Bolsonaro dribla polêmicas no "JN" e leva bronca de Renata Vasconcellos

Do UOL, em São Paulo

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, driblou a pressão para se posicionar sobre temas polêmicos durante sua entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, nesta terça-feira (28), e acabou levando uma bronca da apresentadora Renata Vasconcellos em uma resposta sobre desigualdade de salários entre homens e mulheres.

Líder nas pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro disse que a atual lei trabalhista já garante a igualdade salarial e insinuou que Renata não ganharia o mesmo que William Bonner, com quem divide a bancada do "JN". 

"Eu poderia, até como cidadã e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questões sobre os seus proventos. O senhor é um funcionário público, um deputado federal há 27 anos, e como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor que, como mulher, jamais eu aceitaria um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu", respondeu a jornalista.

Além de apresentadora, Renata é editora-executiva do telejornal; Bonner, editor-chefe, posição hierárquica superior à dela.

"Você pode ter certeza, né. Vocês vivem em grande parte aqui de recursos da União, são bilhões que recebe o Sistema Globo de recursos da propaganda oficial do governo", retrucou o presidenciável.

Leia também:

Logo em seguida, Bolsonaro foi perguntado sobre suas declarações em apoio à retirada de direitos trabalhistas como forma de garantir empregos, mas não disse de forma objetiva quais direitos seriam retirados com seu apoio.

O deputado federal, que está no Congresso desde 1991, também não respondeu diretamente quando questionado sobre o que o diferenciava de outras pessoas que fizeram da política uma profissão, inclusive estimulando a eleição de parentes -- no caso, seus filhos.

"A minha família é limpa na política", defendeu-se Bolsonaro. "Ninguém é obrigado a votar nos meus filhos." Atualmente, ele tem três filhos na política: Eduardo (deputado federal por São Paulo), Flávio (deputado estadual pelo Rio de Janeiro) e Carlos (vereador no Rio).

Reprodução/TV Globo
Com anotações na mão, Bolsonaro participa de entrevista no JN

Candidato questiona apresentadores

Os jornalistas também apontaram a contradição de o deputado ter mudado atitudes apenas após a exposição de irregularidades --nesse caso, foi citado o fato de ele ter recebido auxílio-moradia até março deste ano mesmo possuindo um apartamento próprio em Brasília.

"Eu estava em um cubículo em Brasília", afirmou, citando que o apartamento deixado possuía "apenas 70 metros quadrados". "E a pejotização de vocês que é ilegal também?", indagou aos apresentadores, sobre o formato de remuneração deles, via pessoa jurídica.

Outro "drible" do candidato do PSL que também soou como provocação a Bonner ocorreu após o âncora dizer que Bolsonaro não teria como garantir a permanência, em um eventual governo, do economista Paulo Guedes -- sempre mencionado pelo deputado quando perguntado sobre assuntos de economia.

"Até o momento da nossa separação, nós não pensamos numa mulher reserva", disse Bolsonaro dirigindo-se a Bonner, cuja separação da apresentadora Fátima Bernardes, em 2016, foi anunciada publicamente. "Quando nós nos casamos, juramos fidelidade eterna." O presidenciável afirmou ainda não acreditar que Guedes deixe seu eventual governo. "Nós estamos imbuídos em buscar dias melhores para o nosso Brasil", declarou.

Os apresentadores e o parlamentar entraram em novo embate após uma pergunta em que os jornalistas relembraram declarações homofóbicas de Bolsonaro. Durante a resposta, o deputado quis exibir um exemplar de um livro de educação sexual voltado para crianças, no que foi repreendido pelos jornalistas, porque mostrar documentos seria contra as regras acordadas para a entrevista.

Na mesma fala, Bolsonaro chegou a pedir desculpas por suas frases homofóbicas, alegando que "foi um momento de temperatura alta", mas disse que estava "defendendo as crianças em sala de aula".

Combate à violência

Bolsonaro não se desviou, no entanto, quando confrontado sobre sua posição de que a violência do tráfico de drogas deve ser combatida "com mais violência ainda". Os apresentadores ponderaram que isso poderia levar a mais mortes de inocentes em regiões dominadas pelo crime organizado.

"Se um bandido está com um [fuzil] 762 atirando, tem que ter uma [metralhadora].50", afirmou, defendendo que policiais que matarem criminosos têm que ser condecorados. "Esse tipo de gente, você não pode tratar como um ser humano normal."

O candidato repetiu o expediente de relembrar o apoio de Roberto Marinho (1904-2003), fundador da TV Globo e cuja família é dona do Grupo Globo, à ditadura militar (1964-1985), como já havia feito em entrevista à GloboNews. Ao fim do "JN", Bonner leu nota em que a Globo confirma a posição de Marinho, mas menciona também que o jornal "O Globo" já reconheceu, em editorial, o apoio à ditadura como um erro.

A menção a Roberto Marinho veio depois de pergunta sobre declarações do general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, de que seria necessário "impor uma solução" por meio dos militares em caso de "caos" no país. O candidato do PSL disse ter entendido a frase como um "alerta" de Mourão. Ele voltou a dizer que não houve golpe em 1964 e que os cinco generais do período militar foram "eleitos". Os presidentes militares da época foram escolhidos indiretamente pelo Congresso ou por meio do Colégio Eleitoral.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos