Gadêlha admite visibilidade por namorar Fátima e susto com Kátia Abreu vice

Roberto Oliveira

Colaboração para o UOL, no Recife

  • Roberto Oliveira/UOL

    Túlio Gadêlha, candidato a deputado federal por Pernambuco, concede entrevista ao UOL

    Túlio Gadêlha, candidato a deputado federal por Pernambuco, concede entrevista ao UOL

A fala serena e pausada de Túlio Gadêlha contrasta com a firmeza de posições e com a inquietude das mãos, com as quais ele abusou dos gestos e anotou números à caneta azul ao longo de pouco mais de uma hora de entrevista concedida ao UOL, na semana passada, em um café no bairro do Espinheiro, no Recife.

Candidato a deputado federal pelo PDT pela segunda vez e coordenador na região metropolitana do Recife da campanha de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República, o pernambucano de 30 anos se disse aliviado com o afastamento do chamado centrão da candidatura pedetista ao Planalto. O que para ele "foi excelente", explicando preferir alianças no campo da esquerda.

Ligado às lutas agrárias, Gadêlha, formado em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), assumiu também durante a entrevista o susto e o incômodo com a presença da ruralista Kátia Abreu, senadora por Tocantins, como candidata a vice-presidente na chapa do PDT. "E ainda me assusta um pouco."

Enquanto se lança mais uma vez em uma eleição, Túlio Gadêlha convive com a visibilidade que ganhou após assumir namoro com a apresentadora Fátima Bernardes, da TV Globo. Para ele, os holofotes trazidos pelo relacionamento podem ajudá-lo ou atrapalhar. Ao final da entrevista, revelou saudade da global, a quem não via havia quase um mês. "Saindo daqui, vou no aeroporto buscar a namorada."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Tulio Gadêlha:

UOL: No manifesto de sua candidatura, você coloca a necessidade de renovação e diz que "pode representar essa mudança porque enxerga a política de um modo muito diferente". Como você enxerga a política?

Tulio Gadêlha: As pessoas estão se sentindo menos representadas pelos seus representantes e a forma de a gente mudar as coisas na política é participar dela no cotidiano, através de conferências, conselhos, audiências públicas, através da conscientização política do nosso papel enquanto cidadão. O eleitor tem a sensação de estar exercendo a cidadania quando vota, que ali acabou a participação dele, quando na verdade o que a gente quer despertar são consciências coletivas no sentido de trazer essas pessoas pra discutirem aspectos sociais independente do período de eleição.

E eu digo que enxergo a política de uma maneira diferente porque não sou filho de empresário, não sou filho de políticos, não tenho interesse em defender pessoas ou grupos políticos dentro da política, que muitas pessoas entram pra disputar mandato com esse intuito. Eu vejo de forma diferente porque tenho a vida de uma pessoa comum, só que dediquei parte da minha vida a questões sociais e políticas, através de meu partido.

A que serviria seu eventual mandato de deputado federal?

Primeiro para se fazer justiça social. E pra isso a gente precisa entender que precisamos dar igualdade de oportunidades às pessoas. Elas nunca vão ter igualdade de oportunidade se elas têm educações diferentes, condições de vida diferentes. Pra ter igualdade de oportunidade, desde a educação básica ao ensino superior, a gente precisa discutir a federalização da educação de base.

(...) E quando se fala em justiça social, além da igualdade de oportunidades, tem que falar em justiça social para as pessoas do campo, os trabalhadores do campo, a gente tem em Pernambuco mais de 800 assentamentos e acampamentos de agricultores que não têm nem um pedaço de terra pra plantar. É uma questão até humanitária você resolver essas questões dos conflitos agrários e o desenvolvimento dessas unidades produtivas.

Você tem insistido na crítica à velha política. Como sair do discurso do novo que se repete para a transformação real da política no Brasil?

