Cúpula pró-Bolsonaro terá de "príncipe" a 4º lugar em eleição chilena

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

  • Leo Correa/AP

    Bolsonaro foi oficializado como candidato à Presidência da República neste domingo (22)

    Bolsonaro foi oficializado como candidato à Presidência da República neste domingo (22)

O objetivo está exposto na descrição do site oficial do evento: a Cúpula Conservadora das Américas se propõe a "reunir importantes líderes e economistas liberais da América Latina para debater os problemas atuais que ocorrem em nosso país e no mundo".

O encontro será realizado em Foz do Iguaçu (PR) no próximo sábado (28) pela fundação do PSL (Partido Social Liberal), do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro. O próprio deputado federal do Rio de Janeiro é um dos 15 debatedores confirmados.

A lista de participantes, convidados para discutir cultura, segurança, economia e política em quatro mesas-redondas, reúne desde o "príncipe" brasileiro Luiz Philippe de Orleans e Bragança a um candidato derrotado nas eleições presidenciais do Chile no ano passado, José Antonio Kast, entusiasta da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

Reprodução/Facebook
O monarquista Luiz Philippe de Orleans e Bragança é pré-candidato do PSL a deputado federal

A breve descrição de Kast no site oficial da cúpula tem dois erros: informa que ele foi o terceiro lugar nas eleições presidenciais no Chile, realizadas em 2018. Na verdade, ele foi o quarto, com 7,93% dos votos, e o pleito ocorreu em 2017.

"Nunca precisamos de tantas mudanças na política e na sociedade. E essas transformações devem ser discutidas pelas pessoas que estão buscando desde já o melhor para a nação", justifica o pequeno texto de apresentação do "megaevento", como classificam os realizadores da cúpula.

Martin Bernetti/AFP
José Antonio Kast foi candidato a presidente do Chile em 2017 e ficou em 4º lugar

País-sede, o Brasil será o mais representado, com seis participantes. Haverá ainda três chilenos, dois colombianos, dois venezuelanos, um paraguaio e um cubano. A página do evento exibe bandeiras de sete países das Américas: Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Paraguai e Venezuela, nesta ordem.

Apesar do símbolo estadunidense, nenhum representante norte-americano foi confirmado no encontro. Bolsonaro e seus aliados costumam fazer elogios à política do presidente Donald Trump, a quem ele tem sido comparado durante o período pré-eleitoral.

Reprodução/Cúpula Conservadora das Américas
O evento tem como lema "um novo rumo no mundo" e é simbolizado com uma seta à direita
A cúpula será marcada ainda por um evidente desequilíbrio de gênero. Apenas uma mulher está na lista de participantes, a senadora colombiana de direita María Fernanda Cabal, do partido conservador Centro Democrático.

Assim com Bolsonaro, a parlamentar ficou conhecida por declarações polêmicas. Em 2014, ao saber da morte do escritor Gabriel García Márquez, ela disse que o colombiano iria em breve se juntar no inferno com o ex-presidente cubano Fidel Castro (1926-2016). María é correligionária e aliada do presidente eleito da Colômbia, o conservador Iván Duque.

Com capacidade para 2.200 pessoas, a cúpula tinha até esta segunda-feira (23) pouco mais de 2.000 inscritos. A participação é gratuita e o site do evento alerta que restam apenas as últimas vagas.

Organizado pelos deputados federais do PSL Delegado Francischini (PR) e Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidenciável, o encontro é realizado pela Fundação Indigo de Políticas Públicas, que pertence ao partido.

Questionada pela reportagem, a organização do evento não respondeu qual foi o investimento financeiro na cúpula, considerado como contraponto ao Foro de São Paulo --conferência que reúne partidos da esquerda latino-americana.

Veja a seguir os participantes da cúpula que discutirão cada tema no evento:

Cultura

A mesa-redonda sobre cultura terá dois representantes brasileiros. Filósofo, escritor, jornalista e conferencista, como informa em seu currículo, Olavo de Carvalho, 71, vive nos Estados Unidos e é tido como um "guru" dos conservadores no Brasil. Polemista por ofício, ele é uma das referências ideológicas de Bolsonaro e já declarou que votará no presidenciável.

