Haddad busca retomar eleitorado petista e fazer alianças fora da política

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

  • Nelson Almeida/AFP

Com dificuldades para obter apoio público de políticos e partidos, a campanha de Fernando Haddad (PT) busca mobilizar grupos da sociedade civil para ampliar seu alcance no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL). A candidatura petista também deverá intensificar a comunicação direcionada aos moradores de periferias de grandes regiões metropolitanas, que em eleições anteriores deram apoio ao PT.

Nos próximos dias, Haddad deve se reunir com pastores evangélicos, membros da comunidade jurídica, cientistas e artistas. Em paralelo, a comunicação da campanha deve focar, no horário eleitoral e nas redes sociais, assuntos como direitos trabalhistas como forma de tentar retomar o apoio dos moradores do entorno de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

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Um dos exemplos é a Baixada Fluminense, região que abriga cerca de um terço da população do estado do Rio e onde Bolsonaro teve votação acima de 60% em várias cidades. Em 2014, Dilma Rousseff (PT) foi a mais votada no primeiro turno em toda a região, recebendo apoio na casa dos 40%.

Carta a evangélicos

Na frente que busca apoio de grupos organizados, a empreitada de Haddad começa nesta quarta-feira (16), com a reunião com os pastores evangélicos. O encontro deve contar com lideranças de denominações como Assembleia de Deus, Presbiteriana e Batista, e busca aproximar Haddad de um dos segmentos da população em que ele tem larga desvantagem em relação a Bolsonaro, segundo pesquisas de intenção de voto do Ibope e do Datafolha. 

Haddad já reclamou publicamente do efeito que notícias falsas contra ele estariam tendo em tal fatia da população, e a queixa se repetiu em carta do candidato aos evangélicos, publicada nesta terça no site do PT.

Na mensagem, o candidato se declara cristão "de família religiosa" e cita diversos trechos da Bíblia que fazem menção a mentiras. O petista também afirma que não defendeu causas que costumam ser reprovadas por evangélicos, como a legalização do aborto. 

"Nenhum dos nossos governos encaminhou ao Congresso leis inexistentes pelas quais nos atacam: a legalização do aborto, o kit gay, a taxação de templos, a proibição de culto público, a escolha de sexo pelas crianças e outras propostas, pelas quais nos acusam desde 1989, nunca foram efetivadas em tantos anos de governo. Também não constam de meu programa de governo", afirma o candidato na carta.

Juristas, cientistas, reitores e intelectuais

No dia seguinte ao encontro com pastores, Haddad deve receber das mãos de juristas e advogados um manifesto em que mais de mil integrantes da comunidade jurídica tratam o candidato como o único capaz de, no segundo turno, "garantir a continuidade do regime democrático e dos direitos que lhe são inerentes". O grupo declarou apoio ao petista "independentemente de eventuais diferenças programáticas".

Na sexta-feira, será a vez de Haddad se reunir com cientistas e reitores de universidades, em encontro que deve acontecer no Rio de Janeiro. A capital fluminense também deverá sediar uma reunião do candidato com artistas, entre eles nomes que apoiaram outros candidatos no primeiro turno. Um dos exemplos é Caetano Veloso, que estava com Ciro Gomes (PDT).

Haddad também recebeu apoio nesta terça do editor Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras, um dos maiores do mercado editorial brasileiro. Schwarcz se dirigiu a "autores, editores e livreiros" em mensagem na qual disse que o "perfil moderado" de Haddad "permite viver a esperança de que os inúmeros equívocos do PT, em várias áreas, não se repitam".

Para o editor, a candidatura de Bolsonaro "é falsamente nova e é irmã de tempos tenebrosos de nossa vida política e cultural". Schwarcz também alertou para a necessidade de "afastar o grande risco de retroceder décadas em aspectos fundamentais da nossa vida pessoal e profissional".

Dificuldades no meio político

A construção de pontes com grupos fora dos partidos vem em um momento no qual Haddad enfrenta dificuldades de ampliar alianças no meio político. A maioria das legendas manifestou neutralidade no segundo turno, e mesmo nomes que já anunciaram que não votarão em Bolsonaro não declararam voto em Haddad.

O senador eleito Jaques Wagner (PT-BA), incorporado à coordenação da campanha petista no segundo turno, chegou a negar nesta terça a construção de uma "frente democrática" em torno da candidatura de Haddad, ideia que vinha sendo defendida pelo candidato e por aliados desde o fim do primeiro turno.

"A gente conversa com todo mundo, mas não tem ideia de frente", disse.

Mesmo apoios considerados garantidos, como o de Ciro Gomes (PDT), até agora não foram dados de forma clara. Para agravar a situação, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, chegou a aproveitar um ato de apoio a Haddad no Ceará para dizer que o PT vai perder a eleição por não reconhecer seus erros.

"Eu sei que não é comigo o problema", disse Haddad em entrevista à rádio Jovem Pan. "Meu desejo de que eles participem da campanha continua o mesmo. Vamos seguir a vida."

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