Discreto, Eduardo Paes esconde "esqueletos" para iniciar campanha no RJ

Pauline Almeida

Colaboração para o UOL, no Rio

  • José Lucena/Estadão Conteúdo

Apenas três dias depois de assumir a pré-candidatura ao governo do Rio, o ex-prefeito Eduardo Paes chega à convenção estadual do DEM, marcada para domingo (29), tentando manter o estilo "low profile" e discreto, com seus "esqueletos" do passado devidamente no armário. O discurso do ex-prefeito deve ser focado no trabalho na iniciativa privada, e ele conta com uma equipe de forte atuação nos bastidores e aposta em uma coligação poderosa, unindo partidos do "centrão" fluminense.

À imprensa, Paes só admitiu a pré-candidatura na tarde de quinta-feira (26), após um encontro com o interventor federal no Rio, general Walter Braga Netto -- foi seu primeiro compromisso público. Ele disse que buscou a reunião para se atualizar sobre a segurança pública e, sem citar o governador Luiz Fernando Pezão (MDB), disparou que o estado vivia "uma falta de comando".

"Eu acho que não tem muito essa coisa de ser a favor ou contra a intervenção. A intervenção é necessária. De certa maneira, nós vivíamos uma falta de comando aqui no Rio. A intervenção acabou sendo necessária", declarou aos jornalistas. Eduardo Paes também adiantou que dois de seus eixos principais de campanha serão a reestruturação da segurança pública e a recuperação fiscal.

"Merda de lugar" X o estrelado céu de Maricá

Enquanto os rivais vinham divulgando uma agenda intensa de eventos pelo estado por meio das redes sociais, quem olhava a página de Eduardo Paes encontrava compromissos pela fabricante de automóveis BYD, empresa da qual se demitiu agora para entrar na corrida eleitoral, fotos da família e alguns posts sobre conquistas à frente do Executivo carioca.

Curiosamente, além de uma imagem com pessoas em Madureira, a única publicação que saía desse perfil era a presença no "feijão amigo" em Maricá, município que chamou de "merda de lugar" em um telefonema com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Paes confirmou que foi o único local que visitou na pré-campanha e ainda disse ter sido bem bem recebido. "Tudo ótimo. Problema nenhum. (...) Um dia, eu ainda canto o meu samba lá", prometeu.

O samba a que se refere veio a público este ano e tem versos como "eu já rodei o mundo e posso afirmar, não existem mais estrelas no universo do que no céu de Maricá". Segundo o ex-prefeito, a composição foi feita por ele, Arlindo Cruz e Marquinhos de Oswaldo Cruz ainda em 2016, ano em que vazou o áudio dele com o ex-presidente Lula.

E é justamente de Maricá que pode sair seu candidato a vice, sendo o deputado federal Marcelo Delaroli (PR) o mais cotado para o cargo, mesmo após a divulgação de uma carta enviada pelo parlamentar no início do mês de julho, em que ele critica -- sem citar o nome -- Paes.

Invocando a necessidade de um governo que se volte para o interior, Delaroli escreve "até por ter nascido em Maricá, uma cidade que ao ser atacada por um ex-prefeito do Rio se transforma num símbolo do desprezo com os políticos da capital tratam o interior." Embora não confirme a composição da chapa, Paes tentou minimizar a polêmica. "O deputado Delaroli é uma figura que eu respeito muito e tenho muita admiração", defendeu.

Mais do que a aversão ou o amor por Maricá, o ex-prefeito do Rio terá que explicar ao eleitorado a coligação com o MDB, partido que deixou há quatro meses para fugir do desgaste dos escândalos de corrupção que levaram à cadeia nomes como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

O deputado federal Leonardo Picciani, presidente estadual do MDB no Rio e filho do ex-presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani (também preso por corrupção), argumentou que Eduardo Paes é o pré-candidato com "melhores condições políticas, administrativas, de, vencendo a eleição, (...) trabalhar pela recuperação do estado".

