Por Haddad, governador da BA defende buscar apoio em rivais históricos

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • Ricardo Stuckert -9.out.2018/Divulgação

    Haddad se reúne com os governadores eleitos Wellington Dias, Camilo Santana, Rui Costa e Flávio Dino

    Haddad se reúne com os governadores eleitos Wellington Dias, Camilo Santana, Rui Costa e Flávio Dino

Reeleito com mais de 75% dos votos válidos, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), tem uma nova missão nos próximos dias: angariar mais apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) a presidente. Para isso, ele diz que o partido deve "deixar de lado vaidade ou picuinhas partidárias".

Sua grande popularidade na Bahia, aliada à força política do senador eleito Jaques Wagner, fez os dois baianos ganharem grande peso na campanha de Haddad no segundo turno. Wagner passou a integrar a campanha enquanto o governador reforçará o nome do presidenciável pelo Nordeste. Foi Costa, inclusive, um dos articuladores do encontro de Haddad com governadores eleitos do PSB na última quarta-feira (10).

Na Bahia, Haddad foi o candidato mais votado à Presidência no primeiro turno e alcançou 60,28% dos votos válidos, contra 23,41% de Bolsonaro.

A partir desta quinta-feira (11), Costa pretende se reunir com lideranças regionais de partidos que possuem ou não ligação com o PT, entre eles o DEM e o PSDB. "Nós temos que chamar todo mundo. A tarefa de reconstruir e pacificar nosso Brasil não nos permite ter vaidade ou orgulho de não convidar essa ou aquela pessoa porque a filiação partidária dela é desse ou daquele partido", disse em entrevista ao UOL. "Nós temos que colocar em primeiro lugar o interesse da população. E acho que, em primeiro lugar, vale qualquer coisa para salvar o país, e para salvar a democracia no Brasil e para retomar o crescimento do Brasil."

Tem que ser um governo de união nacional, que não pertença a nenhum partido isoladamente. Por isso, cabem todos que queiram ajudar o Brasil a voltar a crescer, a voltar a consolidar uma imagem boa do Brasil no exterior

Rui Costa (PT), governador reeleito da Bahia

Em sua aliança na disputa para se manter no governo da Bahia, Costa tinha partidos que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A lista tem PP, PSD, PR, entre outros. Lideranças locais desses partidos já seriam, naturalmente, procuradas pelo governador para apoiar Haddad no segundo turno. Mas Costa quer procurar também membros de rivais históricos.

"Na minha opinião, não faço restrição a ninguém. Repito: porque eu não quero um governo, um presidente do PT, quero um presidente que faça a união do Brasil, que faça o povo brasileiro melhorar de vida", disse. "Por isso, eu não tenho ciúme de vir alguém do PSDB, alguém do DEM. Acho que nós temos que construir isso. Temos que deixar de lado vaidade ou picuinhas partidárias e colocar o Brasil em primeiro lugar".

Nacionalmente, PSDB e DEM não manifestaram apoio a Haddad. Mas a intenção de Costa é conquistar esse apoio não no atacado, mas no varejo, com lideranças e representantes locais dessas siglas. "Acho que o peso eleitoral da aliança com os partidos será muito pequeno este ano. Acho que o peso vai se dar em cada local no tamanho da liderança."

Para ele, a busca é por "pessoas de bem, independentemente da filiação partidária, porque eu não sou daqueles que acha que só tem gente de bem no PT", comentou. "Então, nós temos que conversar com essas diversas lideranças estaduais, municipais, para trazê-las para a campanha".

Haddad precisa mostrar a personalidade dele, diz Costa

Costa acredita que há pelo menos dois pontos que a campanha de Haddad deverá conduzir a partir de agora. Um deles é tornar a pessoa de Haddad conhecida "porque as pessoas já entenderam que ele é o candidato do Lula". "Ele vai ser o presidente, precisa mostrar a personalidade dele".

O governador baiano acredita ser um erro manter a estratégia de atrelar a imagem de Haddad à de Lula. E o pouco tempo de campanha --o segundo turno será em 28 de outubro-- é preponderante para que se mude o foco. Caso contrário, seria a perda da "oportunidade de mostrar quem ele é".

O desconhecimento sobre a personalidade de Haddad seria um ponto a ser explorado para angariar mais votos, avalia o governador. "Eu diria que o país inteiro sabia ou sabe que ele é o candidato de Lula. Mesmo aqueles que votariam no Lula e não votaram nele. Não votaram porque não conheciam [a personalidade de Haddad]", pontua. "Então, agora, ele precisa capturar esse voto que seria do Lula, ou que não seria e que foi do Ciro [Gomes], do [Geraldo] Alckmin, mostrando como é que ele vai governar. O desafio é esse."

Não saber quem é Haddad pode ter feito os "votos de Lula" serem conquistados por outros candidatos, inclusive o adversário no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL). "Tem pessoas que votaram no Bolsonaro que disseram: 'ah, eu até queria votar no Lula, mas eu não conheço esse Haddad. Então vou votar nesse aqui'. Mas, na medida em que passe a conhecer ele [Haddad], eu acho que tem parte dos votos que foram para Bolsonaro que vão voltar para o Haddad."

Esse é um dos motivos que fazem o governador acreditar que a transferência de votos para Lula não foi completa. E a falta de informação sobre Haddad, o "candidato do Lula", é uma das causas.

Costa quer ajudar o presidenciável a conquistar votos transmitindo a imagem de que Haddad é um "gentleman", um cavalheiro, como lhe disse sua mulher. "Nas palavras de muitas mulheres que ouvi, era o genro que muita mãe deseja para sua filha", brinca.

O governador, porém, teme um governo Bolsonaro, não apenas por questões políticas --ele acredita que a crise perduraria, "patinando por mais quatro anos--, mas familiares. "Não me imagino tendo que explicar para minha filha, quando ela me perguntar, que símbolo é aquele que o presidente faz com as mãos. Eu não quero ter que explicar que aquele é símbolo da morte, da metralhadora, do fuzil, do ódio. Não é esse exemplo que eu quero para minha filha."

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