Ratinho Jr 'dribla' oligarquias e Richa e defende PPPs e governo enxuto

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

  • Gisele Pimenta/Frame Photo/Estadão Conteúdo

Ratinho Junior (PSD) lidera as principais pesquisas de intenções de voto para o governo do Paraná desde o início da campanha eleitoral. Com a força do nome – ele é filho do apresentador Carlos Massa, o Ratinho – e com uma carreira política de 16 anos, o candidato do PSD dribla o fato de não pertencer a uma das tradicionais oligarquias da política paranaense e, principalmente, sua relação com o ex-governador e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB), de quem foi secretário de Desenvolvimento Urbano.

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"Se eu tivesse vontade de ser do grupo do Beto, o sucessor dele, eu teria sido o vice [em 2014], porque eu fui convidado e não quis", afirma Ratinho. "Eu prestei um serviço em uma pasta importante, com uma função que muito me orgulha. Se o governo teve erros e acertos, eu tenho que pagar por meus erros e acertos. Graças a Deus, eu sei que só houve acertos. Minha metodologia sou eu que vou impor e tenho dado demonstrações muito claras disso. Se eu tivesse um projeto de poder pelo poder, tinha sido vice lá trás."

Eu não vim dessas oligarquias políticas, eu tive que construir um projeto político. Ninguém chega a governador de uma hora para outra: é degrau por degrau. Estou há 16 anos trabalhando para construir isso, um projeto de longo prazo
Ratinho Junior (PSD), candidato ao governo do PR

Seu discurso está calcado em relações institucionais com a iniciativa privada, prometendo convidar os empresários a fazer parte do governo, sobretudo por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs). "Essa ideologia de que a iniciativa privada não pode prestar serviço público é uma bobagem. Nós temos que trazer a metodologia mais eficiente para o cidadão", afirma o candidato.

O candidato concedeu entrevista à reportagem de UOL no último dia 10. Confira os principais trechos:

UOL: Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019, o Paraná prevê a entrada de R$ 55,4 bilhões em recursos, mas já conta com uma projeção de despesas de R$ 54,3 bilhões. Como governar em um cenário sem dinheiro?

Ratinho Junior: Primeiro, nós vamos fazer o enxugamento da máquina, diminuir em praticamente 50% o número de secretarias para otimizar os recursos e as decisões, por questão de custo e tomar decisões de forma mais rápida e aplicável. Nós vamos começar diminuindo mordomias. Ao longo dos anos, o Paraná foi acumulando chácara de governador, ilha, aposentadorias de governador. Isso vai acabar logo no início [do mandato]. É um custo pequeno perante todo o bolo do governo, mas são medidas simbólicas para ir de forma hierárquica impondo um modelo de gestão mais enxuto, que valorize mais o dinheiro público para aquilo que importa às pessoas: saúde, educação, segurança e infraestrutura. (...) Sobre os investimentos, vamos procurar fazer PPPs. Não temos como fugir disso e eu sou favorável, acho que é importante trazer dinheiro privado já que o governo não consegue ter os recursos que precisa.

UOL: Em 2017, o Paraná tinha 18,5 mil presos no sistema prisional e 10,2 mil nas delegacias de polícia para 17,9 mil vagas no sistema prisional e 3,6 mil vagas nas delegacias, segundo dados do Tribunal de Contas do Estado. Ou seja, o índice de superlotação está em 3% do sistema prisional e em 181% nas delegacias de polícia. Como o senhor planeja enfrentar este cenário, especialmente nas delegacias, em que investigadores se tornaram carcereiros?

Ratinho Junior: O Paraná tem um recurso que foi repassado pelo Ministério da Justiça, de R$ 120 milhões. Com ele, o Depen [Departamento Penitenciário] fez um projeto para 14 novas penitenciárias, sendo que uma já foi licitada. Precisamos licitar as demais rapidamente para retirar os presos de delegacia o quanto antes. Eu defendo que se faça PPP também nos presídios, para a gestão. Uma licitação internacional para trazer os maiores gestores de presídios para cá. O nosso modelo de gestão ainda é de Dom Pedro: um caixotão, com cadeado, jogue os presos lá dentro, dê comida e eles ficam lá sem produzir nada e só pensando em crime.

UOL: O Paraná teve 22,6 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, segundo o Fórum Nacional de Segurança Pública. Dados do IBGE mostram que o Paraná conta com 1 policial militar a cada 630 habitantes e 1 policial civil a cada 2.366 habitantes – sendo que parte deles está imobilizada para cuidar de detentos locados em distritos policiais. A Recomendação da ONU é de 1 policial a cada 450 habitantes. Como enfrentar este problema e contratar mais policiais em um ambiente econômico de contenção de gastos?

