"Autoritário", "debochado" e "frouxo": Paes e Witzel duelam em debate no RJ

Gabriel Sabóia e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

  • FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

    11.out.2018 - Eduardo Paes (DEM) e Wilson Witzel (PSC) em debate da Firjan/Grupo Band

    11.out.2018 - Eduardo Paes (DEM) e Wilson Witzel (PSC) em debate da Firjan/Grupo Band

A agressividade deu o tom do primeiro debate do segundo turno das eleições ao governo do Rio de Janeiro, com acusações, ironias e menções a tragédias vividas na capital fluminense. O encontro entre os candidatos Eduardo Paes (DEM) e Witzel Wilson (PSC) foi promovido pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) e Grupo Band. Enquanto Paes procurou associar a inexperiência de Witzel --estreante na política-- à gestão do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), o ex-juiz federal não poupou críticas ao governo do ex-prefeito.

Witzel teve 41,28% dos votos e Paes --o candidato do PSC superou o democrata em mais de 1,659 milhão de votos no primeiro turno das eleições.

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Na primeira pergunta dirigida ao adversário, Paes citou o fato de Witzel ter pedido transferência do Espírito Santo para o Rio, em 2011, quando o candidato era juiz federal.

Você chegou a dizer que os bandidos te venceram. Com todo respeito, o senhor deu uma 'amarelada'. Como a população pode acreditar em um governador que tem medo do crime?

Eduardo Paes, candidato do DEM, em pergunta a Wilson Witzel

Witzel respondeu que foi fuzileiro naval e prometeu política severa de enfrentamento ao tráfico de drogas.

Eduardo, você não deve conhecer nada da minha vida. Eu fui fuzileiro naval, eu usei uniforme, já peguei um fuzil na mão, estava pronto para morrer por esse país, morrer por todas essas famílias, inclusive, por você.

Wilson Witzel, candidato do PSC, em resposta a Eduardo Paes

'Amarelou', diz Paes sobe Witzel, que reage: 'na?o tenho medo da morte'

Em sua tréplica, o democrata citou o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e fotos que circulam nas redes sociais que indicam um estreitamento nas relações entre Witzel e o advogado Luiz Carlos Azenha, conhecido por ter feito a defesa do traficante Nem da Rocinha e o transportado dentro da mala de um carro, durante tentativa de fuga do traficante, interceptada pela polícia em 2011.

"O Bolsonaro tem credibilidade para falar sobre violência, você não. Conheceu ele ontem e está repetindo o que ele diz. É amigo do advogado do Nem e o proibiu de falar em seu nome, logo ele, que caminhou ao seu lado no primeiro turno inteiro", disse Paes.

Witzel disse que Azenha foi seu aluno e que não mantém intimidade com ele, apesar de conhecê-lo. "Você, quando saiu da prefeitura, foi morar em Nova York. Sabe o que é fugir do Rio", provocou Witzel.

Paes obteve então o primeiro direito de resposta do debate. "Morei em Washington e Nova York nesse período. Estava sustentando a minha família. Eu não procurei emprego em partido político. Tive, sim, uma bela remuneração na iniciativa privada. Você que teve medo do crime organizado", rebateu o candidato do DEM.

Polêmica sobre voz de prisão

Witzel fez críticas às duas gestões de Paes à frente da Prefeitura do Rio. "A PPP [Parceria Público Privada] do Porto Maravilha está em crise. Os BRTs estão sob investigação. Faltou planejamento urbano, o Plano Diretor está sob suspeita, sob investigação e já foi julgado, inclusive, pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral], pela má utilização do dinheiro para fins eleitorais", afirmou o candidato do PSC.

Paes negou as acusações e aproveitou para lembrar vídeo divulgado nesta quarta-feira (6) pela campanha de Witzel, no qual ele dizia que daria voz de prisão ao democrata, caso sofresse injúria em debate.

