Criticar 13º ofende trabalhador, diz Bolsonaro, que cobra Mourão em debate

Gustavo Maia

Do UOL, em São Paulo*

  • Renato Cerqueira/Estadão Conteúdo

    Bolsonaro e Mourão durante convenção que lançou chapa à Presidência

    Bolsonaro e Mourão durante convenção que lançou chapa à Presidência

Após o general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL) ter feito críticas ao pagamento de 13º salário e ao adicional de férias ao trabalhador, durante palestra a empresários no Rio Grande do Sul, o presidenciável fez duras críticas à postura do vice.

Nas redes sociais, Bolsonaro escreveu que o 13° salário do trabalhador está previsto no artigo 7° da Constituição, em capítulo das cláusulas pétreas, que não são passíveis de suprimento por proposta de emenda à Constituição. "Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição", disse.

Jair Bolsonaro afirmou ao UOL nesta quinta-feira (27) que "seria bom" o general Hamilton Mourão, seu companheiro de chapa, participar de debates com outros candidatos a vice-presidente "para exatamente botar em pratos limpos" suas críticas ao 13º salário e direitos trabalhistas.

Falando por meio de mensagens de áudio no WhatsApp de dentro do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Bolsonaro disse ainda que deve ter alta nesta sexta (28), quando vai "começar a tomar pé de tudo o que está acontecendo".

Questionado pela reportagem pelo aplicativo de troca de mensagens sobre a fala de Mourão, o candidato enviou a resposta que publicou em suas redes sociais sobre "essa coisa aí falada por ele, tá ok?".

Mais cedo, a assessoria de imprensa do PRTB e de Mourão informou que, "por decisão da coligação, ele não participará dos debates de vices da última semana antes do processo de votação, no dia 7 de outubro". Procurada pela reportagem, a assessoria informou que Mourão deve se manifestar ainda nesta quinta, em nota oficial ou vídeo, sobre suas declarações.

Haverá eventos com candidatos a vice na segunda (1º), no programa "Roda Viva", da TV Cultura, e outro promovido pelo UOL, pelo jornal "Folha de S. Paulo" e pelo SBT.

A assessoria também divulgou a agenda do militar da reserva do Exército entre esta sexta (28) e a próxima quinta (4), todas reuniões ou compromissos fechados à imprensa.

O PRTB informou ainda que a decisão sobre a não participação de Mourão nos debates partiu do entendimento da coligação de que, nesse momento, o mais interessante é que o eleitor possa acompanhar qualquer informação relativa à campanha através das redes sociais dos partidos.

Na campanha, aliados dizem que quem fala é Bolsonaro

Colega de farda de Mourão, o general Roberto Peternelli, que é candidato a deputado federal pelo PSL em São Paulo, afirmou ainda não ter tomado conhecimento das declarações, mas disse que o "ponto de vista oficial" da campanha é o de Jair Bolsonaro.

Segundo o militar paulista, é "natural que, dentro de um contexto, pessoas expressem seus pensamentos", mas que apoiadores e correligionários "não podem esquecer de forma alguma que Bolsonaro é o candidato à Presidência".

"O Jair é o candidato a presidente e é ele que tem o conhecimento lógico do que pretende executar", disse.

Julian Lemos, vice-presidente do PSL e candidato a deputado federal na Paraíba, foi pragmático: "Eu acho o que o presidente Jair Bolsonaro fala. Eu estou atento ao que o meu presidente Jair Bolsonaro fala. Afirmo e reafirmo que as declarações do Jair Bolsonaro. Não tenho mais nada a acrescentar. Vou continuar coordenando a campanha do presidente aqui no Nordeste."

Outro aliado, Major Olímpio (PSL-SP), disse que as declarações podem estar fora de contexto. "É preciso analisar o contexto do que ele falou. Só vi a manifestação de mídia até agora. Vejo nele uma pessoa equilibrada. Mas vejo o oposto do que ele disse. A preservação de direitos trabalhistas, que estão asseguradas. Há impossibilidade total de mexer nisso. A opinião que a mídia diz que ele pontuou não é a opinião do Jair Bolsonaro", declarou.

Olímpio diz ainda que as falas de Mourão prejudicam a campanha. "O silêncio, às vezes, é o melhor remédio. Mas isso não quer dizer que vamos cerceá-lo de falar. Não sei qual vai ser a estratégia do Bolsonaro. Nenhum de nós carece de autorização para falar, mas uma coisa são manifestações de ordem pessoal e outra coisa é manifestação da campanha. Somente o Bolsonaro fala pela campanha. Todos nós manifestamos nossas opiniões, como o general."

Vice de Bolsonaro, Mourão critica 13º salário

Mourão critica direitos trabalhistas

Convidado da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Uruguaiana, Mourão prometeu, a uma plateia composta por empresários e representantes de associações e sindicatos patronais, a realização de reformas tributária e trabalhista em um eventual governo Bolsonaro. O capitão da reserva lidera as últimas pesquisas de intenção de votos à Presidência.

Ao se referir especificamente à reforma trabalhista pretendida, Mourão classificou como "jabuticabas" direitos trabalhistas que acabam onerando, segundo ele, os patrões, e elencou entre elas o 13º salario –garantido pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em legislação de 1943.

"Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12, como é que nós pagamos 13 [salários]?", definiu.

"É complicado, e é o único lugar em que a pessoa entra em férias e ganha mais, é aqui no Brasil. São coisas nossas, a legislação que está aí, é sempre aquela visão dita social, mas com o chapéu dos outros, não é com o chapéu do governo", classificou. (*Colaborou Hanrrikson de Andrade, do Rio, e Luís Adorno, de São Paulo)

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