Rio: debate tem disputa por eleitor de Bolsonaro, #EleNão e Romário irônico

Gabriel Sabóia e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

  • Reprodução/Record

    28.set.2018 - Romário (esq.) ironiza gestão de Eduardo Paes (dir.) em debate na Record

    28.set.2018 - Romário (esq.) ironiza gestão de Eduardo Paes (dir.) em debate na Record

Candidatos ao governo do Rio de Janeiro se dividiram entre críticas e declarações de voto à candidatura do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no debate na TV Record na noite desta sexta-feira (28). O evento, que não contou com a presença de Anthony Garotinho (PRP) --sua candidatura foi barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)--, também foi marcado por ataques e ironias do candidato Romário (Podemos) contra adversários.

A polêmica em torno de Bolsonaro começou quando o candidato do PSOL Tarcísio Motta citou a manifestação de mulheres contra o presidenciável conhecida pela hashtag #EleNão, prevista para ocorrer neste sábado (29) em diversas cidades do país.

O psolista perguntou ao candidato Indio da Costa (PSD) se acreditava que as mulheres deveriam ganhar menos que os homens e se ele defendia a tortura --insinuando que essas seriam bandeiras comuns a Indio e Bolsonaro, uma vez que o candidato do PSD já declarou voto em Bolsonaro.

Indio reiterou que votará em Bolsonaro e procurou se aproximar de eleitores do presidenciável. "Ontem foram 101 mil pessoas conversando comigo [em uma live no Facebook], e a grande maioria votando no Indio e votando também no Bolsonaro", disse.

Declarar meu voto cabe somente à minha consciência e eu tenho essa liberdade.

Indio da Costa

Ele ainda atacou o que classificou como candidatos que "tentam mandar na política nacional de dentro da cadeia", em referência ao apoio de Luiz Inácio Lula da Silva ao presidenciável PT Fernando Haddad. O candidato do PSD também afirmou que o postulante do DEM ao governo fluminense, Eduardo Paes, receberia apoio do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), e de seus assessores.

Tarcísio, por sua vez, criticou o apoio e Indio a Bolsonaro e declarou apoio ao ato em repúdio ao presidenciável do PSL.

Você [Indio da Costa] é o que há de pior e mais atrasado na política brasileira. Está tentando surfar na política do ódio.

Tarcísio Motta

Márcia Tiburi (PT) comparou a disputa entre Haddad e Bolsonaro com o que chamou de embate entre "a civilização e a barbárie". Ela também disse que, à época do governo Lula, o Rio ganhou 1,5 milhão de novos postos de trabalho.

Hoje a gente está para escolher entre uma perspectiva democrática, com Haddad, e essas pessoas atrasadas, que defendem a barbárie, que defendem que bandido bom é bandido morto.

Márcia Tiburi

Indio aproveitou e disse que o PT e o PSOL defendem bandidos e a "lógica do assalto", dizendo que Tiburi defenderia a ideia de que "se eu quero alguma coisa que é sua, eu vou lá e tomo".

O candidato Wilson Witzel (PSC) entrou na briga tentando cativar eleitores de Bolsonaro de forma similar a Indio. Ele também atacou Paes, insinuando que ele poderia ser ligado a grupos milicianos.

O Indio não teve coragem de defender Jair Bolsonaro. Sou amigo de Bolsonaro, nós defendemos direitos iguais [entre homens e mulheres].

Wilson Witzel

Apesar de Indio e Witzel pedirem votos ao presidenciável do PSD, Bolsonaro não tem um candidato oficial na disputa ao governo do Rio.

Reprodução/Record
28.set.2018 - Indio da Costa (esq.) e Wilson Witzel (dir.) disputaram eleitores de Bolsonaro

Duduzinho e atirador: Romário ironiza Paes e Witzel

O candidato Romário subiu o tom contra os adversários. Questionado por Paes quanto às suas políticas econômicas, Romário admitiu não entender de finanças públicas e reforçou o nome do economista Guilherme Mercês como secretário de Fazenda em um eventual governo seu.

