Janaina recusa convite para vice de Bolsonaro e abre espaço para "príncipe"

Do UOL, em São Paulo*

  • ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

    30.jul.2018 - Advogada Janaina Paschoal acompanha Bolsonaro na gravação do Roda Viva, da TV Cultura

    30.jul.2018 - Advogada Janaina Paschoal acompanha Bolsonaro na gravação do Roda Viva, da TV Cultura

A advogada Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), anunciou neste sábado (4) que recusou formalmente o convite do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) para ser vice dele na chapa para a eleição presidencial.

Em nota publicada em sua conta no Twitter, a professora de Direito alegou que, em caso de vitória, não poderia se mudar para Brasília por motivos familiares.

"Conversei com o Dep. Bolsonaro e com o Pres. do PSL, Dr. Gustavo Bebiano, e cheguei à conclusão de que, neste momento, não tenho como concorrer à Vice-Presidência. Por questões familiares, por ora, eu não posso me mudar para Brasília. A minha família não me acompanharia", escreveu Janaína.

"Eu tentei todas as composições possíveis. Peço desculpas ao Brasil e prometo, esteja onde estiver, com ou sem cargo, continuar lutando por um país livre. Acima de tudo, um país de mentes livres. Essa tem sido minha luta, desde que nasci. Acho até que nasci para isso!", seguiu.

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Em seu comunicado, a advogada agradeceu o convite e as manifestações de apoio de Bolsonaro e sua equipe e ressaltou que o presidenciável "não é machista" e "não é autoritário", acusações que se costumam fazer ao candidato.

"Sou testemunha de que Bolsonaro não é machista. Ele me tratou de igual para igual, desde o primeiro momento. Sou testemunha de que ele não é autoritário, cedeu em muitos pontos. Todos puderam constatar a sua tolerância com os meus posicionamentos", afirmou.

Discurso irritou aliados

No último sábado (28), durante convenção nacional do PSL que oficializou a candidatura de Bolsonaro, Janaina Paschoal fez um discurso que surpreendeu e irritou aliados do presidenciável.

Na ocasião, a advogada pediu moderação e tolerância aos seguidores do deputado. Ela criticou a defesa de um pensamento único e defendeu que é necessário pensar na governabilidade. "Não se ganha a eleição com pensamento único. E não se governa uma nação com pensamento único", disse Janaína. "A minha fidelidade não é ao deputado Jair Bolsonaro. A minha fidelidade é ao meu país", completou.

Ela também tocou em assuntos como drogas e aborto e disse que se trata de uma discussão sobre direito. Janaina ainda recomendou aos presentes na convenção que não era necessário sair "falando para as pessoas acreditar em Deus". A fala irritou alguns pastores evangélicos presentes ao ato.

Ontem, na GloboNews, Bolsonaro disse discordar do discurso da correligionária, mas afirmou que a respeitava. "Não concordo que nós somos o PT ao contrário. Somos o contrário do PT", afirmou, defendendo-a. "Ela é uma mulher de valor, que sofreu muito pela questão do impeachment. Ela está dentro da USP, da esquerda."

Vice "príncipe"

Com a negativa de Janaina Paschoal, fica cada vez mais próximo o acerto entre Bolsonaro e Luiz Philippe de Orléans e Bragança, membro da família real brasileira e chamado de "príncipe". Ontem, em entrevista ao programa Central das Eleições, da GloboNews, o presidenciável afirmou que seu vice seria um dos dois e disse que o anúncio deverá ser feito neste domingo (5), durante a convenção do diretório de São Paulo do PSL.

Luiz Phillippe Orleans e Bragança, 49, é apresentado como ativista político e líder do Movimento Liberal Acorda Brasil. Ele se identifica como descendente da "família imperial brasileira", mas informa que não está na linha sucessória em um eventual regresso do regime monarquista no país. É pré-candidato a deputado federal de São Paulo pelo PSL de Bolsonaro.

No mês passado, o ativista, justificando que não dá para mudar o Brasil com a Constituição atual, "que beneficia os burocratas", informou que ele e "um grupo de ativistas altamente qualificados" estão escrevendo uma nova Constituição, "que devolve o poder para a sociedade".

No fim da tarde deste sábado, o perfil oficial do PSL no Instagram publicou uma foto em que Luiz Philippe aparece ao lado de Bolsonaro, acompanhados ainda pelo presidente em exercício do partido, Gustavo Bebianno (à esquerda), e pelo vice-presidente da sigla, Julian Lemos (à direita).

A legenda da imagem intrigou os seguidores e apoiadores do presidenciável: "A história sendo reescrita". "É oficial?", questionou um usuário, que ficou sem resposta. Questionado pela reportagem, Lemos, que postou a foto originalmente, negou que tenha sido um anúncio e disse que só Bolsonaro sabe quem será o vice. 

A história sendo reescrita.⠀ ⠀ #Regram @julianlemosdaseguranca⠀ ⠀

Uma publicação compartilhada por Partido Social Liberal - PSL (@psl_nacional)

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Até esta sexta-feira (3), no entanto, o PRTB mantinha em aberto a possibilidade de se coligar ao PSL e indicar o general da reserva do Exército Antônio Hamilton Martins Mourão como vice de Bolsonaro. Para viabilizar a aliança, o partido abriria mão de lançar o presidente nacional da sigla e pré-candidato à Presidência, Levy Fidelix.

Presidente do Clube Militar desde o fim de junho, Mourão saiu da ativa do Exército em fevereiro desse ano causando polêmica. Durante a cerimônia de despedida, ele chamou de "herói" o coronel Carlos Brilhante Ustra (1932-2015), ex-chefe de um dos principais órgãos da repressão durante a ditadura militar e acusado de inúmeros crimes pela Comissão Nacional da Verdade.

No ano passado, ele afirmou em uma palestra que seus "companheiros do Alto Comando do Exército" entendem que uma "intervenção militar" poderia ser adotada se o Judiciário "não solucionar o problema político" do país.

Jair Bolsonaro aparece em segundo lugar nas principais pesquisas de intenções de voto para a corrida presidencial, atrás apenas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem o petista, o deputado federal lidera.

* Com Estadão Conteúdo e colaboração de Gustavo Maia, em Brasília

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