Violência no Rio

Justiça recebe mais de 4.700 denúncias de crimes eleitorais no Rio

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

  • JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

    Movimentação de policiais na Cidade da Polícia, no Rio

    Movimentação de policiais na Cidade da Polícia, no Rio

Santinhos encontrados em uma boca de fumo, centros comunitários usados para divulgação de candidatos e áreas de favelas onde só políticos "autorizados" pelos criminosos podem fazer campanha.

Esses são alguns dos tipos de crimes eleitorais que vêm sendo investigados pela polícia no Rio de Janeiro. De 16 de agosto, quando começou a propaganda política até sexta-feira (5), o TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio) recebeu 4.715 denúncias de irregularidades --sendo 2.246 só na capital.

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Esses números se referem apenas a denúncias diretas feitas por cidadãos à Justiça Eleitoral. O número de casos investigados pela polícia não foi divulgado. Os crimes vão de propaganda irregular, distribuição de cestas básicas em troca de votos a envolvimento direto de candidatos com facções criminosas.

A estratégia adotada pelas forças de segurança da intervenção tem sido recolher o máximo possível de evidências desses crimes e repassá-las ao TRE por meio de uma parceria batizada de Coalizão Eleitoral. O TRE pretende cruzar essas evidências com o resultado das urnas. Assim, juízes devem julgar se candidatos suspeitos de ligação com o crime organizado foram ou não ajudados por facções, segundo afirmou ao UOL uma fonte ligada à cúpula da Coalizão Eleitoral.

A polícia descobriu, por exemplo, farto material de campanha de um candidato em um ponto de venda de drogas. Se for provado que o candidato está envolvido com os criminosos, mesmo que for eleito, ele terá seu diploma cassado e não poderá assumir o cargo. A Coalizão Eleitoral não divulga detalhes sobre quem foi o candidato nesse caso específico nem onde os santinhos foram encontrados para não interferir na votação --uma vez que o episódio ainda está sob investigação.

Outra prática que foi identificada e tem preocupado as autoridades é o uso de centros comunitários por membros do crime organizado para apoiar determinados candidatos.

Segundo dados do TRE, cerca de 1,7 milhão de eleitores do Rio votam em 637 áreas (12,8% do total) que sofrem ameaça direta ou indireta do crime organizado.

O secretário de Segurança Pública, general Richard Fernandes Nunes, afirmou ao UOL em agosto que as regiões mais críticas do estado são a zona oeste da capital, a Baixada Fluminense e o município de São Gonçalo, na região metropolitana.

Milícias e traficantes

Tanto traficantes de drogas quanto milicianos agem para lucrar ou tentar influenciar o resultado das eleições no Rio e essa é uma das maiores preocupações da intervenção federal nessas eleições, segundo apurou a reportagem.

Os traficantes do Rio se organizam em ao menos duas quadrilhas majoritárias: o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro. Eles controlam e vendem drogas e serviços irregulares em diversas favelas em todo o Rio de Janeiro.

As milícias são organizações criminosas formadas por policiais corruptos e ex-policiais que controlam favelas principalmente na zona oeste da cidade. Eles controlam serviços como venda de sinal de TV a cabo e transportes irregulares, comercialização de gás, grilagem de terras e, em alguns casos, até mineração. 

Segundo o deputado estadual e candidato à Câmara dos Deputados Marcelo Freixo (PSOL), que acompanha as milícias do Rio há cerca de dez anos, há diferenças entre a atuação de milicianos e traficantes nas eleições do Rio.

Ambos os grupos criminosos dominam territórios em favelas e áreas pobres. Em geral, traficantes cobram para que candidatos a deputado façam campanha nas áreas que controlam. O acesso é garantido para qualquer candidato que estiver disposto a pagar.

Já as milícias tentariam transformar o controle territorial e econômico de uma área em domínio político, segundo Freixo.

"A milícia permite que determinados candidatos entrem ou não entrem em sua área. A milícia tem um projeto de poder, pelo domínio militar, econômico e político. No tráfico, quem quiser paga e entra. A milícia tem seus candidatos", disse o deputado psolista.

Ele afirmou que dois candidatos do PSOL, um a deputado estadual e outro a deputado federal, teriam sofrido ameaças de milicianos ao tentar entrar em favelas da zona oeste do Rio para fazer campanha nessas eleições.

Outra estratégia que é usada pela polícia para identificar candidatos ligados ao crime é investigar a sua agenda política. Ou seja, candidatos que se mostrem favoráveis a leis que facilitem, por exemplo, a exploração de transporte informal ou dificultem a regularização de terras --ações que são vantajosas ao crime organizado-- entram no rol de suspeitos.

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