Ao ouvir Paes defendendo proposta de que, se eleito, colocará em prática políticas já executadas na Prefeitura do Rio, Romário ironizou.

Duduzinho agora vai querer dar uma de grande gestor? Tá de sacanagem, só pode ser. Não existe isso. Olha teu histórico...

Romário

Logo no começo do debate, o candidato do DEM rebateu acusação de Romário de que Paes seria "ficha suja". Paes disse que o seu registro de candidatura tem parecer favorável do MPE (Ministério Público Eleitoral) e aprovação do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

Você [Romário] não vai levar essa por W.O., não, vai ter que debater, discutir, enfrentar, confrontar ideia, sempre com elegância, como eu gosto de fazer.

Eduardo Paes

Ao escolher Witzel para questionar sobre políticas de petróleo, Romário disse que perguntaria ao "atirador", ironizando menções do adversário de que já serviu às Forças Armadas. Witzel pediu respeito ao candidato do Podemos.

"Olha, candidato Romário, isso aqui é uma coisa séria. Você está de brincadeira, está fazendo piadinha. Não estamos aqui pra ficar fazendo esse tipo de tiradinha. Governar o Rio de Janeiro é coisa séria, pra gente decente, para a gente que não tem o rabo preso com a Justiça. Fazer brincadeira com quem usou o uniforme das Forças Armadas mostra que você é esse tipo de pessoa que menospreza o ser humano que está ao teu lado", rebateu o postulante do PSC.

Na tréplica, Romário disse que não mudaria o tom. "Não existe ninguém que respeite mais o próximo do que eu. Se não quer responder às questões, fique em casa. Estou te chamando de atirador, porque você disse se orgulhar de já ter portado um fuzil", completou.

Candidatos associam Paes a Cabral

Paes foi alvo sucessivos ataques de seus oponentes, que tentaram associá-lo às gestões do ex-governador Sérgio Cabral e de Pezão. Após escândalos envolvendo caciques do MDB no estado, Paes deixou o partido para se filiar ao DEM.

Tarcísio disse que Cabral seria mentor de Paes ao criticar o modelo de financiamento da saúde por meio de organizações sociais, grupos sem fins lucrativos que, na opinião dele, não teriam cumprido seu papel e sido usadas para desvios de dinheiro público.

"Pezão escondeu Cabral, e Cabral é Paes. Eles eram da mesma turma. Até no jantar do guardanapo ele estava lá. Responde pelos atos da prefeitura, mas fazia parte do mesmo grupo", disse o psolista.

Ao falar de saúde, Romário disse que Paes recebe apoio de secretários de Pezão e continuaria com suas políticas. 

"Tem alguns aqui que eram muito amigos do Cabral, mas não têm coragem de visitar o Cabral na cadeia", disse Márcia Tiburi.

Paes se defendeu negando ligação com Cabral.

"Não sou candidato de Cabral nenhum. Não sei qual é o candidato dele, ele está preso, não pode provavelmente responder por isso", disse Paes.

Problemas de falta de recursos, má gestão da rede de saúde e estratégias para resolver o problema da segurança no Rio permearam a maior parte do debate.

1º debate sem Garotinho

O debate desta sexta foi o primeiro sem o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PRP), que teve a candidatura barrada pelo TSE na quinta-feira (27) com base na Lei da Ficha Limpa após condenação em segunda instância por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito de terceiros.

Garotinho aparece na pesquisa de intenções de votos divulgada nesta sexta-feira (28) pelo Datafolha na segunda posição da corrida ao governo, com 15% dos votos, empatado tecnicamente com Romário, que surge com 14% no mesmo levantamento -- Paes segue isolado na primeira posição com 25% das intenções.

Romário foi o único candidato a lamentar a ausência de Garotinho no debate. "Decisões judiciais foram feitas para que sejam cumpridas, mas a ausência do Garotinho é ruim para o debate", afirmou lodo no início.

Garotinho pretende recorrer ao TSE e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para garantir a sua elegibilidade.

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