Sem nomes para as eleições majoritárias no estado, este ano, o MDB vai em busca de bancadas expressivas no Legislativo. E, apesar dos 12 anos à frente do governo do Rio e das denúncias de corrupção que envolvem correligionários, o discurso da legenda será o de "renovação".

"O partido é muito amplo, com uma atuação bastante significativa em defesa do estado, com quadros políticos bastante consolidados, com uma grande militância, capilaridade. O partido tem convicção que disputará as eleições e disponibilizará seus melhores quadros para avaliação da população. Evidentemente, há as denúncias que envolvem companheiros do partido, mas que não estarão disputando esta eleição, o quadro é de nomes renovados", argumenta Leonardo Picciani.

Eduardo Paes fala sobre polêmica com a cidade de Maricá

O DEM na costura do "centrão"

A filiação ao Democratas marcou para Eduardo Paes a volta ao grupo de César Maia, também ex-prefeito de Rio, que já foi seu padrinho político. Dez anos depois da eleição que os dividiu, quando Paes se elegeu prefeito com ácidas críticas ao ex-aliado e antecessor no Executivo municipal, os dois se reencontram. À época, César Maia chegou a chamar Paes de Dudu Milícia, relembrando uma entrevista dada pelo rival em 2006, em que ele fazia a defesa da chamada "polícia mineira", início das milícias no Rio de Janeiro, como um bom exemplo na área de segurança.

Questionado sobre a relação entre eles hoje, o vereador diz que o "que importa agora é a eleição de 2018". Eduardo Paes foi além. "É o meu senador", referindo-se ao cargo que César Maia disputará. Apesar de inicialmente ter se colocado fora das eleições este ano, o atual vereador concorrerá ao Senado, segundo ele, atendendo a decisão tomada nacionalmente pelo Democratas. 

César Maia, que é pai do presidente da Câmara Rodrigo Maia, confirma que o acordo fechado nacionalmente pelo "centrão" para apoiar o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) afetou o cenário no Rio de Janeiro. O pré-candidato ao governo do estado pelo PSD, deputado federal Indio da Costa, vinha dialogando com o PSDB, por exemplo, mas não deve fechar com os tucanos. "O natural é o PSDB estar em nossa coligação", adiantou Maia, que vê no bloco a chance de garantir a ida ao segundo turno.

À imprensa, Eduardo Paes informou que as tratativas estão sob responsabilidade de Rodrigo Maia, sem adiantar detalhes. O DEM espera contar com PSDB, Solidariedade, PP, PR, ficando de fora apenas o PRB, que deve apoiar Anthony Garotinho, entre o grupo do Centrão. Além disso, conversa com PV e PPS.

O bloco pode render a Eduardo Paes cerca de seis minutos de tempo de TV, mais da metade da propaganda eleitoral gratuita, espaço importante de mobilização e conversa com o eleitorado, inclusive para rebater acusações, já que Paes deve ser o alvo preferido dos adversários por sua ligação com o atual grupo no poder.

Mais "esqueletos"

O MDB traz várias "dores de cabeça" a Eduardo Paes, que concorrerá ao Palácio Guanabara com a elegibilidade garantida por uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral. Ele e o deputado federal Pedro Paulo são acusados de utilizar um planejamento estratégico pago pela Prefeitura do Rio como plano de governo nas eleições municipais de 2016 -- quando Pedro Paulo, hoje também no DEM, disputou como candidato do MDB a sucessor de Paes.

A dupla ainda é acusada pelo marqueteiro Renato Pereira e pelo executivo da Odebrecht Leandro Azevedo de ter arrecadado dinheiro para caixa 2 de campanha, o que ambos negam. Fechando as polêmicas trazidas pela década no MDB, o ex-prefeito tem Sergio Cabral e a participação no episódio conhecido como Farra dos Guardanapos, ocorrido em Paris em 2009, que levou o Ministério Público Federal à descoberta de um esquema de propina para a compra do Rio como sede das Olimpíadas.

Após a convenção de domingo, Eduardo Paes não poderá mais se omitir da cena pública e passará a ser cada vez mais alvo dos adversários, que já começaram e não devem parar de expor o passado do ex-prefeito.

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