Janaina Paschoal diz que abandona Bolsonaro se ele se mostrar autoritário

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

  • Marcos Oliveira/Agência Senado

    Janaina Paschoal teve mais de 2 milhões de votos no estado de São Paulo

    Janaina Paschoal teve mais de 2 milhões de votos no estado de São Paulo

Deputada estadual mais votada da história do Brasil, a advogada Janaina Paschoal (PSL) disse, nesta segunda-feira (8), que não se arrepende de ter recusado ser vice na chapa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e rechaçou as críticas de que ele teria um viés autoritário.

Janaina  Paschoal, que ficou conhecida após ser autora, com outros juristas, do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), teve mais de 2 milhões de votos no estado de São Paulo.

Em entrevista ao UOL, ela disse que "quem faz parceria com ditadura é o PT". "Quem defende que a Venezuela é uma democracia é o PT. Acho tão interessante, eles ficam presos no passado, mas as ditaduras do presente eles referendam", declarou.

"Sou contrária a toda e qualquer ditadura, de direita, de esquerda, civil, militar, do passado e do presente. Sou defensora da Constituição Federal, sou contrária a essa história de chamar Constituinte, seja proposta do [Fernando] Haddad [presidenciável do PT], seja a proposta feita pelo vice [Hamilton] Mourão [vice na chapa de Bolsonaro]" afirmou.

Janaina Paschoal também defende que continua apoiando Bolsonaro, mas que mudará sua posição caso ele mostre seguir caminhos autoritários.

"Não acredito nisso, porque o Bolsonaro me falou que tem compromisso com o Congresso, com a Constituição Federal, quando estava conversando com ele sobre a vice-presidência.

Mas se amanhã ele [Bolsonaro] sinalizar um caminho diferente, vou ficar na oposição a ele, daí a importância também de eu ter essa independência. A democracia para mim é um valor real, não é da boca para fora

Janaina Paschoal, deputada estadual mais votada da história

A independência a qual a deputada eleita se refere vem do alto número de votos que lhe foram dados na eleição.

Bolsonaro questiona TSE: "Poderíamos já ter um presidente eleito"

Ela relata que recebeu ligações de colegas que afirmaram que, caso ela tivesse sido candidata a vice, Bolsonaro teria ganho no primeiro turno. Apesar disso, ela ressalta que está feliz como deputada estadual.

"Nesta posição que o povo confiou a mim vou ter muito mais liberdade de defender as minhas ideias, de falar pela população. Lógico que o cargo de vice-presidente é muito importante, mas acredito que como deputada tenho mais liberdade", disse.

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"Na condição de vice qualquer coisa que eu fale compromete o candidato, uma vez eleito compromete o presidente. Fico um pouco também presa às decisões do presidente. Como deputada não tenho essas amarras e acho que posso ser mais útil para o país", afirmou.

Janaina Paschoal também diz que está disposta a ajudar Bolsonaro, mas descarta compor um eventual governo.

"Conversei sobre isso com ele naquela época [quando foi cogitada para ser vice]. Porque o plano dele, no primeiro momento, da equipe na verdade, era de eu ser a vice e assumir o Ministério da Justiça. Chegaram a falar também no da Educação. Isso foi uma das divergências que houve", relembrou.

"Agora eleita, com essa votação por São Paulo, entendo que tenho o dever de cumprir meu mandato, tenho essa concepção. Acho muito errado o sujeito ser eleito para senador e assumir [um ministério]. Aí fica o suplente ninguém conhece. Se eu fui eleita para ser deputada, eu tenho que cumpri meu mandato de deputada".

Eleição e Impeachment

Com mais do quádruplo dos votos do segundo colocado, a advogada diz que sua votação foi uma forma de "procuração" do povo.

"É lindo isso. Se consegui essa legitimidade, é porque tenho muita coisa para fazer. Estou muito feliz com esse reconhecimento, com essa confiança. Ter sido eleita com essa votação me confere muita liberdade", declara ela, que também disse que permanecerá neutra na disputa do governo de São Paulo.

Para Janaina, o primeiro turno da eleição foi uma resposta da população à atual situação do país. Ele cita, por exemplo, o caso da ex-presidente Dilma, que não conseguiu se eleger para o Senado em MG.

"Acho simbólico nomes tradicionais do PT terem ficado de fora. A presidente Dilma que tanto alardeou que tinha sido vítima de golpe, que tinha sofrido perseguição, acredito que agora entendeu que aquele processo era um desejo da esmagadora maioria da população", afirmou.

Uma das protagonistas do processo de Impeachment, que a alçou para o cenário nacional, a advogada defende que o ato foi responsável por uma mudança na forma como as pessoas lidam com a política.

"As pessoas entenderam que o poder está na mão delas. O fato de Dilma ter sido responsabilizada por um processo legítimo, acompanhado pelo supremo, visto pela imprensa, com toda a possibilidade de defesa, conferiu ao povo a certeza de que todos nós temos capacidade de ir com as próprias mãos. Olhando para trás, mesmo com tudo que sofri, e não foi pouco, eu faria tudo de novo".

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