Oportunismo ou igualdade? Por que presidenciáveis buscaram vices mulheres

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • AFP PHOTO / EVARISTO SA

    Ana Amélia (PP) foi escolhida para vice na chapa do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB)

    Ana Amélia (PP) foi escolhida para vice na chapa do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB)

A novela dos vices na disputa pelo Palácio do Planalto teve capítulos decisivos neste fim de semana. Ciro Gomes, candidato do PDT, escolheu uma colega de partido, a senadora Kátia Abreu, depois do fracasso nas negociações com o PSB. A parlamentar foi a quarta mulher indicada a vice na corrida presidencial de 2018, oito anos depois de Dilma Rousseff (PT) ser a primeira mulher eleita chefe de Estado do Brasil.

Antes de Kátia Abreu, haviam sido escolhidas Ana Amélia (PP), por Geraldo Alckmin (PDSB); Sônia Guajajara (PSOL), por Guilherme Boulos (PSOL); e Suelene Balduino Nascimento, por Cabo Daciolo (Patriota).

E esse número pode aumentar. Na noite de domingo (5), o PT e o PCdoB fecharam aliança e, com isso, a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB) deve ocupar o posto de vice da chapa com o ex-prefeito petista Fernando Haddad, caso se confirme a inelegibilidade do ex-presidente Lula.

O pleito deste ano tem uma mulher a mais na posição de vice na comparação com 2014.

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Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, a opção de candidatos homens por mulheres para o posto de vice é ao mesmo tempo um oportunismo eleitoral, visto que alguns sofrem com rejeição de fatia relevante do eleitorado feminino, e fruto de uma perspectiva estratégica das campanhas, pois alguns nomes apresentados seriam potenciais agregadores de votos.

Para o historiador e cientista político Francisco Carlos Teixeira da Silva, "não adianta indicar uma mulher se ela não está inserida de forma evidente no campo das lutas femininas". O acadêmico disse entender que as escolhas de presidenciáveis como Alckmin e Ciro são inócuas, pois não contribuem para elevar a representatividade da mulher no cenário político nacional.

"Não muda em nada se isso é apenas um efeito vitrine", disse ele, que é doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Berlim e professor da Ufrj (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Acaba sendo puro oportunismo pois não há uma agenda no campo das lutas femininas", completou.

Silva declarou ainda considerar que mesmo a perspectiva pragmática das nomeações não deverá surtir efeito para candidatos como Alckmin e Ciro. Na visão dele, as vices não ajudariam a atacar a rejeição por parte do eleitorado feminino e, consequentemente, ampliar o alcance eleitoral. "É um completo placebo político. Sabe-se tão claramente disso que os nomes foram garimpados dentro do campo conservador", comentou.

Além de representar quase um terço dos nomes selecionados para o posto de vice, três mulheres se lançaram no embate pela Presidência. São elas Marina Silva (Rede), Manuela D'Ávila (PCdoB) e Vera Lúcia (PSTU) --mesmo número da eleição em 2014.

A pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre o Congresso, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Carolina de Paula afirma que a preferência por vices mulheres pode ter "um pouco das duas coisas", isto é, à medida que as campanhas buscam mais diálogo com o eleitorado feminino, também se valem de circunstâncias políticas nas quais esses nomes estão envolvidos.

No caso de Ciro Gomes, por exemplo, Carolina avalia que a escolha do pedetista "atrai o interesse do agronegócio" e pode levar a bons resultados eleitorais nas áreas rurais. Também ajudaria, segundo ela, a agregar uma ideia de candidatura "um pouco mais situada ao centro", dado o perfil do senadora.

Kátia, que se notabilizou como líder da bancada ruralista no Congresso, foi ministra da Agricultura no governo Dilma Rousseff e acabou expulsa de seu ex-partido, o MDB, depois de atuar em defesa da ex-presidente no processo de impeachment, em 2016, e de fazer oposição ao presidente Michel Temer no Senado. Ela também já foi eleita a "Miss Desmatamento" pela ONG Greenpeace, em 2009.

"Essas escolhas também passam pelo perfil dessas pessoas e pelas ideias que elas proporcionam. Não são escolhas aleatórias. Se fosse por isso, por exemplo, o Alckmin não teria escolhido a Ana Amélia, só pelo fato de ela ser mulher. O perfil da Ana Amélia é muito próximo ao que ele já tem, mas contribui para a sua estratégia de campanha de buscar a polarização", comentou ela, que é pós-doutoranda em Ciência Política pela Uerj.

Além disso, a pesquisadora lembra que Ana Amélia é gaúcha e pode dar mais visibilidade à campanha do tucano na região Sul do país --onde ele travará embates eleitorais acirrados com nomes como Álvaro Dias (Podemos) e Jair Bolsonaro (PSL).

"Se não fosse também uma estratégia, ele poderia muito bem pensar em colocar uma mulher do Nordeste [onde o PT e os partidos do campo progressista são tradicionalmente mais fortes]. Ou mesmo aqui do Rio, onde o PSDB não tem tanto espaço. Não é só isso [escolher vice só por ser mulher], essas outras questões também entram", explicou Carolina.

Até o momento, a única das quatro mulheres indicadas a vice natural do Nordeste é Sônia Guajajara, nascida no Maranhão e identificada com a luta da causa indígena.

Além dos nomes já definidos, duas mulheres foram cotadas para a função de vice em chapas de presidenciáveis. A advogada Janaina Paschoal (PSL) era a principal alternativa de Bolsonaro, mas acabou recusando o convite e levou o candidato a escolher, neste domingo (5), o general Antônio Hamilton Martins Mourão (PRTB). Já Marta Suplicy, que está em seu último ano de mandato no Senado e anunciou recentemente a desfiliação do MDB, não aceitou ser vice de Henrique Meirelles (MDB).

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