O outro compatriota aparece na lista de participantes como "Príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, 49, ativista político e líder do movimento Acorda Brasil". Ele se identifica como descendente da "família imperial brasileira", mas informa que não está na linha sucessória em um eventual regresso do regime monarquista no país. Orleans e Bragança é pré-candidato a deputado federal pelo PSL de Bolsonaro.

Nesta segunda, o ativista apresentou uma proposta no mínimo pouco factível em sua página no Facebook. Justificando que não dá para mudar o Brasil com a Constituição atual, "que beneficia os burocratas", informou que ele e "um grupo de ativistas altamente qualificados" estão escrevendo uma nova Constituição, "que devolve o poder para a sociedade".

Além deles, participarão da discussão o venezuelano Roderick Navarro, 30, membro do grupo Rumbo Libertad, que segundo ele luta para "derrotar a narco-ditadura" do presidente Nicolás Maduro, e o cubano Orlando Gutierrez-Boronat, cofundador e porta-voz do Diretório Democrático Cubano. A entidade luta por "liberdade e democracia" na ilha caribenha.

Segurança

Dois militares, um parlamentar e um membro do Ministério Público debaterão a segurança, principal bandeira de Bolsonaro.

General reformado do Exército, Augusto Heleno Pereira, 70, foi chamado pelo presidenciável para ser seu vice, mas o convite foi barrado por seu partido, o PRP. Na década passada, ele comandou durante um ano e meio as forças de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti.

Da Colômbia, virá o major-general Jorge Jerez, que comandou operações contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), guerrilha dissolvida no ano passado, após um acordo de paz. Na semana passada, cinco ex-integrantes do grupo assumiram mandatos no Congresso do país sul-americano.

Eleito em abril desse ano pelo partido de centro-direita Pátria Querida, o senador paraguaio Fidel Zavala, 53, levará à cúpula a experiência de ter sido sequestrado, em 2009, pelo Exército do Povo Paraguaio --um "grupo guerrilheiro de esquerda", como definiu o evento.

Além deles, participará da conversa o promotor de Justiça do Rio Grande do Sul Diego Pessi, um dos autores do livro "Bandidolatria e Democídio: ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil".

Reprodução/Cúpula Conservadora das Américas
A Cúpula Conservadora das Américas terá quatro mesas-redondas

Economia

A mesa sobre economia terá dois chilenos. Um é o economista Carlos Gomez, que tem especialização pela Universidade de Chicago (EUA). O outro é o professor e advogado Francisco Javier Leturia Infante, doutor em direito pela Universidade de Salamanca (Espanha).

Diretor executivo do CES (Centro de Estudos em Seguridade), única entidade apoiadora do "megaevento", Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub é professor de ciências contábeis da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Ao UOL, ele informou que o centro deu apoio técnico ao selecionar e convidar alguns acadêmicos no Brasil e em outros países para o debate econômico e jurídico.

"Nossa motivação é colaborar para o desenvolvimento do debate técnico e científico neste segmento liberal de pensamento político e filosófico", explicou.

Esta é a única mesa-redonda que ainda tem uma vaga a ser preenchida. Inicialmente, o nome de Paulo Guedes, consultor econômico de Bolsonaro, estava entre os confirmados, mas foi retirado dias atrás. Questionada pela reportagem desde a semana passada, a organização do evento não informou o motivo da alteração até o momento.

Política

Último tema a ser discutido na cúpula, a política será tema de debate entre Bolsonaro, políticos da Colômbia e do Chile e um magistrado venezuelano, que está exilado nos Estados Unidos. Trata-se de Miguel Ángel Martín, 51, presidente do Tribunal Supremo de Justiça "no exílio", que atua de fora do país e em junho decidiu anular as eleições de Maduro, sem sucesso.

Defensor de um Estado linha-dura e enxuto, José Antonio Kast, 52, reconhece que houve abusos de direitos humanos durante os 17 anos do governo Pinochet, em que mais de 3.000 pessoas morreram, mas defende indulto ou progressão de pena para "repressores que estejam na cadeia, mas já tenham idade avançada, doenças graves ou terminais". Católico, ele tem nove filhos.

A outra participante da mesa-redonda é a senadora colombiana María Fernanda Cabal, 53. Entre outras controvérsias, ela polemizou ao criticar o presidente Juan Manuel Santos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, por manifestar solidariedade aos franceses por conta dos ataques terroristas ocorridos em Paris em 2015, e "se calar" diante das Farc.

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