Número de PMs candidatos cresce 74% em SP; em 2014, só 1 foi eleito

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

  • Fábio Rodrigues Pozzebom - 16.jun.2016/ABr

    Único PM da ativa que conseguiu ser eleito em 2014 por SP, Capitão Augusto (PR) comemorou votação de PEC a favor da redução da maioridade penal para 16 anos

    Único PM da ativa que conseguiu ser eleito em 2014 por SP, Capitão Augusto (PR) comemorou votação de PEC a favor da redução da maioridade penal para 16 anos

O número de policiais militares que pediram afastamento à corporação para disputar as eleições subiu 74% este ano em relação a 2014. Quatro anos atrás, 38 PMs saíram candidatos em São Paulo, sendo 34 homens e quatro mulheres. Apenas um se elegeu, para o cargo de deputado federal.

Neste ano, devem ser 66 policiais da ativa na disputa: 54 homens e 12 mulheres. O levantamento feito pelo UOL tem como base os pedidos de desimcompatibilização feitos pelos policiais à corporação. Os dados foram publicados no DOE (Diário Oficial do Estado) e não incluem policiais aposentados.

Se em 2014 a maioria dos PMs se filiou ao PDT para a disputa, que lançou 10 nomes para deputado federal e estadual, agora o partido que mais tem engajado os militares é o PSL, encabeçado pelos candidatos a presidente, Jair Bolsonaro, e a senador, Major Olímpio.

A meta para este ano, segundo PMs que vão disputar o pleito de outubro, é de eleger em São Paulo ao menos cinco deputados estaduais, três deputados federais e um senador.

Quatro anos atrás, o resultado foi muito inferior ao objetivo deste ano. Dos 38 policiais militares que pediram afastamento para disputar a eleição de 2014, apenas o capitão José Augusto Rosa (PR), lançado a deputado federal, conseguiu ser eleito, com 46.905 votos. Ele agora vai tentar a reeleição.

Na campanha municipal de 2016, 112 policiais militares de São Paulo conseguiram se eleger vereador em cidades paulistas. 

PMs candidatos em campanha por Jair Bolsonaro
Caio Rocha /Fotoarena/Folhapress
22.dez.2017 - Bolsonaro posa para selfies em formação de sargentos da PM de SP

Apesar de filiado ao PR, Capitão Augusto afirma que fará campanha para Bolsonaro independentemente de quem seu partido apoiará --o PR faz parte do "centrão", que nesta quinta oficializou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB). "Cem por cento dos PMs, independentemente do partido, vão trabalhar por Bolsonaro. É a mesma ideologia. Não tem como apoiar outro candidato, não tem jeito", afirmou ao UOL.

Segundo o deputado federal, o crescente no número de PMs candidatos está ligado a um trabalho de base, feito nos últimos dois anos. "Venho fazendo uma conscientização política da PM. Quem não gosta de política é comandado por quem gosta. E aí, tendo em vista que o PM está 24 horas por dias com a comunidade, fizemos uma campanha para que PMs se engajassem politicamente", diz.

Dos 66 policiais militares da ativa que devem se lançar candidatos neste ano, 22 se filiaram ao PSL, partido de Bolsonaro. Presidente do partido em São Paulo, o deputado federal Major Olímpio afirmou que, apesar de dois terços estarem em outras siglas, a maioria dos policiais já declarou apoio à candidatura de Bolsonaro. "Mais de 90% desses candidatos estão comigo e com o Jair Bolsonaro, independentemente da legenda em que estão", disse.

Olímpio disse, também, que, ao todo, contando os demais partidos, haverá cerca de 90 candidaturas de policiais da reserva no pleito deste ano. "Ou seja, mais de 150 candidaturas só no estado de São Paulo, entre os da reserva e os da ativa", afirma. 