"O candidato cometeu diversas injúrias, mas fique tranquilo, não vou lhe dar voz de prisão porque não é possível fazer isso. Não sou autoritário e nem frouxo. Enfrento as questões no debate político. Estamos aqui prontos para discutir, todas acusações que o senhor fez", afirmou Paes, fazendo referência a ataque de Romário (Podemos), candidato derrotado ao governo fluminense, a Witzel, chamado de "frouxo" no debate da TV Globo.

O candidato do PSC refutou o rótulo de autoritário, citando sua carreira e magistrado: "não me chame de autoritário porque a minha vida pregressa mostra o quanto eu fui democrático e respeitoso à Constituição e aos princípios do contraditório e do amplo direito de defesa".

Em pergunta sobre mobilidade, Paes prometeu investimentos em novas linhas de BRT, além da incorporação dos trens ao sistema de metrô. Na sua vez de responder, Witzel voltou a atacar o democrata.

"É bom lembrar que, na área de mobilidade urbana, o candidato já se responsabilizou pela queda da ciclovia Tim Maia que matou duas pessoas. Esse tipo de obra a gente não precisa mais", disse.

Crivella foi citado por Paes em ao menos quatro oportunidades. O democrata associou a atual gestão da prefeitura ao fato de Witzel nunca ter concorrido a um cargo eletivo.

"Quando faço a crítica à maneira da gestão, por exemplo, do prefeito Crivella, eu não digo que ele não seja um homem bem-intencionado. Mas não basta isso. Basta, sim, ter capacidade comprovada, experiência, já ter governado, já ter vivido experiências daquilo que a gente diz. Se diz que vai enfrentar a violência, já enfrentou a violência?", afirmou Paes, em seu pronunciamento final.

Defesa dos policiais

Na área de segurança, Paes e Witzel prometeram cuidar pessoalmente da questão da defesa de policiais que sejam processados criminalmente após entrarem em conflito armado com criminosos. A abordagem que eles usaram se assemelha a uma das principais propostas na área da segurança da campanha Bolsonaro.

"Os agentes da lei vão estar sempre protegidos, não só juridicamente, mas pela figura do governador", disse Paes. Witzel foi na mesma linha: "quero garantir ao nosso policial que ele terá uma defesa técnica, vou cuidar pessoalmente disso".

Witzel também defendeu a dissolução de parte das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a incorporação de seu efetivo a batalhões de área para que, com mais policiais, a PM possa chegar mais rápido nas ocorrências de crime.

Paes defendeu, por sua vez, que as polícias atuem usando inteligência, mas também com "força" e de forma "contundente". O ex-prefeito afirmou ainda que quer criar uma corregedoria para as polícias subordinada diretamente ao governador.

Em outro movimento que se assemelha aos passos dados pela campanha de Bolsonaro, Witzel prometeu nomear um almirante da Marinha para gerir a Secretaria de Saúde de seu eventual governo. Ele também disse que construiria no Rio uma rede de colégios militares.

Já Paes defendeu a criação de pasta que chamou de Secretaria de Integridade Pública, que ficaria responsável por contratos do governo. "Vou criar uma 'controladoria turbinada' para usar uma expressão mais compreensiva e convidar alguém da Lava Jato, para ser secretário da Integridade Pública", disse.

Residência oficial

Paes e Witzel também falaram sobre se morariam na residência oficial do governador, caso sejam eleitos.

O candidato do PSC disse que, se for eleito, não usará a residência oficial e continuará morando no Grajaú, na zona norte do Rio. Porém, foi contestado por Paes, que afirmou que o adversário teria pedido ao governador Luiz Fernando Pezão (MDB) para visitar o Palácio das Laranjeiras, a residência oficial.

Witzel negou, afirmando que foi ao local junto com sua família na condição de diretor cultural da Associação dos Juízes Federais. Paes, por sua vez, disse que usaria a residência oficial, pois, atualmente, mora de aluguel.

Veja a íntegra do debate (parte 1)

Veja a íntegra do debate (parte 2)

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