Ratinho Junior: Segurança pública se faz com presença física. Temos um déficit, porque todo ano uma média de 800 policiais se aposentam no Paraná. Para colocar policiais do concurso público para estar apto a ir para a rua, há um prazo de 1 ano, criando um hiato entre os que se aposentam e a contratação, tanto pela burocracia e necessidade de treinamento para ir à rua quanto pela questão financeira. Temos que criar planejamento de médio e longo prazo para que possa haver contratações periódicas para reduzir essa defasagem.

Pretendo também fazer um programa chamada Escola Segura, trazendo os policiais da reserva para fazer segurança das escolas públicas do Paraná. É um projeto que Portugal fez na década de 1990 para justamente dar segurança no entorno das escolas. Um dos problemas de evasão do Ensino Médio é devido à violência nas escolas.

E atrelar tecnologia ao policial. (...) Queremos implantar centrais de monitoramento regionais para potencializar o trabalho que se faz nas ruas, com a sua ronda. Também o projeto Muralha, uma linha tecnológica nas fronteiras do Paraná, já que a maioria das armas do crime organizado entram pela fronteira com o Paraguai, pretendemos criar um monitoramento da entrada e saída de veículos, conhecendo carros roubados, sinistrados. Queremos criar a Cidade da Polícia, um centro de inteligência e planejamento, que hoje não existe. Fazer com que haja integração de planejamento, com Guardas Municipais, Defesa Civil, Polícia Militar, Polícia Civil, Bombeiros, PRF, Polícia Federal e Exército, já que estamos falando de fronteira. Se o crime está organizado, as forças de segurança precisam estar também.

Reprodução/Facebook Ratinho Junior
Ratinho Junior durante agenda de pré-campanha, em julho

UOL: Atualmente, o estado conta com 24 órgãos com peso de secretaria de Estado, incluindo Biblioteca, Casa Civil e Militar. Qual sua análise sobre este número? E sobre os gastos com esses órgãos?

Ratinho Junior: Chegamos a ter 28 secretarias em algum momento. Nós vamos cortar pela metade. Eu gostaria de chegar a 12, considerando todas as pastas com peso de secretaria. A ideia é fazer um enxugamento de 50%, por uma questão de custo e para tomar decisões de maneira rápida. Hoje, temos muito diretor do diretor, chefe do gabinete... Isso faz com que a decisão, quando é tomada pelo governo até chegar ao cidadão, demore um ano.  (...) O fato de não ter estrutura de secretaria não quer dizer que não tenha política pública para aquela área.

As pessoas não admitem ter um governo do tamanho de um elefante. Temos caso de secretarias no governo do estado apenas para atender interesses políticos

UOL: Relatório do TCE aponta que as universidades estaduais (UEL, Unioeste, UEM, Unespar, Unioeste) sofrem com a má gestão de pessoal e recomenda uma legislação que possa unificar a tipografia dos cargos em comissão, visto que cada instituição adota regras próprias. Apesar disso, sempre há reclamação de falta de recursos nas instituições. Como vê a rede de universidades estaduais do estado? Seus planos consideram que tipo de investimentos na área?

Ratinho Junior: As universidades públicas são importantes e um grande ativo do estado. Elas foram criadas até para suprir uma irresponsabilidade do governo federal com o Paraná, que não investiu em universidades federais. O Rio Grande do Sul tem 4 universidades federais, Minas Gerais tem 8, enquanto o Paraná só tem uma – apesar de que depois foram criadas outras técnicas.

Acredito ser possível modernizar universidades, fazendo com que façam menos pesquisa acadêmica e mais pesquisa aplicada, o que ajuda no desenvolvimento econômico e social do estado. As universidades pouco foram provocadas pelo poder público a colaborar nesse sentido. E elas querem isso. Temos que trazer as universidades para nos ajudar a decidir e achar as vocações regionais. Vamos criar Agências de Desenvolvimento Econômico e Social do Paraná em cada região, onde participarão sociedade civil organizada e também as universidades para ajudar a pensar regionalmente.

UOL: A relação entre servidores e governo estadual tem sido de conflito, especialmente em relação às condições de trabalho, discussões sobre reajustes e paralisação da data-base. Qual será a política em relação aos servidores? Haverá reposição de inflação, caso seja eleito? Se sim, qual a previsão de origem do destino para não colocar as contas em desequilíbrio? Também pretende acabar com a política de congelamento da data-base dos reajustes?

