DEM de Paes cresce na Alerj, e MDB 'desidrata' após prisão de Cabral

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

  • José Lucena/Futura Press/Futura Press/Estadão Conteúdo

    29.jul.2018 - Rodrigo Maia (esq.) e Eduardo Paes (dir.) na convenção estadual do DEM no Rio. O evento selou a candidatura de Paes ao governo do estado

    29.jul.2018 - Rodrigo Maia (esq.) e Eduardo Paes (dir.) na convenção estadual do DEM no Rio. O evento selou a candidatura de Paes ao governo do estado

Há pouco inexpressivo na política fluminense, o DEM foi o partido que mais cresceu nos últimos quatro anos na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). A sigla, à qual o candidato ao governo do Rio Eduardo Paes se filiou em abril, não elegeu nenhum deputado estadual em 2014, mas vai fechar a legislatura com seis parlamentares na bancada. Eles se filiaram ao partido do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), durante os seus mandatos e agora tentam a reeleição pela nova legenda.

Dessa forma, o DEM se tornou dono da terceira maior bancada do Palácio Tiradentes, atrás apenas do MDB (com 11 deputados) e do PDT (com oito representantes). Os parlamentares que migraram para o DEM são Samuel Malafaia (ex-PSD), Fabio Silva (ex-MDB), André Corrêa (ex-PSD), Dr. Deodalto (ex-PTN), Filipe Soares (ex-PR) e Marcia Jeovani (ex-PR).

A reestruturação do partido, latente no Rio, reflete tendência nacional, já vista na Câmara dos Deputados, e comandada por Maia. Se em 2014, a bancada eleita era de 22 deputados federais no total, hoje são 44 a serviço do partido.

Para analistas, o DEM voltou a ser atrativo por dois fatores. Apesar de ter nomes investigados na Lava Jato, o DEM não faz parte do rol de legendas principais alvo da operação. Além disso, esses políticos viram a oportunidade de ficar sob o abrigo do presidente da Câmara.

Foi justamente a vontade de afastar a imagem dos principais aliados nos últimos anos, que fez com que Paes deixasse o MDB e voltasse para o DEM, onde tenta se eleger governador --ele começou a carreira política em 1996, no PFL, que daria origem anos depois, ao DEM.

As prisões do seu principal apoiador, o ex-governador Sérgio Cabral, e dos deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Mello --todos emedebistas-- fizeram com que Paes migrasse, levando consigo o seu homem de confiança, o deputado federal Pedro Paulo.

A formação de uma bancada de parlamentares na Alerj --que pode respaldar as decisões de Paes, caso seja eleito-- é apontada pelo ex-presidente do DEM e atual candidato ao Senado no Rio, César Maia, como principal motivo para que o ex-prefeito carioca migrasse para o DEM. "O mais importante nessa conta foi a projeção de uma bancada futura e a coerência do partido", disse o atual vereador.

O cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pontua contudo que, embora Paes tenha saído do MDB, continua contando com o apoio dos emedebistas na sua coligação. "Na prática, pouca coisa muda [caso Paes seja eleito]. Ele contaria com o apoio dos deputados do MDB e do PP, que o apoiam. As relações seguem as mesmas", disse.

Para Baía, a aliança encabeçada pelo DEM --a coligação de Paes abrange 12 partidos-- também colaborou para a candidatura de César Maia ao Senado.

"Essa ampla coligação praticamente neutralizou uma segunda candidatura de peso ao Senado, dando ao César Maia certa tranquilidade, já que, nesse ano, dois senadores são eleitos. O César acaba surgindo como uma das opções para uma parcela considerável da população. A candidatura [ao Senado] de Evanir dos Santos, pelo PPS, poderia dar uma outra cara a essa disputa, mas acabou sendo podada por essa coligação", diz.

O também cientista político Nelson Rojas de Carvalho, professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), diz que o partido aproveita o vazio político deixado pelo MDB.

"O DEM saiu da UTI, do declínio em que estava, havia mais de uma década. O Rodrigo Maia assumiu um protagonismo nacional que nunca teve na política regional e, com isso, vai se formando um novo eixo de poder, com outro partido à frente, mas com coligações parecidas com as antigas", opina.

Procurados, Paes e Rodrigo Maia não se manifestaram.

Na Alerj, MDB 'desidrata'

Partido do governador Luiz Fernando Pezão, o MDB, que elegeu 15 deputados em 2014, termina o mandato com 11 parlamentares em sua sigla (na prática são oito, já que Paulo Mello, Jorge Picciani e Edson Albertassi estão presos, acusados de envolvimento com a máfia dos transportes do Rio apurada pela Lava Jato).

Fontes ligadas ao partido dizem que as melhores projeções feitas pelos emedebistas apostam em até nove deputados eleitos nesse pleito --um número menor do que o registrado nas últimas eleições e que refletiria o desgaste do partido.

Dos 70 deputados com mandatos na Alerj, apenas 25 não são candidatos à reeleição (número que equivale a 35% das cadeiras da Casa).

Os motivos para essas "não-recandidaturas" vão de aposentadorias da vida pública até o lançamento para outros cargos, passando por impossibilidades por causa de prisões.

Apesar do número de vagas que se abrem a novos nomes, Paulo Baía não aposta em uma renovação. "Apesar dos nomes serem, eventualmente diferentes, as correntes ideológicas continuarão por lá. Candidatos presos vão eleger os seus afilhados políticos. Com exceção de um ou outro nome, nada muda. A Alerj funciona sob a mesma lógica desde 1990", diz.

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