Campanha de Bolsonaro associa adversários a Maduro: "quem planta, colhe"
Gustavo Maia
Do UOL, em São Paulo
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Meridith Kohut/The New York Times
10.fev.2017 - Foto que mostra pessoas procurando restos de comida no lixo na Venezuela, no ano passado, é usada pela campanha de Bolsonaro
Escrita sobre uma foto de venezuelanos procurando comida no lixo, uma mensagem diz que "faltam 17 dias para o Brasil colher o que plantarmos". Em seguida, aparecem os rostos de três presidenciáveis: Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT). Abaixo deles, o retrato do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, surge como resultado da colheita hipotética.
Montada em formato de meme, voltada para as redes sociais, a imagem começou a ser divulgada nesta quinta-feira (20) e inaugura uma estratégia adotada na reta final para o 1º turno das eleições pela campanha do candidato do PSL ao Palácio do Planalto, o deputado federal Jair Bolsonaro.
Na liderança isolada das pesquisas de intenção de voto, com Haddad e Ciro disputando o segundo lugar, Bolsonaro pretende associar seus principais adversários à crise humanitária e socioeconômica que atinge o país vizinho, governado por um partido de esquerda, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).
A intenção da campanha é demarcar a oposição de Bolsonaro ao governo Maduro e tentar atrair eleitores apostando no temor de que a situação venezuelana se repita no Brasil. De acordo com o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, que divulgou a imagem em seu perfil no Instagram, a mesma mensagem deve aparecer nas propagandas de rádio e televisão ainda essa semana.
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A estratégia está inserida no foco de Bolsonaro pela antecipação do voto útil contra o PT, diante do súbito crescimento eleitoral de Haddad desde que ele substituiu o ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva (PT) como o candidato do partido. Não à toa, os três candidatos atacados foram ministros de Lula, que está preso há quase seis meses.
Procurada pelo UOL, a assessoria de Ciro Gomes informou que não vai comentar a estratégia do PSL. A campanha de Marina respondeu que "quem gosta do regime venezuelano são o PT e o Bolsonaro, que é fã confesso do Hugo Chávez", em referência a uma entrevista concedida em 1999 pelo deputado. "É uma esperança para a América Latina. Acho ele ímpar", declarou Bolsonaro na ocasião ao jornal "O Estado de S.Paulo". A reportagem ainda não recebeu retorno da assessoria do PT.
Quando às declarações vieram à tona durante a pré-campanha, no ano passado, Bolsonaro se justificou dizendo que Chávez posava como democrata antes de ser eleito.
A avaliação de que é preciso atrair eleitores antipetistas foi unânime durante reunião realizada nesta terça (18) em São Paulo por integrantes da cúpula do PSL e aliados de Bolsonaro, que está internado desde que levou uma facada, há 14 dias. Bebianno foi visitar o presidenciável no início da tarde desta quinta.
"Economist" critica presidenciável
A revista britânica "The Economist" traz Bolsonaro na capa desta semana e diz que ele é uma ameaça, não só para o país, mas para toda a América Latina.
Em editorial publicado nesta quinta-feira (20) com o título "Jair Bolsonaro, a última ameaça da América Latina", a revista analisa o momento atual do Brasil e afirma que "a economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre".
A publicação compara o brasileiro ao presidente americano Donald Trump e afirma que, "se a vitória for para Bolsonaro, um populista de direita, o Brasil corre o risco de tornar tudo pior".
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