Zema e Anastasia vão disputar o segundo turno em Minas Gerais

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

  • Cristiane Mattos/O Tempo/Estadão Conteúdo

    Romeu Zema (à esq.) e Antonio Anastasia disputarão o governo de MG

    Romeu Zema (à esq.) e Antonio Anastasia disputarão o governo de MG

Com crescimento expressivo na reta final da campanha, o empresário Romeu Zema Neto (Novo), 53, surpreendeu e terminou o primeiro turno para o governo de Minas Gerais na liderança neste domingo (7). Ele vai disputar o segundo turno com o candidato Antonio Anastasia (PSDB), 57.

Esta foi a primeira vez que Zema se candidatou a um cargo eletivo. O governador Fernando Pimentel (PT), 67, candidato à reeleição, acabou em terceiro e ficou fora da disputa.

Com quase 100% das urnas apuradas, Zema estava em primeiro com 42,7% (4,1 milhões de votos), seguido por Anastasia com 29,1% (2,8 milhões) e Pimentel com 23,1% (2,2 milhões).

Na disputa para o Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que liderou as pesquisas ao longo da campanha, não conseguiu se eleger aos ficar em quarto lugar. Os dois eleitos foram Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS).

Após a divulgação do resultado, Zema afirmou que governará o estado como "uma empresa", que "não tem rabo preso com ninguém" e que irá governar com "transparência".

"Terei um secretariado 100% técnico. Os secretários serão escolhidos da mesma forma que uma empresa. Vamos selecionar no mercado", afirmou.

Já Pimentel se pronunciou por meio de nota. Ele disse que fez uma campanha "verdadeira, transparente e propositiva" e agradeceu os 2 milhões de votos recebidos.

"O resultado das urnas é soberano. Esperamos que o próximo governador do Estado mantenha os interesses dos mineiros à frente de quaisquer outros", afirmou.

Como foi a disputa

Na disputa polarizada entre PT e PSDB, o candidato do Novo concentrou sua campanha em municípios de porte médio no estado, sobretudo no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, onde estão localizadas as 430 unidades do negócio da família.

O Grupo Zema, com 5.500 empregados, atua no comércio varejista de eletrodomésticos, postos de combustíveis, concessionárias e locadoras de veículos, autopeças e financeiras. 

Já Anastasia apresentou-se como um gestor qualificado para resolver a questão do déficit mineiro. O tucano exigiu da legenda autonomia para tocar sua campanha, sem a incômoda presença no palanque do senador Aécio Neves (PSDB), seu padrinho político e alvo de ações na Justiça.

Zema apoiou Bolsonaro 

Zema participou de um único debate, na terça-feira (2), na TV Globo, em Belo Horizonte, quando declarou seu apoio ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). Por isso, foi recriminado pela direção nacional do Novo e pela campanha do candidato presidencial da legenda, João Amoêdo. Após a declaração, ele passou a subir nas pesquisas.

"Aqueles que querem mudança, com certeza, podem votar aí nos candidatos diferentes, que são o Amoêdo e o Bolsonaro", afirmou durante o debate. "Os eleitores do Bolsonaro, como não têm um candidato a governador em Minas, têm, vamos dizer assim, se ligado muito à minha candidatura. Isso é o que nós temos percebido", disse Zema.

Um apoio a Bolsonaro também causou uma saia justa na campanha de Anastasia. Coordenador de campanha do tucano e candidato a vice em sua chapa, o deputado Marcos Montes (PSD), chegou a discursar em ato defendendo o voto no candidato do PSL. A chapa do tucano, porém, apoiava Geraldo Alckmin (PSDB).

Crise financeira no estado

A grave situação financeira do estado deu a tônica da campanha. A disputa foi marcada pelo embate entre Anastasia e Pimentel, um colocando no outro a responsabilidade pela caótica situação financeira de Minas Gerais.

O estado acumula déficits bilionários, com atrasos no pagamento de funcionários públicos, fornecedores, prefeituras, e poderes Legislativo e Judiciário.

Zema promete 1º escalão sem salários

"Colocar o salário [dos funcionários] em dia é prioridade. Quando um servidor não recebe, toda a cadeia de negócios é prejudicada. Precisamos motivar os trabalhadores e garantir que eles não paguem por ações equivocadas do governo Pimentel", afirmou o tucano durante a campanha.

"Os empresários sempre atuaram de duas maneiras na política: na promiscuidade ou totalmente ausentes. São duas posturas condenáveis", disse Zema. O candidato do Novo afirmou ainda que formará um primeiro escalão no governo de Minas Gerais com "voluntários, sem salários".

"Vamos fazer um governo em que tenhamos muito mais pessoas que queiram fazer mudanças do que pessoas que queiram o emprego. Eu não estou atrás de emprego", disse o empresário.

Anastasia, de acordo com sua declaração parcial à Justiça Eleitoral, até quinta-feira (4), teve gastos muito maiores que os de Zema durante a campanha. Anastasia declarou receita de R$ 10,9 milhões e despesas de R$ 7,9 milhões. Zema, por sua vez, declarou receita de R$ 687 mil e despesa de R$ R$ 605 mil.

Quem é Zema?

Presidente licenciado do conselho de administração do Grupo Zema, que faturou R$ 4,5 bilhões em 2017, Romeu Zema Neto tem 30% do negócio. Um irmão e uma irmã têm 30% cada, e a mãe, 10%.

O empresário é formado em administração de empresas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo e, no início da década de 1990, assumiu o negócio da família, com sede em Araxá (MG), fundado há 95 anos pelo seu bisavô.

Este ano, Zema Neto decidiu concorrer ao cargo de governador de Minas Gerais pelo Novo, após trabalhar por quatro décadas no grupo familiar, desde os 13 anos de idade.

Quem é Anastasia?

Advogado e especialista em direito administrativo, Anastasia foi relator do processo de impeachment no Senado, que cassou o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Ele iniciou a carreira política em 1991, quando assumiu o cargo de secretário-adjunto de Planejamento e Coordenação Geral durante o governo mineiro de Hélio Garcia (1931-2016).

Em 1994, assumiu as funções de secretário de Recursos Humanos e Administração. No ano seguinte, foi nomeado secretário-executivo do Ministério do Trabalho. Em 1999, tornou-se secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Nos anos 2000, Anastasia retornou a Minas Gerais e coordenou o programa de governo de Aécio ao governo do Estado. Com o tucano eleito, assumiu em 2003 a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. Em 2008, com a reeleição de Aécio, tornou-se vice-governador.

Em março de 2010, com a renúncia de Aécio para se candidatar ao Senado, Anastasia assumiu o cargo de governador. Nas eleições de 2010, foi reeleito para o cargo. Quatro anos depois foi eleito senador pelo estado.

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