Mulher diz ter sido marcada com canivete por apoiadores de Bolsonaro no RS

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio

  • Reprodução/Facebook

    8.out.2018 - Uma mulher afirmou ter sido marcada em represália por usar uma camiseta em que estava escrito #Elenão

    8.out.2018 - Uma mulher afirmou ter sido marcada em represália por usar uma camiseta em que estava escrito #Elenão

Em Porto Alegre, uma mulher de 19 anos afirmou ter sido marcada na barriga por três agressores em represália por estar usando uma camiseta com a frase #Elenão, em referência ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). Sua denúncia foi registrada em delegacia, e a polícia está apurando. Foi mais um caso de uma série de denúncias de agressões que teriam sido cometidas por apoiadores do presidenciável do PSL nos dias que anteriores e posteriores à eleição.

Em seu relato, a mulher, que não quis se identificar com medo de represálias, afirmou que ao descer do ônibus na última segunda-feira (8) foi abordada por três homens por conta de sua camisa contra Bolsonaro na rua Baronesa de Gravataí, em Porto Alegre. Na sua versão, um deles lhe deu um soco e depois os agressores a seguraram enquanto a marcavam com a suástica com um canivete. A informação foi divulgada pela rádio Guaíba e confirmada pelo UOL com a Polícia Civil.

No entanto, o delegado Paulo Jardim, que cuida do caso, nega se tratar de uma suástica. "Eu disse é um símbolo religioso, universal, budista, é viagem isso aí (dizer que é suástica).Pode afirmar que não é suástica. Entra no Google. Vai ver que é símbolo (budista)", disse o delegado da 1ª DP de Porto Alegre à Rádio Guaíba. O UOL tenta contato com o policial, mas as ligações sem seu celular não foram atendidas.

Desde a semana passada, acumulam-se casos semelhantes. O caso mais grave foi o do capoeirista Romualdo Rosário da Costa, 63, que foi assassinado em Salvador na madrugada de segunda-feira. Testemunhas apontam que o barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana, acusado do homicídio, lhe deu facadas por uma discussão sobre Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro (PSL). Costa era apoiador do PT, e Santana, do candidato do PSL. 

Um levantamento do UOL apontou pelo menos uma dezena de casos de agressão nos últimos dias, sendo estes os casos confirmados por veículos de comunicação. Há relatos em número maior ainda não confirmados em redes sociais.

Ressalte-se que até agora o ato mais violento contra um candidato foi contra Jair Bolsonaro. Ele sofreu uma facada em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG). Até o momento, ele ainda se recupera do golpe e teve de passar por duas operações para sobreviver.

Questionado sobre os casos recentes de violência de seus apoiadores, o candidato do PSL disse que lamentava, mas que não tinha o que fazer. "Quem levou a facada fui eu, pô. O cara lá tem uma camisa minha e comete um excesso. O que eu tenho a ver com isso?" E completou: "Eu lamento, peço que ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam".

"O que eu tenho a ver com isso?", diz Bolsonaro sobre atos violentos

Os casos de agressões de apoiadores de Bolsonaro se espalham pelo Brasil, sendo físicos e verbais. Há episódios em Maceió, Natal, Salvador, Maringá, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.

Veja os principais relatos:

29/8/2018 – Em São Paulo, uma funcionária do comitê de campanha de Guilherme Boulos (PSOL) afirmou ter sido ameaçada com uma arma por um apoiador de Bolsonaro. Ele passou na porta do comitê de campanha e ofendeu a funcionária que respondeu. Em seguida, ele apontou uma arma para a funcionária, segundo o jornal O Globo.

6/10/2018 – Segundo a revista Época, em Natal, professor do Colégio Mirassol fala sobre a Lei Rouanet durante aula e é acusado por pais de fazer apologia ao ex-presidente Lula (PT). Um dos pais ligou para a coordenação dizendo que ia com "mais três pais armados" para dizer por que é para Bolsonaro ser presidente do Brasil.

6/10/2018 – Em Maringá, a militante petista Vera Lucia Nogueira teve que tomar pontos após um homem não identificado tentar tirar uma bandeira e quebrar vidros de uma carreata. O homem estava em uma moto com adesivos de Bolsonaro. Leia mais aqui.

7/10/2018 – Em Salvador, uma jornalista foi agredida e ameaçada por dois homens, um deles vestindo a camisa de Bolsonaro. Após votar, ela foi abordada por dois homens que viram seu crachá e disseram que era "riquinha e de esquerda", e depois a marcaram com canivete e ameaçaram estuprá-la, segundo o jornal Correio da Bahia.

7/10/2018 – No Piauí, Lenilson Bezerra foi agredido por um grupo de apoiadores de Bolsonaro ao discutir com eles quando passava por uma manifestação. Ele vestia uma camisa vermelha, segundo o site Piauíhoje.

7/10/2018 – Em Maceió, Julyana  Rezende Ramos Paiva foi agredida por um soco no rosto por apoiadores de Bolsonaro após dizer que votara em outro candidato. Eles desceram de um carro e agrediram na rua, de acordo com o site Maceió7segundos.

8/10/2018 – No Rio de Janeiro, Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, afirmou foi ofendida por quatro homens que usavam camisas e botons de Bolsonaro. Ela contou que eles a chamaram de "piranha", "esquerdista de merda" enquanto estava com a filha no colo. Leia mais aqui.

8/10/2018 – Em Porto Alegre, mulher não identificada acusa três agressores de marcarem com uma suástica sua pele em represália por ela usar camiseta com os dizeres #Elenão.

8/10/2018 – Em Salvador capoeirista Romuário Rosário da Costa, 63, foi assassinado a facadas em Salvador após discussão sobre Haddad e Bolsonaro. O acusado é Paulo Sergio Ferreira de Santana, que defendia o candidato do PSL. Leia mais aqui.

9/10/2018 – Em Curitiba, um estudante da Universidade Federal do Paraná foi agredido por quatro membros de torcida organizada que gritavam "aqui é Bolsonaro". Ele usava um boné do MST. Leia mais aqui.

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, comentou o ataque à garota. "Meu adversário diz que não pode responder pelos atos dos meus correligionários. É alguém que naturalizou a violência e agora se assusta com ela, a ponto de nem ir ao debate", disse Haddad.

Haddad: Bolsonaro naturaliza violência

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