Ratinho Junior: Primeiro, [há necessidade de] conversa franca com servidores. (...) O servidor tem consciência de que a máquina pública tem limitações financeiras. Minha proposta, logo no início, é sentar com os servidores, mostrar um diagnóstico orçamentário e financeiro do estado para que possam ter consciência da situação. Criar uma política de reajuste sobre um porcentual para os 4 anos, fazendo previsões se a economia crescer ou reduzir. Não dá para todo ano o governo parar tudo que tem que fazer para discutir salário de servidores, enquanto eles gastam energia para pedir aumento para o governo. (...) E nem dá para os 11 milhões de habitantes do Paraná trabalharem para pagar a conta de 189 mil servidores. Temos que ser realistas e prestar o melhor serviço possível para o cidadão.

É importante ter uma data-base na medida do que é possível no caixa do governo. Este ano teve uma discussão de 2,76%, que o governo falou que não tinha como dar [A governadora Cida Borghetti, do PP, enviou uma mensagem de reposição de 1%, que foi negada pela Assembleia. Segundo ela, a discussão ficará para depois da eleição]. Mas o governo anunciou R$ 4 bilhões de investimentos em 80 dias para os municípios e teve o reajuste da energia, com acréscimo de ICMS de R$ 400 milhões. Esse é o problema: não há uma realidade clara e cria uma desconfiança para os servidores. 'Mas tem dinheiro para obras e não tem para o reajuste?' Na medida em que as contas fiquem transparentes, automaticamente para de parecer que está se enganando.

UOL: Hoje, o Paraná conta com 22 regionais de saúde. No caso de atendimentos especializados, muitos pacientes precisam se deslocar até os grandes centros para ter suas necessidades atendidas. Como solucionar este problema?

Ratinho Junior: Criando centros de especialidades. Há uma falta na área de consultas. Precisamos expandir esses centros de forma regional, que podem ser do governo ou em parcerias com hospitais filantrópicos ou iniciativa privada, onde o poder público não conseguir implantar a curto prazo. Nós temos bons hospitais regionais, inclusive privados. Temos um hospital em Campo Largo [Região Metropolitana de Curitiba], que atende 93% via SUS, com excelência. Nós temos que trazer a metodologia mais eficiente para o cidadão. Tenho que reconhecer que o Estado avançou bastante no investimento em equipamentos para os hospitais. Precisamos trabalhar a questão do custeio, através do Hospsus [Programa de Apoio e Qualificação de Hospitais Públicos e Filantrópicos do SUS Paraná], com repasse de recursos para hospitais regionais.

É procurar essas boas referências na área privada para prestar um bom serviço para o estado. Essa ideologia de que a iniciativa privada não pode prestar serviço público é uma bobagem

UOL: O senhor foi secretário estadual de Desenvolvimento Urbano do governador Beto Richa, que deixa o estado com rejeições de parte do eleitorado (pesquisas indicaram que 35% dos eleitores não votariam em candidatos apoiados por ele, em 2017). Como o seu governo será diferente do ex-governador?

Ratinho Junior: Se eu tivesse vontade de ser do grupo do Beto, o sucessor dele, eu teria sido o vice [em 2014], porque eu fui convidado e não quis. O fato de ter sido secretário: prestei um serviço para o meu estado, foi uma missão que entendi como importante e cumpri de maneira exemplar, sem ter tido nenhum tipo de problema. A minha chapa, nós temos um vice, e um outro candidato a senador, que não são da política. O Beto não está na minha chapa, está na de outra candidata [Cida Borghetti]. Tem que deixar isso muito claro.

UOL: O senhor se apresenta como renovação política, mas acumula votações expressivas ao longo da última década. Por que os paranaenses podem esperar renovação de um político que, aos 37 anos, conta com 16 anos de experiência no meio?

Ratinho Junior: O Paraná é governado há 30 ou 40 anos por duas ou três famílias. Isso não é demérito nenhum. Eles fizeram a sua parte, colaboraram para o desenvolvimento. Chegou o momento de mudar, não é possível o Paraná ser um patrimônio familiar. Chegou o momento de nos apresentarmos e mais do que como um novo grupo político é uma nova metodologia política.

Somos os únicos que entendemos o que passa na cabeça do cidadão nesse turbilhão político. Estamos falando em acabar com as secretarias, com as mordomias. Os demais não entenderam isso, pretendem ampliar secretarias; outros com modelo de campanha que o tio fazia na década de 1980 [uma crítica a João Arruda, cuja campanha eleitoral tem sido mais incisiva], de agressividade, sem propostas. Nosso time tem, hoje, um diagnóstico muito mais real do que quer o cidadão brasileiro. Aqueles que não tiverem essa consciência vão estar nessa falência política.

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