PSOL rebate pré-candidato e gera discussão sobre racismo dentro do partido
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo
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Pedro Vale/AGIF/Folhapress
Bandeira do movimento negro do PSOL durante ato em memória à Marielle Franco
Depois que um pré-candidato a deputado federal pelo PSOL-SP criticou o próprio partido, afirmando que a sigla é racista e não mantém coerência, o setor da negritude do PSOL rechaçou a acusação e lembrou quadros do partido que militam em causas antirracistas. O grupo diz que tem brigado por espaços e que é necessária uma política "cada dia mais negra".
Segundo a nota, o PSOL "nacionalmente é o partido que mais elegeu mulheres negras militantes antirracistas na última eleição, como as vereadoras Áurea Carolina, Talíria Petrone e Marielle Franco. Nesta eleição, serão dezenas de mulheres negras que expressam a manutenção e defesa do legado de Marielle e são candidatas pelo partido para disputar vagas nas assembleias legislativas, na Câmara Federal e no Senado. E há várias delas nas faixas prioritárias de campanha".
O pré-candidato Douglas Belchior enviou no último dia 12 uma carta ao partido requerendo informações de como a sigla iria repassar seus recursos financeiros aos candidatos nas eleições deste ano. A cobrança foi publicada em seu Facebook. Uma semana depois, o pré-candidato afirmou que ainda não havia recebido nenhuma resposta.
Historiador, Belchior disse ao UOL que a medida foi tomada depois de ter informações de bastidores que apontavam para uma "concentração dos recursos em torno de candidaturas brancas e de candidaturas que já são donatárias de mandatos, logo, já têm recursos, logo já usufruem de toda estrutura partidária". Ele dizia sentir que sua candidatura receberia menos aporte internamente do que as candidaturas de pessoas brancas.
Em nota nesta sexta, o setorial da Negritude do PSOL-SP afirma que apresentará mais de 60 candidaturas negras no estado, o que representa cerca de 37% dos nomes. "Em São Paulo, cerca de 35% da população se autodeclara negra (preta ou parda segundo o Censo 2010/IBGE). Nas candidaturas a federal, que são a prioridade votada pelo Diretório Nacional do PSOL, as candidaturas negras são 32,5% do total e receberão 36,02% do fundo eleitoral", complementa o partido, em nota.
Belchior esteve presente na convenção nacional do partido, que lançou Guilherme Boulos a candidato à Presidência, no último dia 21. Na última eleição que disputou pelo PSOL, em 2016, Belchior não se elegeu vereador na capital paulista, quando recebeu cerca de 11 mil votos. "Quando o PSOL for mais acolhedor ao povo negro, quando o PSOL for um partido mais radicalmente comprometido com a pauta negra, ele será, automaticamente, melhor, mais acolhedor e mais eficiente para o povo brasileiro, que é, na sua maioria, negro e que sofre por ser negro", afirmou o pré-candidato.
O partido diz que não aceita ser taxado de racista e pede respeito. "Não superamos o racismo estrutural e institucional no Brasil, mas não aceitamos ser taxados como um projeto racista - tal qual os apresentados por partidos de candidatos que se referem ao nosso povo usando arrobas como unidade de medida para nos desumanizar, ou que promovem ataques a nossas manifestações, conquistas, preceitos e datas celebrativas", diz a nota. "A luta da negritude do partido é árdua e diária, tanto dentro quanto fora, e é preciso que se respeite essa história e trajetória até aqui."
Fogo amigo nas redes sociais
A disputa, que teve início internamente, gerou atrito nas redes sociais entre filiados à sigla. O professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) Gilberto Maringoni, que se candidatou a governador de São Paulo pelo PSOL em 2014, afirmou em seu Facebook que "é inaceitável que alguém de esquerda vá para a grande mídia atacar seu próprio partido. É prática desleal e destrutiva".
O professor ainda questionou um curso popular coordenado por Belchior. "Ainda mais se a pessoa em questão atua em entidade financiada pela Open Society, agência estadunidense bancada, entre outros, por George Soros", escreveu Maringoni. O post gerou um debate com mais de 200 comentários, contra e a favor.
Maringoni ainda disse que "parece que o PSOL está diante de uma reedição do caso Daciolo, de triste memória. Ou seja, de alguém que busca a legenda em proveito próprio, sem respeito ao coletivo e a esquerda". Ele foi rebatido em um comentário: "Comparar uma liderança reconhecida do movimento negro brasileiro ao racista e direitista Daciolo é de uma infelicidade infinita."
Douglas rebateu Maringoni, afirmando que o professor estava criticando "a única coisa que tem: a força de trabalho". O historiador afirma que levará o caso ao Conselho de Ética do partido e que pretende processá-lo criminalmente por injúria e difamação.
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