Doria pede que Bolsonaro reveja posições e sugere autocrítica ao PSDB

Emanuel Carneiro e Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, concedeu entrevista nesta segunda-feira (8) ao UOL. Garantido no segundo turno da disputa estadual contra Márcio França (PSB), o tucano explicou seu apoio nominal a Jair Bolsonaro (PSL) na disputa presidencial contra Fernando Haddad (PT).

Em sua entrevista, Doria reforçou que não tem "um alinhamento de todas as posições" defendidas por Bolsonaro. Segundo ele, o principal apoio diz respeito às propostas econômicas liberais da candidatura do presidenciável. Ele ainda discordou das posturas do deputado em relação às urnas eletrônicas e aos direitos das mulheres.

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"Eu seria absolutamente contra o PT, contra Fernando Haddad, contra Lula, e nesse caso, alinhado com candidatura de Jair Bolsonaro", explicou Doria. "Eu não estou pedindo apoio nenhum. Eu estou manifestando meu apoio sem esperar nenhum tipo de contrapartida."

Sobre as posições de Bolsonaro, Doria deixou claro as discordâncias que tem. "Eu não alinho todas as minhas posições às posições de Jair Bolsonaro. Espero que ele possa revê-las. Eu não tenho nenhuma desconfiança com as urnas eletrônicas", disse. "Espero que ele possa rever essas posições, tranquilizar o universo das mulheres, com uma posição mais assentada, mais equilibrada", completou.

Doria diz que o PSDB se distanciou das camadas mais populares

Campanha ruim de Alckmin e autocrítica do PSDB

Doria ainda falou da relação com Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República. E mesmo adotando um tom elogioso, incluindo compromissos conjuntos para a terça-feira (9), reconheceu que a candidatura do presidenciável foi prejudicada pelo "palanque duplo" em São Paulo – o ex-governador foi apoiado oficialmente tanto por Doria quanto por Marcio França, seu vice no estado e justamente o adversário de Doria no segundo turno da disputa ao Governo de SP.

"Não foi bom [para Alckmin ter dois palanques em SP]. A prática se revelou distinta da teoria. O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso teve palanque duplo em SP [em 1998]. Naquela época, funcionou e ele foi reeleito presidente da República pelo PSDB e pela coligação que o apoiava. O fato passado poderia se reproduzir aqui, não ocorreu. Criou-se um certo constrangimento ao governador Alckmin", afirmou.

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Diante da derrota do presidente do PSDB no primeiro turno da eleição presidencial, Doria afirmou que o partido precisa passar por um processo de autocrítica. Para o ex-prefeito de São Paulo, o partido "não se elitizou, mas se distanciou" de camadas mais populares.

"Eu acredito que o PSDB deve aproveitar a oportunidade para fazer uma reavaliação profunda das suas conviçcões. (É preciso) uma sintonia melhor com o eleitor, principalmente com os cidadãos mais humildes. O PSDB pode, nessa nova etapa, sintonizar melhor com promessas de educação, saúde pública e de segurança pública. Se acrescentar a geração de empregos, são os quatro pontos mais importantes", disse, sugerindo ainda uma renovação dos quadros do partido. "Trazer os jovens, renovar e contribuir para essa renovação."

Doria diz que Marcio França é um homem de esquerda

França esquerdista, Lula vigarista

Doria ainda reforçou seu foco no Governo do Estado de São Paulo, negando que pretenda se candidatar à Presidência nos próximos anos. Então, aproveitou para realizar críticas a políticos de esquerda – incluindo o próprio Marcio França, seu rival no segundo turno.

"É esquerdista. Às vezes, dentro de um mesmo bloco, você tem comunistas, petistas, socialistas e vigaristas que se colocam dentro desse universo", disse o tucano, fazendo críticas diretas ao PT e chamando Lula de "vigarista". "Márcio França é um homem de esquerda, Partido Socialista (do Brasil). Na página do partido, tem uma mensagem 'Lula livre'. Logo na página seguinte, pede a condenação do juiz Sergio Moro por ter aplicado a lei a Lula e a outros petistas que estão cumprindo pena de prisão."

João Doria ainda emendou mais críticas a França, especialmente ligando a imagem do candidato do PSB à de Lula. O adversário auxiliou campanhas de adversários do PSDB, como a que levou Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo em 2012, mas colaborou na chapa do próprio Doria quatro anos depois.

"O fato é que o Márcio França é um homem de esquerda, um neopetista, um petista que se esconde debaixo desse manto do PSB. Eu não estou fazendo nenhuma diligência acusatória, mas mudou até a cor de seu partido, usou a cor laranja", declarou, rebatendo a declaração dada por França de que o marketing de Doria teria ajudado sua campanha ao teoricamente criticar a cirurgia bariátrica feita pelo atual governador do estado por questões de saúde.

"Eu repudio essa ironia do Márcio França. Ele elogia e depois ataca. É bem o estilo petista de ser. Eu não fiz nenhuma menção a ele ter sido obeso antes, depois ter feito a cirurgia", disse o tucano, segundo o qual a crítica ao adversário dizia respeito às "duas imagens" públicas, sendo a mais recente afastada da que seria favorável ao PT. "Ele, de maneira ardilosa, coloca como se eu estivesse condenando ele por ter feito uma cirurgia bariátrica."

Confira a íntegra da entrevista de João Doria

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