Elegendo pessoas que tenham legitimidade e autonomia pra exercer um mandato legislativo. Por exemplo, em 2010 tivemos mais de 20 jovens na assembleia legislativa de Pernambuco. Do total de 49 mais de 20 eram jovens que tinha menos de 35 anos, mas todos eram filhos de políticos, senador, prefeito, ex-deputado, ou seja, o que estamos renovando? Eu falo que a gente tem renovado as caras, mas não as práticas. Precisamos renovar as práticas. Porque rostos novos aparecem na política, mas para defender os interesses daquela família, daquele grupo, e não interesses sociais. E geralmente essas pessoas que vêm de uma oligarquia, grupo familiar já inserido na política, não têm a vivência de um cidadão comum.

Você tem destacado a importância das alianças ideológicas, programáticas, mas o PDT não apenas dialogou como fez esforços para fechar com o dito centrão na corrida presidencial. Não é uma contradição do PDT?

Em toda candidatura majoritária, você tem o programa e durante a construção das alianças você faz algumas concessões. Mas eu sou do campo político do PDT que defende aquele programa do Ciro na integridade e não queríamos que fosse feita nenhuma concessão. Só que dentro desse sistema político a gente precisa ter aliados, por isso parte do PDT se dispôs a fazer esse diálogo - eu não me insiro nela. Achei excelente que esses partidos do centrão não tenham migrado para o nosso campo político, porque a gente permanece mais coerente com aquilo que a gente definitivamente acredita. (...) Sei que torna mais difícil o cenário pra gente, porque diminui muito tempo de TV, muitos palanques que o partido poderia ter apoio, mas acho que o momento político está muito propício à candidatura de Ciro e do PDT, porque o próprio PT tem feito essas concessões com partidos que apoiaram o impeachment e estão hoje dentro do governo Temer, e as pessoas já não estão mais aceitando isso.

Esse centrão, que hoje está na base de Alckmin [PSDB], é um grupo muito pragmático, muito carguista, e faz da política uma forma de ganhar a vida, sem defender os interesses das pessoas da sociedade. Eu fiquei muito aliviado
Gadêlha sobre o centrão não se aliar a Ciro Gomes

Como você avalia o "caso Marília Arraes" e a articulação do PT para distanciar o PSB da campanha de Ciro Gomes?

Foi pouco coerente. Se você olhar aqui para Pernambuco, a gente tem 25 deputados federais, 18 votaram a favor do impeachment [de Dilma Rousseff, em 2016], 6 contra e um se absteve. De 18, 6 eram do PSB. Se você olhar nacionalmente, o PSB fez essa diferença, de afastar uma presidente que foi eleita com voto popular. E o golpe foi dado com a ajuda do PSB, que é um partido que tem uma história e um legado no campo da esquerda, só que seus dirigentes hoje não estão à altura da história do seu partido. (...) E agora aqui em Pernambuco eles tentam construir essa aliança com o PT, que não tem nada de programática, e que na verdade nem aliados são. O intuito dessa aliança é apenas a retirada da candidatura de Marília (PT) para acalmar o PSB e enfraquecer Ciro.

Mas o PDT ainda está no governo de Paulo Câmara (PSB)...

Sim, está, e é um absurdo. Olha, esse não é o PDT que eu faço parte, eu deixei isso bem claro já em vários momentos. Aqui em Pernambuco há mais de 20 anos é uma comissão provisória que está no comando do PDT, que está nas mãos da mesma família, a gente tem há 20 anos o PDT presidido por José Queiroz, que foi prefeito de Caruaru, e agora vai chegar a cinco anos o PDT sendo presidido pelo seu filho, Wolney Queiroz, que é deputado federal. Nada contra as pessoas, mas contra a forma como o partido se estrutura no estado, um partido que devia ser democrático.

Divulgação
Kátia Abreu é candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes

Você é reconhecidamente ligado à questão agrária, mas a candidata a vice na chapa de Ciro Gomes é Kátia Abreu, ruralista que ficou conhecida pelo prêmio "motosserra de ouro". Tê-la na chapa que você defende não lhe incomoda?

