ter o apoio de Temer e aliados como Jucá e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia), Meirelles não é unanimidade dentro do partido. Ele sofre forte resistência de caciques como Renan e os senadores Eunício Oliveira (CE), presidente da Casa, e Roberto Requião (PR), por conta de interesses eleitorais regionais.

Nos últimos meses, Meirelles tem minimizado os movimentos de oposição interna e dito que acredita ter ampla maioria para a convenção. O ex-ministro já disse, por exemplo, que terá uma "vitória substancial" no evento. Para garantir o resultado favorável, ele tem viajado pelo país para conversar com os representantes do MDB nos estados.

A reportagem entrou em contato com a assessoria do presidenciável, que está cumprindo agenda em São Paulo nesta segunda, mas foi informada de que, até o momento, Meirelles não se pronunciou sobre a campanha de Renan ou sobre a defesa de Jucá de sua candidatura.

Na convenção, caberá ao MDB escolher o candidato oficial à Presidência dentre os nomes apresentados ou definir qual a alternativa a ser tomada, como a aliança com candidato de outro partido ou a liberação da sigla para coligações estaduais.

Para ter o nome aprovado, Meirelles precisará de pelo menos metade mais um dos votos válidos na convenção nacional. O número pode variar de acordo com o quórum presente na ocasião -- o mínimo são 223 presentes.

O colegiado é composto por 443 integrantes. Como alguns têm direito de votar mais de uma vez, por conta dos cargos que ocupam, a quantidade total de votos pode chegar a 629.

Cada estado tem ainda um peso específico na votação determinado pela bancada dele no Congresso Nacional, entre outras regras. Entre os mais influentes estão São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Renan pretende registrar a opção de não candidatura para disputar com a chapa de Meirelles. Além de divulgar o vídeo, o primeiro de três que pretende produzir, ele planeja telefonar para delegados e diretórios estaduais de todo o país.

O senador ainda deve viajar para conversar pessoalmente com emedebistas que defendem Meirelles para tentar convencê-los de que Meirelles "encolhe o partido" e dificulta a eleição dos senadores, dos deputados dos governadores nos estados, por conta da impopularidade dele e de Temer.

Meirelles minimiza ofensiva de Renan

Em nota enviada ao UOL na noite desta segunda-feira por sua assessoria de imprensa, o presidenciável Henrique Meirelles minimizou as ações do senador Renan Calheiros e disse ver a divergência de opiniões com "otimismo".

"É um movimento minoritário, isolado. Normal num partido tão grande. É bem-vindo. Traça diferença de história pessoal. Olhamos com otimismo. Tenho recebido apoio e dá confiança grande. Conversamos com todos que querem conversar. Divergências são positivas", disse o ex-ministro da Fazenda.

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