FHC diz que impacto de ataque contra Bolsonaro na eleição depende de rivais

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Paulo Whitaker/Reuters

    11.set.2018 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) discursa durante palestra em São Paulo

    11.set.2018 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) discursa durante palestra em São Paulo

O ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, delegou nesta terça-feira (11) à "narrativa" dos adversários o sucesso ou o fracasso de Jair Bolsonaro (PSL) em capitalizar eleitoralmente o atentado sofrido na última quinta (6) em Juiz de Fora (MG).

FHC fez a palestra de encerramento de um evento sobre riscos do Brasil, voltado a investidores, organizado em São Paulo pela Thompson Reuters. Com o tema "comportamento ético e convicção social", falou sobre "a era dos escândalos" que avaliou ser hoje o momento do país, mencionou a operação Lava Jato, sem enaltecê-la ou criticá-la, e se referiu, ainda que sem citar Bolsonaro diretamente, ao episódio da semana passada envolvendo o capitão reformado do Exército.

"Quem podia imaginar que um candidato a presidente seria esfaqueado?", indagou o tucano. "O efeito disso, ninguém sabe; depende do que se disser sobre o que aconteceu. E política é sempre assim: você tem algo que não está previsto", observou.

Antes, o ex-presidente receitara: frente a um cenário de instabilidade política que o país vive, "ganha muito quem for capaz de construir uma narrativa", sendo ou não verdadeira a proposta que nela esteja contida.

"[Porque] O comportamento político se amarra hoje em um sentimento de medo - medo de tiro, de crime organizado, de desemprego, e isso gera espaço de um sentimento autoritário. Se isso vai ganhar? Não sei, depende também das outras narrativas", completou.

Tucano fala de Lava Jato, mas sem citar Richa ou Aécio

A exemplo da menção indireta a Bolsonaro, FHC também não nominou políticos de seu partido investigados na Operação Lava Jato — entre os quais o senador Aécio Neves (MG), tornado réu por corrupção, e o ex-governador e candidato ao Senado Beto Richa (PR), preso nesta manhã de terça em Curitiba. O envolvimento do partido como investigado da operação tem sido apontado como fator de resistência ao presidenciável tucano Geraldo Alckmin, empatado tecnicamente na segunda posição nas pesquisas Ibope e Datafolha, divulgadas nesta semana.

Além de Richa e Aécio, foram alvos da Lava Jato nos últimos meses opositores relevantes do PSDB no cenário político, como o PT — cuja maior liderança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, derrotado por FHC em 1994 e 1998, está condenado e preso.

"Claro que a Lava Jato tem um jogo político na eleição; mas, antes de julgamento, não vamos condenar ninguém", minimizou FHC.

Em uma fala mais genérica, sem destacar a operação, queixou-se: "Eu mesmo não sabia o que era leniência; não sabemos lidar com isso. Mas às vezes se incita o delator, há exageros, e tem que ter cuidado não com o delator ou com o delatado, mas com a empresa", avaliou.

Ainda em tom de aconselhamento perante a campanha eleitoral em curso, o ex-presidente admitiu que nem sempre a "verdade" colocada pelos candidatos sobre a real situação do país quer ser assimilada pelo eleitor. Para ele, os políticos precisam estar mais atentos ao que diz o público nas redes sociais e lembrarem que a forma como se diz algo, nem sempre o conteúdo, é o que determina se o eleitor é ou não convencido.

"Há momentos em que a sociedade não quer ouvir nada. Alguém tem a verdade? Fique com ela. Às vezes se ouve a verdade, em outros momentos, não se presta atenção. Essa é a beleza e a tragédia da vida política", concluiu. Ao abrir a palestra, no entanto, citou em tom irônico a ação das fake news sobre ele próprio: "Eu até gostaria de ter um apartamento em Paris, mas não tenho. Nem adianta tentar desmentir", declarou, sob gargalhadas da plateia.

"Nem sempre liderança é tão importante. Você precisa convencer. Não adianta dizer que tem que fazer a reforma da Previdência para equilibrar o orçamento, mas para combater privilégio", recomendou.

Partidos viraram "corporações" em busca de fundo partidário

O tucano destacou ainda que ele próprio participou da Assembleia Constituinte da qual derivou a Constituição Federal de 1988 e lamentou a "liberdade para criação de partidos políticos" da qual acabou sendo signatário. Hoje, o país tem 35 siglas.

"Queríamos assegurar direitos, então, pusemos na Constituição a regra que dava plena liberdade à criação de partidos políticos", afirmou, para completar: "Mas o número de siglas aumentou (…), e o que se chama de partido agora são corporações que se organizaram para ter acesso ao fundo público - o sistema foi se desmilinguindo", definiu.

Veja como foi o ataque a Jair Bolsonaro em Juiz de Fora

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