Operação Lava Jato

Paes quer apoio da Lava Jato no Executivo, mas sem "aula de honestidade"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Citado em duas delações premiadas na Lava Jato, o ex-prefeito e candidato do DEM ao governo do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, declarou nesta quarta-feira (8) que, se eleito, pedirá à força-tarefa liderada pelo MPF (Ministério Público Federal) apoio no combate à corrupção dentro da máquina pública do Executivo.

A colaboração da Lava Jato se daria por meio da implementação de uma secretaria, batizada "Integridade Pública e Transparência", que seria responsável por criar um sistema de fiscalização e controle da atividade pública no Rio. A proposta foi discutida hoje em uma reunião entre Paes e o procurador-geral de Justiça do estado, Eduardo Gussem, na sede do Ministério Público do Estado.

O candidato elogiou o trabalho da força-tarefa da Lava Jato e, questionado sobre qual seria o papel dos procuradores no combate à corrupção dentro do Executivo, respondeu apenas que isso ocorreria na elaboração de um "sistema". Segundo o ex-prefeito, o objetivo não é chamar o Ministério Público Federal para "ficar dando aula de honestidade".

"Hoje você tem sistemas. O desafio é construir um sistema dentro do estado que possa funcionar sistematicamente. Não é ficar dando aula de honestidade. Você aprende valores na sociedade, em casa, e você cria o sistema de controle para impedir que as pessoas que desviem ou, quando desviarem, sejam identificadas. A Lava Jato trouxe uma contribuição enorme disso."

Até abril deste ano, Paes --que esteve à frente da Prefeitura do Rio entre 2009 e 2016-- era do MDB, partido cujas principais lideranças estão diretamente associadas ao grandioso esquema de corrupção revelado pela Lava Jato no estado. Foi aliado do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso desde novembro de 2016 e que já acumula mais de 120 anos em condenações por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

O ex-prefeito foi citado nos acordos de colaboração premiada da Odebrecht e do marqueteiro Renato Pereira, responsável pelas campanhas do MDB em eleições anteriores. Ele foi identificado pelo codinome "Nervosinho" nas planilhas da empreiteira, e os executivos que fecharam delação afirmaram que ele teria recebido caixa dois.

Sob investigação, as informações não foram comprovadas até o momento e, consequentemente, não resultaram em denúncia à Justiça. Por esse motivo, o candidato afirma não ter constrangimento para apresentar seu nome à sociedade.

"Nenhuma das delações é explícita em mim. Não me acusam nem de desvio nem de propina. Isso é um fato, não tenho constrangimento nenhum. Eu tenho convicção de não ter praticado ato nenhum desses. Por isso estou aqui e me candidato a governador, defendo com muita honra o meu governo", declarou.

Paes disse que estaria se tornando o "rei das delações negativas". Segundo ele, o relato dos delatores não contém qualquer acusação referente a pagamento de propina. "Não tem nenhum agente privado ou delator que tenha feito qualquer referência a cobrança de propina, desvio, aditivos na máquina pública da prefeitura com a minha participação."

Denúncia contra ex-secretário

O concorrente ao governo do RJ fez um mea-culpa e disse "assumir a responsabilidade" pela indicação do ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto, preso e denunciado na Lava Jato por instituir um esquema de cobrança e pagamento de propina na pasta.

Os recursos ilícitos teriam sido pagos por empreiteiras, de acordo com a Lava Jato, no período em que Paes estava à frente do governo. Não há, no entanto, informações que indiquem a participação do ex-prefeito.

"Problemas aconteceram no governo, são públicos e notórios. Inclusive não era um quadro político, era um quadro técnico. Eu assumo a responsabilidade por ter escolhido esse quadro técnico. E fico triste hoje de não ter tido sistemas de controle ainda mais efetivos que me permitissem detectar isso. Até evitaria o constrangimento de hoje ter que assumir a responsabilidade por ter nomeado alguém que roubou", comentou.

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