Haddad ameniza críticas ao PT e diz que é amigo de Cid Gomes

Nathan Lopes, Bernardo Barbosa e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

  • Reprodução

    Cid Gomes critica o PT durante evento no Ceará

    Cid Gomes critica o PT durante evento no Ceará

Apesar das críticas públicas feitas pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) ao PT, o presidenciável do partido, Fernando Haddad (PT), evitou revidar e buscou amenizar as declarações do aliado. "Eu não vou ficar comentando isso, até porque eu tenho uma amizade pessoal com o Cid, ele fez elogios à minha pessoa. Prefiro sempre olhar o lado positivo", disse a jornalistas nesta terça-feira (16) em um hotel na capital paulista.

Em entrevista à rádio Jovem Pan no início da tarde desta terça, Haddad disse que "Ciro e Cid ficaram ressabiados com o PT por razões locais". "Eu sei que não é comigo o problema", comentou, citando ser "muito amigo" dos irmãos. "Entendo essas arestas que têm que ser aparadas, mas meu respeito por eles continua o mesmo. Meu desejo de que eles participem da campanha continua o mesmo. Vamos seguir a vida."

Em ato pró-Haddad em Fortaleza na segunda-feira (15), o irmão do candidato a presidente Ciro Gomes (PDT) disse que o PT vai "perder feio a eleição".

Para Cid, os petistas teriam que pedir desculpas "e reconhecer que fizeram muita besteira". "Os erros que cometeram é para perder a eleição (...) porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país, e o Brasil não aceita ter dono, é um país democrático."

O senador eleito ainda culpou o PT pela performance de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno. "Quem criou Bolsonaro foram essas figuras, que se acham donos da verdade, que acham que podem fazer tudo, que acham que os fins justificam os meios."

Haddad foi questionado se, depois do ocorrido, ainda achava possível um apoio de Ciro. O candidato do PT preferiu não responder.

O senador eleito Jaques Wagner (PT-BA), que integra a coordenação da campanha de Haddad, afirmou não ver impacto das declarações de Cid sobre a campanha e questionou o que seria o "mea culpa" pedido pelo pedetista.

"Mea culpa, o que quer dizer mea culpa? Ele [Haddad] já falou várias vezes dos erros, eu já falei várias vezes dos erros", declarou.

Quando perguntado se Ciro Gomes participaria da campanha de Haddad em algum momento, Wagner afirmou não saber. "Só perguntando para ele", respondeu.

Em ato do PT, irmão de Ciro diz que partido vai perder 'feio' a eleição

Repercussão

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, respaldou nesta terça o desabafo feito por Cid Gomes e disse que as críticas "representam majoritariamente o sentimento da sigla".

À reportagem, um assessor de Ciro Gomes questionou enfaticamente "o que mais o PT quer dele". No momento, qualquer aparição pública do pedetista ao lado de Haddad ou novas demonstrações de apoio explícitas estão descartadas.

"O Ciro já vem declarando ser contra o Bolsonaro desde o primeiro turno, reforçou isso depois do resultado e anunciou o apoio crítico ao Haddad. O PT quer mais o quê? Que o Ciro lamba o chão onde o Haddad pisa?", afirmou o assessor, que pediu anonimato.

Para o grupo de Ciro, o PT é um dos responsáveis pelo surgimento da retórica de Bolsonaro e agora quer "colocar a culpa" nos outros. Se o PT não estivesse no segundo turno, avaliam, o partido não teria a mesma atitude que cobra dos demais.

O assessor do candidato derrotado verbaliza a insatisfação do partido e diz que, durante o primeiro turno, o foco da campanha petista foi bater muito no Ciro em vez de mirar Bolsonaro. "O PT quer que o Ciro suba num palanque e exija a autocrítica também? Acho que não, né?", disse.

Discutiremos relação com os Gomes após eleição, diz deputado do PT 

A fala de Cid gerou críticas do deputado federal reeleito José Guimarães (PT-CE), coordenador da campanha do presidenciável Fernando Haddad (PT) no Ceará. Guimarães considerou um desrespeito as declarações do senador eleito.

"Lamento profundamente a forma desrespeitosa como fomos tratados pelo senador Cid Gomes, o senador em quem o PT votou, ao criticar o PT em um momento inadequado e que só contribuiu para gerar desconfiança e incertezas da nossa vitória", escreveu Guimarães em suas redes sociais. O deputado não estava presente no evento em que Cid criticou o partido.

Cid foi vaiado pelos militantes presentes. Ao ouvi-los entoar o coro com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador eleito os chamou de babacas. "O Lula está preso, babaca. E vai fazer o quê? Babaca, babaca! Isso é o PT, e o PT desse jeito merece perder, só para rimar. É esse sentimento que vai perder a eleição".

Com as declarações do senador eleito, Guimarães, um dos principais expoentes do PT no Ceará, indicou que deverá rever alianças com os irmãos Gomes. "Sobre os nossos legados e parcerias entre o PT e os Ferreira Gomes, discutiremos após o segundo turno. Está na hora mesmo de fazermos um balanço desde 2006 e, se for o caminho da separação, que façamos com respeito mútuo."

Apesar do resultado adverso apresentado pelo último levantamento --segundo o Ibope, Bolsonaro atingiu 59% dos votos válidos contra 41% de Haddad--, Guimarães diz que "a eleição está em aberto". "Vamos para o confronto e apelamos para que todos os democratas se somem ao esforço de derrotar essa direita representada pela candidatura de Bolsonaro."

A direção nacional do PT não se pronunciou a respeito das declarações de Cid. Seu irmão, Ciro, está em viagem pela Europa e deve retornar ao Brasil no fim desta semana. Os petistas ainda esperavam um apoio formal do ex-candidato, que, até o momento, apenas rejeitou a candidatura de Bolsonaro, sem ter manifestado apoio explícito à de Haddad.

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