Definitivamente, eu não acho que o caminho deveria ser por aí. Porque nunca simpatizei muito com a própria Kátia pela questão indígena, agrária, a questão dos movimentos que discutem a função social da terra
Gadêlha sobre Kátia Abreu ser vice na chapa de Ciro

Mas a Kátia vem fazendo gestos de mudança de comportamento político, ela tem revisado sua forma de agir politicamente, e o convite pra ela pelo PDT foi um reconhecimento do partido que ela tem tentado dialogar mais com os movimentos sociais. Acho que ela tem muito ainda a mostrar pra gente se sentir mais seguro, a gente que faz parte dos movimentos sociais, mas o susto eu tive e ainda me assusta um pouco (risos).

Você foi visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas horas que antecederam a prisão dele. Por quê?

Lula a meu ver é um preso político, não há comprovação hoje de ganhos com relação ao mérito da causa. E a prisão dele obedeceu ao calendário eleitoral, no sentido de que um dia antes da prisão era o último dia pra que os partidos tivessem pessoas filiadas que pudessem disputar mandatos, ou seja, o próprio juiz Sérgio Moro, um juiz parcial, observou isso muito cuidadosamente pra tentar esvaziar o palanque do PT nessas eleições e com isso tentar enfraquecer o campo de esquerda.

Perceba que minha visão é muito técnica e discutida sem fazer política com o fígado, porque o que o PT tem feito com Ciro é um dissenso, é uma valsa à beira do abismo. Ciro hoje se coloca como um dos principais candidatos no campo de esquerda, que é o campo que a gente pertence hoje, e o projeto do PT parece muito mais um projeto de poder do que um projeto de governo. Eu fico extremamente chateado quando eu vejo companheiros de esquerda defendendo a candidatura de Lula e dizendo que Lula será candidato pro povo, mesmo sabendo que Lula não será candidato. O golpe não foi em vão e as pessoas sabem disso. Acho que a gente precisa jogar com franqueza, fazer política com verdade para com os eleitores.

Reprodução/Instagram
Tulio Gadêlha e Fátima Bernardes são namorados

Além da sua trajetória política, de já ter sido candidato duas vezes, você é namorado de uma das mais importantes apresentadoras de TV do país, Fátima Bernardes. O ganho de visibilidade que você teve após assumir o namoro vai ajudar a te eleger?

Pra mim então nem se fala, é a maior apresentadora do país (risos)! Tanto pode ajudar como pode atrapalhar, a visibilidade é nada mais que holofotes que estão sobre aquela pessoa ou aquela personalidade. Eles evidenciam o que tem de bom e o que há de ruim. Se eu fosse uma pessoa machista, homofóbica... eu não sou um cara perfeito né, lógico, mas se eu tivesse essas características, isso estaria evidenciado também. Eu acho que pelo que tenho percebido, têm-se evidenciado as minhas qualidades. Mas minhas posições políticas sempre foram as mesmas, independente de estar ou não em um relacionamento com uma pessoa pública.

E como vocês pretendem lidar com essa questão da vida pública e privada nas redes sociais, inclusive durante a campanha?

A gente tem muito cuidado, tanto eu como ela, com essas coisas. Uma coisa é nossa vida pessoal e outra é a pública. E a nossa vida pública se divide, a minha é política, a dela é uma vida pública de TV, digamos assim. A gente tem muito cuidado pra não misturar as coisas. Agora, também eu não posso me privar de estar com minha namorada (risos). E a publicidade não sou nem eu nem ela que dá. Pra ser sincero, quem dá são os meios de comunicação. A eleição é só uma pequena exposição dentro da minha vida política. Passada a eleição, eu sendo eleito ou não, eu vou continuar nessa minha militância, discutindo igualdade de oportunidades, justiça social, combate ao racismo, politica de gênero...

O que você diria hoje para o jovem que está entrando na política?

Diria que não é fácil, não se iluda (risos). A bolha é difícil de ser penetrada, mas que não há caminhos pra mudança real fora da política. E que persista, porque todos juntos conseguimos mudar esse sistema, mas precisa de persistência e de vontade.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos