O que Bolsonaro e Haddad propõem para os professores

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

  • Arte/UOL

Comemorado nesta segunda-feira (15), o Dia do Professor homenageia aqueles que estão envolvidos na prática com o dia a dia do ensino no Brasil. São mais de 2,6 milhões de docentes em todo o país, de acordo com dados dos censos da educação básica e superior de 2017, os mais recentes divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Apesar de serem muitos e de estarem na ponta do processo educacional, os professores se veem, em grande parte, desvalorizados. Apenas um terço (33%) dos professores de educação básica, por exemplo, se dizem totalmente satisfeitos com a atividade docente.

O país também tem dificuldades em atrair jovens para a carreira de professor: só 5% dos brasileiros de 15 anos pensam em dar aulas para os ensinos fundamental e médio.

Propostas específicas para a qualificação e a valorização da carreira docente, no entanto, passaram longe dos holofotes nesta campanha eleitoral.

Desafios para a educação e as eleições

No horário eleitoral gratuito, Fernando Haddad (PT) tem se apresentado como professor universitário, além de lembrar a época em que esteve à frente do MEC (Ministério da Educação), na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "[Haddad] Foi ministro, criou o Prouni, Fies sem fiador e abriu a universidade para todos", diz um locutor em trecho da propaganda que apresenta a biografia do candidato.

Haddad também tem repetido, durante a campanha, que em um eventual governo seu os cidadãos terão "carteira de trabalho assinada em uma mão e um livro na outra", e promete priorizar o ensino médio, revogando a reforma desta etapa do ensino, sancionada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 2017.

Jair Bolsonaro (PSL), que defende a ampliação do modelo militar de ensino no país, com a criação de um colégio militar em cada capital em um prazo de dois anos, afirmou neste sábado (13), em uma publicação no Twitter, que o Brasil "gasta pouco no ensino básico em relação ao superior".

"Vamos priorizar a base, qualificando o ensino para capacitar e formar grandes profissionais no futuro", disse. 

O UOL consultou os programas de governo de Haddad e de Bolsonaro, que disputarão o segundo turno no dia 28 de outubro, para levantar as propostas de cada um dos candidatos para os professores. Os documentos foram registrados junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e podem ser consultados neste link.

Saiba quais são as propostas:

UOL

Jair Bolsonaro

O candidato do PSL defende a contribuição de universidades públicas e privadas na qualificação de alunos e professores nas áreas onde existam carências. Para isso, Bolsonaro diz ser necessário promover uma mudança no sistema educacional brasileiro, de modo que governo federal, estados e municípios "dialoguem" entre si.

"Com base em avaliações técnicas, a integração permitirá diagnósticos precisos, quer no desempenho dos estudantes ou na qualificação dos professores", diz o documento da campanha de Bolsonaro.

O pesselista afirma ainda que existem muitos casos de agressão física e moral contra professores, praticados por pais e alunos dentro das escolas. No texto, é mencionado que a "própria questão de disciplina dentro das escolas" precisa ser revista, mas não há uma proposta concreta quanto a isso.

Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Fernando Haddad

Em seu programa de governo, Haddad promete dar "atenção especial" à valorização e à formação dos professores alfabetizadores. Como parte da proposta, o petista fala em "fortalecimento" do Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), que oferece bolsas para alunos de licenciatura que fizerem estágio em escolas públicas.

Haddad promete implementar uma prova nacional para ingresso na carreira docente. O exame, de acordo com a campanha petista, auxiliaria estados e municípios na realização de concursos públicos para a contratação de professores para a educação básica.

"A prova será realizada anualmente, de forma descentralizada em todo o país, para o ingresso dos candidatos na carreira docente das redes públicas de educação básica. Cada ente federativo poderá decidir pela adesão e pela forma de utilização dos resultados", diz o documento.

Mencionando que cerca de 25% dos professores que atuam na educação básica não possuem formação específica para suas disciplinas, Haddad também propõe a criação de uma política nacional de valorização e qualificação docente, sem especificar quais medidas seriam tomadas.

O candidato promete garantir o piso salarial nacional para os professores e ainda diz que irá "renovar" a UAB (Universidade Aberta do Brasil), sistema das universidades públicas que oferece cursos de nível superior a distância.

"Será reforçada e renovada a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e retomado o projeto Universidade em Rede dos Professores, assegurando o acesso direto dos professores e professoras concursados nas vagas disponíveis e ociosas na rede de Universidades e Institutos Federais de Educação Superior", diz o documento.

CHARLES SHOLL/RAW IMAGE/ESTADÃO CONTEÚDO
Manifestantes contra e a favor do 'Escola Sem Partido' na Câmara de São Paulo em 2017

Escola Sem Partido x Escola com Ciência

Outro tema, que diz respeito diretamente ao trabalho do professor, aparece nos programas de governo dos dois candidatos: a suposta "doutrinação" em sala de aula, contestada pelo projeto de lei "Escola Sem Partido".

Apesar de não citar nominalmente o projeto em seu programa de governo, Bolsonaro diz ser a favor de "mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce" nas escolas.

"Além de mudar o método de gestão, na educação também precisamos revisar e modernizar o conteúdo. Isso inclui a alfabetização, expurgando a ideologia de Paulo Freire", diz um trecho do documento.

Haddad, por outro lado, propõe o "Escola com Ciência e Cultura". "Como contraponto ao Escola Sem Partido, nosso programa propõe a Escola com Ciência e Cultura, transformando as unidades educacionais em espaços de paz, reflexão, investigação científica e criação cultural", diz o plano de governo petista.

"As ações de educação para as relações étnico-raciais e as políticas afirmativas e de valorização da diversidade serão fortalecidas; serão massificadas políticas de educação e cultura em Direitos Humanos, a partir de uma perspectiva não-sexista, não-racista e não-LGBTIfóbica".

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