A favor de PM condenado e contra Comissão da Verdade

Em três anos e meio na Câmara dos Deputados, Capitão Augusto, que se apresenta com a farda da PM, trabalhou internamente por melhorias nas condições de vida policial. Dedicou-se inclusive a um policial condenado a 119 anos de prisão por envolvimento na maior chacina de São Paulo das últimas décadas.

Em um requerimento apresentado em 27 de março deste ano, Capitão Augusto pediu a instalação de uma comissão para "apurar, em São Paulo, a denúncia de que o policial militar de São Paulo Victor Cristilder está preso por um crime que não cometeu".

Cristilder foi condenado por júri popular sob acusação de participar de 12 dos 23 homicídios que ocorreram em Osasco, Carapicuíba, Barueri e Itapevi (SP), em agosto de 2015. O PM nega participação nos crimes.

Guilherme Rodrigues/Estadão Conteúdo
Victor Cristilder foi condenado a 119 anos, 4 meses e 4 dias de prisão

Segundo justificativa apresentava pelo deputado, "a acusação teria sido baseada em um testemunho falso, havendo a própria testemunha se arrependido e afirmado em vídeo que teria mentido para receber a recompensa de R$ 50 mil oferecida pelo governo para quem ajudasse na elucidação do crime".

Outro requerimento feito por ele, em 26 de junho deste ano, pede uma comissão para debater "possíveis ilegalidades ou excessos na reparação econômica concedida a anistiados políticos" feita por meio da Comissão da Verdade, em referência a crimes contra os direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985.

A comissão também teria o objetivo de "verificar possíveis omissões ou necessidade de complementação do trabalho realizado pela Comissão da Verdade, a fim de que também possam ser esclarecidos os atos de violação a direitos praticados contra agentes do Estado e contra a sociedade por aqueles que se posicionaram contra o governo militar".

Segundo a justificativa apresentada à Casa por Capitão Augusto, a Comissão da Verdade teve como resultando "um trabalho com viés ideológico, que se preocupou apenas com um lado dos acontecimentos. Se o que se buscava era o direito à memória e à verdade histórica, o trabalho deveria ter sido o mais abrangente possível, contemplando também aqueles que foram vítimas dos que se opunham ao governo militar. Afinal, meia verdade é uma mentira inteira".

Sensação de insegurança impulsiona PMs candidatos

Especialistas entrevistados pela reportagem apontam que a alta no número de candidaturas pode ter ligação com o aumento na sociedade da sensação de insegurança. Este fator também teria impulsionado Jair Bolsonaro.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), São Paulo registrou quedas recentes nos índices de homicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e roubos em geral. Mas não tem conseguido segurar uma crescente alta no número de estupros.

Num compilado, a gestão do governador Geraldo Alckmin terminou com índices crescentes em roubos e também nas mortes em supostos confrontos com a polícia, mas conseguiu reduzir homicídios, roubos de carro e furtos. Segundo o secretário Mágino Alves Barbosa Filho, "sem sombra de dúvida", as polícias de São Paulo "são a melhor força de segurança de todo o país".

O gerente do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, no entanto, argumenta que é preciso verificar se existe a intenção de os policiais montarem um projeto para fortalecer interesses militares, tendo em vista o aumento no número de candidaturas este ano.

O que a gente tem visto, tanto no Congresso, quanto no estado, é que esses policiais ficam numa defesa de interesses corporativos que, muitas vezes, são conflitantes com o interesse público

Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz

Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, compartilha desse ponto de vista. "A gente está vendo em São Paulo um movimento da própria PM para ampliar o seu poder. Eu não me surpreenderia se a gente visse um apoio da própria polícia para apoiar essas candidaturas", afirmou.

Já o corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes, acredita que a representatividade do policial militar na política faz bem para a segurança da sociedade. "Vamos imaginar que o representante da saúde será eleito. Ele vai lutar para melhorar a saúde pública. No caso do policial, vai lutar pela instituição, o que vai acabar refletindo de forma indireta para a sociedade", disse.

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